ST - Sesso 1 - 16/07/2019 das 14:00 s 18:00 187213
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Berno Logis (UNESP - Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho)
A Revoluo Haitiana como momento privilegiado da construo de uma identidade (1791-1804)
Resumo:Durante a escravido transatlntica da frica para...
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Resumo:Durante a escravido transatlntica da frica para a Amrica, iniciada oficialmente no sculo XVI, a regio caribenha era alvo das principais potncias coloniais europeias da poca e representava o maior interesse da Frana em toda Amrica. Ao longo desse perodo, a metrpole sa era conhecida pelas conquistas realizadas em vrios lugares, especificamente no Novo Mundo, tendo ali inserido milhes de negros escravizados, forados a deixarem o continente africano. Portanto, neste trajeto imposto e dentro de uma diversidade tnica, os escravizados, alm do corpo fsico, carregaram consigo os seus modos de vida, seus costumes e os seus traos culturais. De acordo com Moreau de St Mry (1875), a ilha de So Domingos considerada a primeira colnia onde chegaram os negros escravizados na Amrica e, de fato, tornou-se nos comeos do sculo XVII, oficialmente uma colnia sa. Sendo assim, no decorrer deste sculo, So Domingos destacou-se como a maior e mais prspera colnia da poca, e concentrava, s vsperas da Revoluo sa de 1789, cerca de meio milho de negros escravizados, detinha ainda a quantidade mais elevada de pessoas de cor do Caribe francs. Tal encontro foi o responsvel pela diversidade tnica e cultural constatada atualmente nesta regio. Diante de tais processos, este trabalho objetiva analisar a formao da identidade da dispora africana, visando envolver a migrao e a presena de diferentes grupos africanos nas colnias sas do Novo Mundo, com recorte especfico Ilha de So Domingos, atual Haiti, durante o perodo de 1791 a 1804.
A escolha deste perodo enquadra-se, primeiramente, por ser um recorte nico, o qual trata da emancipao da comunidade negra, assim como um perodo histrico considerado como o ponto de partida que iniciou os movimentos scio-polticos pelo reconhecimento da raa negra no mundo ocidental. A Revoluo de So Domingos de 1791 e a proclamao da independncia no incio do sculo XIX derrubam a hierarquia racial sobre qual era fundado o sistema escravagista, e representam os primeiros atos scio-polticos da populao afrodescendente da Amrica. Como aponta Antnor Firmin (1885), a abolio bem sucedida da escravido feita pelos negros deve servir para a reabilitao da frica e do povo negro, visto que o fato de que os escravizados conseguiram alcanar aquilo que para o pensamento ocidental era impensvel, faz com que o discurso escravista da poca tenha mudado de orientao. Em outras palavras, a Revoluo de So Domingos de 1791 corresponde emergncia da cidadania negra no Novo Mundo, e traz para o pensamento ocidental uma nova viso do ser negro, bem como outro modo de interpretar a frica.
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Clcea Maria Augusto de Miranda (UNILAB - Universidade da Integrao Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira)
Reflexos no outro lado do Atlntico: ecos da abolio da escravido americana nos debates da Junta de Informao na Espanha.
Resumo:Assim como o Brasil, a Espanha, cujas colnias tin...
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Resumo:Assim como o Brasil, a Espanha, cujas colnias tinham a presena da escravido como fonte de mo de obra para as plantaes de acar no Caribe, assistiu Guerra civil americana e ao fim da instituio servil nos Estados Unidos. Igualmente forada a pensar um destino para escravido e para milhares de mulheres e homens escravizados responsveis pela rentvel produo de cana de acar em Cuba e Porto Rico, as elites polticas metropolitana e colonial espanholas se viram no s confrontadas pela presso do abolicionismo internacional, mas tambm pelo evento americano, ando assim a buscarem sadas para resolver a questo servil.
Observaremos o eco da Guerra civil e a repercusso do fim da escravido americana pela perspectiva espanhola no sentido de verificar de que modo a elite poltica daquela metrpole europeia se apropriou do conflito nos Estados Unidos para elaborar as diretrizes sobre a questo servil em Cuba, e de que modo tais respostas se aproximam ou se distanciam daquelas dadas pela elite poltica imperial brasileira. Para tanto, verteremos nosso olhar para as discusses sobre as mudanas istrativas que o governo espanhol pretendeu implantar na ilha de Cuba atravs da criao da Junta de Informao. Criado em 1866, tal rgo estava ligado ao Ministrio de Ultramar e surgiu para tratar das reformas nas possesses ultramarinas espanholas, entre elas o encaminhamento do fim da escravido.
Composta por diferentes correntes polticas das Antilhas, a comisso da Junta de Informao objetivou levar ao conhecimento das autoridades espanholas metropolitanas a proposta de reformas que gerissem o governo da ilha, especialmente no que se refere sua populao do ponto de vista do trabalho e de sua condio social entre outros assuntos.
Os temas em destaque nos debates da comisso giravam em torno do trabalho e da imigrao, o que indicava a preocupao com o fim iminente da escravido. O tema da abolio norte-americana era vez por outra usado como recurso retrico no tratamento das questes relativas mudana do status da populao escravizada.
Tanto o processo de encaminhamento da abolio no Brasil como os resultados da Guerra Civil Americana so contrapontos que influenciaram os discursos que militaram contra e a favor de uma emancipao lenta e gradual conforme defendiam alguns membros da Junta de Informao.
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Flaviane Ribeiro Nascimento (Instituto De Educao, Cincia e Tecnologia da Bahia - IFBA)
As "lides da abolio" e as memrias do abolicionismo (Agreste da Bahia, final do sculo XIX)
Resumo:Em 1897, Filinto Bastos publicou no jornal Dirio ...
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Resumo:Em 1897, Filinto Bastos publicou no jornal Dirio da Bahia, porta-voz do Partido Liberal no Imprio e do Partido Republicano da Bahia, a biografia do mdico Remdios Monteiro, residente em Feira de Santana desde 1879, na qual conta a histria de um movimento abolicionista feirense por meio da trajetria do mdico, a quem ele teria se juntado nas lides da abolio. Bastos era, ento, um renomado filho da Feira, que havia ocupado cargos de promotor e de juiz em diferentes comarcas durante o Imprio e na Repblica foi alado a desembargador do Tribunal de Apelao. Pouco mais de um ano depois da primeira publicao da biografia, ele tornou a public-la na Revista do Instituto Geogrfico e Histrico da Bahia, do qual era membro. A vinculao de homens do Direito, mdicos, jornalistas e poetas ao movimento abolicionista, notadamente durante a crise do escravismo, fato apontado pela historiografia. Nessa comunicao, no entanto, buscarei identificar alguns nomes desse movimento, dito abolicionista, na regio de Feira de Santana, seus projetos polticos e as memrias desse abolicionismo - muitas vezes narradas pelos prprios -, bem como suas repercusses em relao ao projeto emancipacionista estatal e na Repblica. Nesse sentido, pretendo identificar os envolvimentos desses sujeitos em aes concretas de enfretamento Escravido, sejam nas barras dos tribunais ou em outras arenas, a fim de localiz-los no mbito dos projetos que encaminhavam o processo de libertao do elemento servil no final do sculo XIX, fosse apenas um movimento antiescravista, emancipacionista ou, efetivamente, abolicionista, consoante, respectivamente, s idias contrrias a escravido, poltica de abolio gradual do Estado e defesa da abolio completa. Do outro lado, por meio de aes cveis de liberdade, buscarei identificar como libertanda(o)s e escravizada(o)s pretenderam e realizaram expectativas de liberdade nesse contexto e no dilogo com esses sujeitos e seus horizontes sociais e polticos. Pretendo, portanto, uma reflexo sobre a sociedade civil antiescravista luz da experincia e memrias da abolio, alinhamentos poltico-partidrios e suas reverberaes no ps-abolio e na Repblica.
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Juliano Custdio Sobrinho (Universidade Nove de Julho)
Os discursos presbiterianos no contexto da abolio no Brasil
Resumo:As mais recentes pesquisas sobre a abolio vm ap...
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Resumo:As mais recentes pesquisas sobre a abolio vm apontando um processo multifacetado e complexo, que no pode ser entendido apenas pelo simblico 13 de maio de 1888. Tais estudos consideram a participao de diferentes agentes que, a sua maneira, produziram distintas e inmeras aes de ativismo contra o cativeiro. Partindo de uma problematizao sobre o discurso religioso e os ideais abolicionistas, a comunicao pretende apontar a participao presbiteriana, oriunda das aes missionrias norte-americanas, nos enredos abolicionistas que se deram em Minas Gerais, entre 1886 a 1888, perodo em que as movimentaes sociais ficaram mais agitadas e decisivas em todo o pas. Iniciada em 1865, as primeiras misses dos presbiterianos no Brasil formaram grupos no interior de So Paulo, consequentemente, a nova f atravessou divisas e chegou ao sul de Minas Gerais, onde converteu muitos fieis. Aqueles agentes da f tentaram defender suas ideologias, interesses pessoais e religiosos, ao mesmo tempo que buscavam se inserir nos setores mdios que despontavam nos anos derradeiros do Imprio. Como desdobramento da tese de doutoramento, esta comunicao tambm pretende ensaiar algumas consideraes sobre a anlise do peridico Imprensa Evanglica, que circulou entre 1864 e 1892, a fim de atender aos interesses doutrinrios e posicionar os fiis sobre os diversos assuntos daquele contexto, inclusive os rumos que o abolicionismo tomava no pas. A princpio, o jornal foi produzido no Rio de Janeiro por missionrios norte-americanos, mas em pouco tempo contou com a participao de convertidos brasileiros entre os seus articulistas. Especialmente para os ltimos anos da dcada de 1880, o Imprensa dedicou suas pginas para debater os possveis cenrios abolicionistas que estavam sendo construdos. Embora em fase inicial, a anlise documental que ora nos debruamos corrobora para o entendimento de um processo de abolio brasileiro que contou com grande arsenal de luta, em que as inspiraes religiosas tambm motivaram certos grupos a investirem a favor de suas convices. No rastro desses discursos e trajetrias realizados por religiosos, pretendemos apresentar uma reflexo sobre as relaes entre o protestantismo e o abolicionismo nos anos derradeiros da escravido no Brasil.
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Leticia Gregrio Canelas (Departamento de Histria - USP)
Maternidade, alforria e direito no Caribe Francs: experincias e questes sobre gnero e escravido no Mundo Atlntico (sculo XIX)
Resumo:O objetivo desta comunicao apresentar uma anl...
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Resumo:O objetivo desta comunicao apresentar uma anlise sobre as relaes entre maternidade e conquista da liberdade a partir de estudos de casos que envolveram, sobretudo, mes e filhos afrodescendentes escravizados nas Antilhas sas (Martinica e Guadalupe), nas ltimas dcadas do escravismo francs. O perodo da Monarquia de Julho (1830-1848) foi marcado por um evento ainda pouco estudado pela historiografia. Comparado a qualquer outro momento da histria da escravido e do colonialismo francs, a utilizao do sistema jurdico e judicirio pelas pessoas escravizadas foi uma completa inovao, especialmente em processos de liberdade. Neste sentido, os casos mais emblemticos foram aqueles de mulheres que procuraram as arenas jurdicas para conquistarem suas alforrias e de seus filhos. A exposio se centrar, principalmente, em aes de liberdade julgadas nos tribunais da Frana metropolitana na dcada de 1840, e que marcaram uma mudana na jurisprudncia acerca da interpretao do artigo 47 do Cdigo Negro, que tratava a questo da separao de famlias escravizadas por meio de atos de alienao da propriedade escrava. O Cdigo Negro era um antigo conjunto de leis sas escravistas, promulgado em 1685, do qual algumas normas ainda estavam em vigor nos ltimos anos de escravido no Caribe Francs.
As mes escravizadas e libertas tiveram um papel fundamental nos processos de liberdade delas e de suas famlias, imprimindo mudanas importantes sobre questes em torno da alforria, das relaes entre senhores e escravos e da percepo das pessoas escravizadas acerca da nova ordem poltica e jurdica do perodo da Monarquia de Julho. Ademais, observa-se a importncia de suas redes de relaes com pessoas livres e libertas e o papel fundamental exercido por curadores e advogados, nas colnias e na metrpole. Acerca destes, destaca-se que as fontes analisadas so reprodues de parte dos processos que tramitaram nos tribunais na Frana, publicadas pelo advogado abolicionista Adolphe Gatine, em seu esforo em divulgar os resultados sobre a mudana na jurisprudncia, baseando-se em casos nos quais ele atuou. Seu objetivo era ampliar o o liberdade a partir de processos que utilizassem o princpio da indivisibilidade para defender o direito alforria das famlias escravizadas e libertandas sobretudo mes e filhos separadas por atos de transferncia de bens.
O estudo desses processos visa demonstrar e analisar como as experincias e relaes de maternidade escrava se entrelaaram com os significados da conquista da alforria nos ltimos anos do sistema escravista nas Antilhas sas. Desse modo, pretende-se contribuir com debates sobre gnero e escravido nas Amricas e no Caribe.
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Luciana da Cruz Brito (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECONCAVO DA BAHIA)
Raa, liberdade e escravido no Brasil sob o olhar de Frederick Douglass
Resumo:Frederick Douglass uma das mais importantes pers...
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Resumo:Frederick Douglass uma das mais importantes personalidades negras estadunidenses do sculo XIX. Como abolicionista fundamental na luta pela liberdade, igualdade e cidadania, ele estava atento realidade do seu pas, mas sempre de uma forma conectada ao contexto poltico mundial. Para ele, os povos negros tinham especificidades, entretanto a condio de cativeiro e retirada do continente africano, fazia desses povos unidos por uma identidade comum, que potencialmente seria uma importante arma politica em prol da igualdade.
Douglass levou o Brasil pela primeira vez para as pginas do seu jornal, o The North Star, j em 1849. No artigo Blacks in Brazil, podemos perceber a crena de uma das ideias mais comuns sobre a sociedade brasileira, que era a noo de que o Imprio, ainda que fosse escravista, no nutria preconceitos de cor, como nos Estados Unidos.
O estado social da populao brasileira no marcado pela distino de cor, to imperativa em outro pas na produo de classes. No Brasil s existe distino entre liberdade e servido. Os negros tem o a tudo, e esto em posse de muitos cargos de honra e confiana, e engajados em todos os departamentos de negcios.
Outro tema muito caro a Frederick Douglass, e que fazia com que o Brasil fosse utilizado por ele como um exemplo importante, era a mistura racial. Praticada sem impedimentos legais, a amalgamao, forma como a miscigenao era chamada at 1863, era entendida um indcio da falta de preconceito racial no Imprio brasileiro. A ausncia de segregao racial nas leis imperiais brasileiras, fez o pas voltar s paginas da imprensa negra estadunidense em 1852, novamente atravs de Frederick Douglass, dessa vez no seu jornal, o The Frederick Douglass Paper.
Neste pas (o Brasil), a mistura de raas e a mistura de cores j fez muito para nivelar este impedimento com a aceitao da emancipao.
O exemplo brasileiro tambm servia para questionar a suposta inferioridade intelectual dos chamados mulatos, e a ascenso social dos mesmos era um indcio disso.
Nesta apresentao analisaremos os artigos e discursos escritos por Frederick Douglass para entender suas interpretaes do cativeiro, da vida dos libertos e sobre as relaes raciais no Brasil escravista. Atravs destes textos publicados em jornais, cruzados com informaes da sua autobiografia e outras obras que escreveu, debateremos como determinada leitura das relaes raciais no Brasil Imprio eram apropriaes habilmente utilizadas por Douglass na campanha abolicionista dos Estados Unidos.
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Luiz Gustavo Santos Cota (Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)/Faculdade Dinmica do Vale do Piranga (FADIP))
Negros, feiticeiros e pernsticos: escravido, racismo e luta pela liberdade nos jornais mineiros na dcada da abolio.
Resumo:Para os membros da Repblica das Letras, muitas ...
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Resumo:Para os membros da Repblica das Letras, muitas vezes encastelados em jornais, eram eles os grandes responsveis por guiar os os do povo em seu processo educao. Na dcada de 1880, a partir das pginas da imprensa da ento provncia de Minas Gerais, falando especialmente aos senhores de escravos e no a estes, os articulistas se esforavam para demonstrar a necessidade de extinguir-se a "mcula escravista" recorrendo, muitas vezes, a descries pormenorizadas dos males causados pela escravido, ou mesmo daquilo que julgaram ser os defeitos da "raa miseranda".
Neste jogo ambguo, que envolvia a divulgao de atos pblicos e teatrais de concesso de alforrias, elite letrada e senhores escravistas se esmeravam na divulgao da "ddiva da liberdade", esperando que o boca a boca das ruas e outros espaos da vida cotidiana levassem aos escravizados a ideia de que deveriam ofertar, em busca de tal ddiva, sua obedincia, submisso e trabalho. Esqueceram, porm, que, do outro lado, tal "ladainha" ganhava interpretao prpria. Pessoas escravizadas utilizaram sua prpria tica para re-significar os mais moderados reclames pela abolio, sofisticando suas estratgias de resistncia e luta pela liberdade. Pelo boca a boca, pelas leituras pblicas ou outras facetas da rede de informaes oitocentista, o noticirio, carregado de dados sobre fugas, de perto ou mesmo de longe, de revoltas, de aes cveis, poderiam servir para pressionar os senhores escravistas a optarem pela alforria, fora a constante e incessante negociao, tecida agora em tempos cada vez mais "nervosos", mesmo entre os limites da supostamente tranquila Minas Gerais.
Em meio ao intricado quadro de disputas entre escravido e liberdade, a populao negra seguia fustigada pela ambiguidade impressa, oscilante entre a denncia da violncia da escravido e seus efeitos sobre a populao livre, de um lado, e as crticas ndole e suposta inferioridade da populao negra, de outro. Taxados de feiticeiros, pernsticos ou inimigos da civilizao e dos bons costumes, negros e negras (escravizados ou no) foram alvo de todas as faces do racismo, incluindo-se a perseguio religiosa, as prticas de cura, a negao de sua intelectualidade ou ainda a violncia contra sua sexualidade.
O presente trabalho tem como objetivo central discutir a presena o discurso racial presente na imprensa mineira no contexto da abolio, destacando, por outro lado, a resistncia de negros e negras ao racismo e prpria escravido.
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Willian Robson Soares Lucindo (SMESP)
Entre Solenidades Cvicas e Zabumbas de Sambas: uma breve anlise das festas da redeno dos libertos
Resumo:Com entusiasmo e jbilo, Campinas recebera a ide...
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Resumo:Com entusiasmo e jbilo, Campinas recebera a ideia de criar comisses responsveis por angariar donativos e preparar a festa pelo fim da escravido (A Provncia de S. Paulo, 12 mai. 1888). Para o sbado, dia 12 de maio, as redaes dos jornais mandaram colocar girandolas porta de seus edifcios para serem queimadas assim que soubessem que o projeto de lei fosse aprovado no Senado, e iniciar a grande procisso cvica (A Provncia de S. Paulo, 13 mai. 1888). No dia 13, apesar do mau tempo, notava-se na cidade um movimento anormal, a cidade fora enfeitada por grupos de cidados cnscios de que a urea lei seria sancionada e muitos ex-escravos, que procuravam contribuir com seu modesto contingente. Campinas estava festiva e alegre, vestida das galas necessrias para receber a grata notcia (Gazeta de Campinas, 16 mai. 1888).
A massa de povo afluiu praa Jos Bonifcio at os foguetes estourarem por volta das 14 horas, era o sinal que a ptria estava emancipada da escravido. Em jbilo popular, dava-se vivas nao brasileira, provncia de So Paulo, ao patritico gabinete 10 de Maro, princesa regente, ptria livre. O prstito parou em frente aos edifcios da imprensa para ouvir seus oradores. s 5 horas da tarde fora interrompida comemorao, contudo, muitos ex-escravos, esparsos pelas ruas, expandiram-se e continuaram a dar vivas aos abolicionistas. Os festejos da comisso voltaram por volta das 19 horas, quando era possvel ver a deslumbrante iluminao a gs. As celebraes continuaram na segunda-feira. Desta vez, a Banda Italiana encabeou a caminhada a Banda Italiana, seguida de uma comisso de libertos, atrs delas estavam as sociedades particulares. As associaes Luiz Gama e Flor da Mocidade, composta de libertos, encontraram com a marcha na rua Doutor Quirino. O cortejo acabou noite, aps discursos, missas e msicas, reinando sempre a melhor ordem. Alguns ex-escravos continuaram a percorrer as ruas em entusisticos vivas e muitos pretos com zabumbas () at alta noite estiveram em sambas, (Ibidem).
Os libertos fizeram outras duas festas pblicas no dia 20 de maio. Uma organizada pelas associaes Filhos de Averno, Luiz Gama e Flor da Mocidade e um samba que ou da meia noite. A inteno deste trabalho analisar as festas de 13 maio de Campinas e Piracicaba, atentando para as disputas de memrias e tentativas de participaes polticas dos negros existentes nesses eventos. Observar que, enquanto jornalistas e polticos enquadravam as festas populares e buscavam ensinar como festejar e quais os heris glorificar, as populaes negras almejavam ser protagonistas, mesmo entre os homens de cor que participavam do mundo associativo e seguiam a prtica de solenidades.
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ST - Sesso 2 - 17/07/2019 das 14:00 s 18:00 1e5t6h
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Ana Flvia Magalhes Pinto (Universidade de Braslia (UnB))
Em defesa da raa latina e pela excluso da populao negra apontamentos sobre projetos de imigrao de trabalhadores de Porto Rico para o Brasil nos anos 1890
Resumo:Esta comunicao tem como objeto os debates e as r...
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Resumo:Esta comunicao tem como objeto os debates e as resolues acerca do contedo do Projeto n. 48, apresentado Cmara Legislativa do Estado de So Paulo em 1892, pelo deputado lvaro de Carvalho, a fim de promover a imigrao de trabalhadores porto-riquenhos para terras brasileiras. No incio da dcada de 1890, ao o que as estimativas apontavam o Brasil como lder na produo de caf no mundo, as ilhas de Porto Rico e Cuba, dispondo de rea bem menor, ocupavam a quarta posio no ranking. lvaro de Carvalho, jovem advogado e deputado em seu primeiro mandato, atento a este fato, bem como previdente quanto aos riscos da introduo quase que unicamente de um elemento colonizador, formulou a proposta que previa a intermediao da Sociedade Promotora de Imigrao para o ingresso de 40 mil colonos naturais de Porto Rico na indstria agrcola do estado. A esse respeito, apoiadores do projeto, como Arthur Prado de Queiroz Telles, neto do primeiro Baro de Jundia, consideravam uma vantagem a vinda de 20 a 30 mil famlias de bons cultivadores de caf, fumo e acar, sem nenhum dos perigos de aclimatao e com as virtudes da raa latina. Alm da proximidade em relao ao clima e cultura agrcola, a identidade de raa entre a populao local dos dois lugares seria um ponto positivo. Os opositores, no entanto, se incomodavam com o fato de que entre os habitantes daquela ilha, contavam-se pretos e homens de cor. Para contornar o problema, uma soluo seria usar os meios de vedar a entrada em nosso pas dessa pequena parte da populao de Porto Rico, sem que esse fato impea a introduo de imigrantes descendentes de brancos de origem europeia. Alegava-se ainda que: A populao negra de Porto Rico [...] no aquela mesma que pode nos causar terrores, porquanto no a populao negra africana. Aps algumas rodadas de discusso em 1892, a proposta foi emendada e retirada a referncia direta aos trabalhadores porto-riquenhos. O debate foi retomado em 1895, em projeto encaminhado pela Comisso de Agricultura, Colonizao e Imigrao. Dessa vez, inclua-se uma ampla lista de pases europeus e americanos. Para o ltimo caso, previam-se canadenses de Quebec e cidados de Porto Rico. Ao ser feita a discusso, mais uma vez houve ressalva a Porto Rico, a fim de que se fizesse a excluso dos homens de cor. De tal sorte, em dilogo com pesquisas desenvolvidas no mbito da histria transnacional e da dispora negra, com foco nas experincias de liberdade e cidadania, esses dois projetos so utilizados nesta comunicao como linhas condutoras para a sistematizao de uma reflexo sobre racializao, racismo, identidade nacional e mercado de trabalho no ps-abolio, no mundo atlntico da segunda metade do sculo XIX.
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Bethania Santos Pereira
Uma nao em construo: trabalho livre e soberania no Haiti (1826 -1843)
Resumo:Depois de 1826, o trabalho rural livre no Haiti pa...
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Resumo:Depois de 1826, o trabalho rural livre no Haiti ou a ser controlado por uma legislao especfica e indita na repblica. Assinado pelo presidente Jean-Pierre Boyer aps aprovao unnime no Senado, o Cdigo Rural tornou-se referncia para toda a organizao do trabalho no campo. Ele estabelecia as regras para formas de contratao e de pagamento dos trabalhadores e diviso da mo-de-obra. Porm, alm de legislar sobre as relaes de trabalho, os artigos do Cdigo Rural alcanaram outras dimenses da vida do trabalhador: a ele era vetada a prtica do comrcio, a circulao entre as cidades dependia de autorizao dos comandantes de cada distrito, as festas s poderiam ser realizada em horrios especficos e a vigilncia constante da Polcia Rural fazia com que uma disciplina militar fosse presente nas relaes de trabalho. Alm disso, o Cdigo era muito claro em estabelecer a compulsoriedade do trabalho como forma de incorporao dos marginalizados dentro de uma lgica de trabalho que era rejeitada pelos prprios trabalhadores. O ambiente de constante disputa em torno dos significados da liberdade, diferente para trabalhadores e para o Estado, tornou difcil a completa execuo do Cdigo mas, isso no diminuiu as tentativas de Boyer de efetivar as prticas do cdigo durante todo o seu governo.
Assim, essa comunicao tem como objetivo apresentar alguns dos artigos do Cdigo Rural medida em que ele reflete as articulaes do governo para o que era definido como trabalho livre e quais as conexes com as estratgias de manuteno da soberania haitiana. Sendo o primeiro pas independente atravs de uma revoluo organizada por negros livres e escravizados, o Haiti teve de lidar com a hostilidade de um mundo ainda sob o regime da escravido e se proteger em um Caribe dominado por quatro diferentes imprios europeus. Com uma seleo de diferentes fontes documentais, como peridicos, comunicaes oficiais do presidente, relatos de viajantes e livros de memrias de polticos haitianos do perodo, pretende-se compreender quais discursos justificavam a existncia desse conjunto de leis. Assim, parte-se do pressuposto de que a abolio da escravido, declarada ainda em 1793 pelo governo francs, no foi suficiente, mesmo aps duas dcadas de independncia, para garantir o o cidadania por parte dos trabalhadores rurais. Porm, mais do que apontar uma possvel continuidade entre o perodo colonial e o sculo XIX, pretende-se demonstrar como a legislao haitiana para o trabalho livre informava e estava sendo informada pelas discusses abolicionistas do perodo e os possveis dilogos com sujeitos preocupados com o fim da escravido no Caribe.
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Elias Alfama Vaz Moniz (UFBA - Universidade Federal da Bahia)
Prticas que no se calam: indcios dememrias silenciadas em embates culturais em Cabo Verde
Resumo:No entendimento de que grupos sociais originrios ...
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Resumo:No entendimento de que grupos sociais originrios de narrativas orais interagem com a natureza em modos diferentes dos grupos experimentados em tradies de cultura escrita, enfatizamos, neste estudo, o corpo campo de interposies entre saberes e universo - como repositrio dinmico porque este, especialmente quando a relao com a escrita e o livro no geral, pode evidenciar uma profundidade por vezes inimaginvel . Como justaposio de mpetos e potncias, na interaco de tudo o que lhes antecedeu, corpos africanos instituem-se em conexes de mundos natural e sobrenatural, vivenciando interposies entre universos material e imaterial de sua harmonia csmica. Intangveis ao entendimento de saberes cartesianos - que fragmentaram o mundo -, corpos, usos e costumes africanos foram desacreditados e desumanizados na disseminao de uma cultura de escrita, da cincia e da tecnologia com respaldo da modernidade capitalista.
Contrariando perspectivas cartesianas, apreendemos o corpo como alicerce de culturas de narrativas orais e literatura de folhetos como reunio de idiossincrasias ibricas com clebres embates africanos. Em folhetos de literatura oral captamos conjugaes de tradies verbais/transcritas/figurativas, em relatos de proezas de animais similares a cantorias arroladas desde fins do sculo XVIII. Acompanhando elucidaes compiladas por cronistas, folcloristas, literatos, tramas remetem a cantadores que enfrentaram em poesias de improviso, em duelos onde trovadores e cantadores assumiam atributos de temerosos animais ou realavam a exaltao do animal.
Articulando antigos usos, costumes e prticas a experincias de escravido, narradores de distintas dinmicas temporais gravaram em melopeias e folganas proposies sobre o lobo, a lebre, a cabra, o hipoptamo, o boi, etc, que se movem em imaginrios cabo-verdianos, ocultadas pelas foradas labutas de nossos povos e culturas. Forjadas oralmente, na complexa e movente relao oral/escrito , distintas manifestaes possibilitam surpreender a longevidade e a extenso dos enfrentamentos resultantes de exerccios de escravizao de africanos transaccionados em portos das fricas e Amricas.
Seus usos, prticas e costumes, deslocados para campos populares, vagamente absorvidos em literatura de folhetos, chegaram aos nossos tempos e espaos (re) definidos na aquisio de outros alicerces. Poetas, editores remodelaram, em versos metrificados, reminiscncias vocalizadas do tempo em que os bichos falavam, sentavam mesa para comer, danavam, casavam, assombravam. Retratam histrias de embates culturais ocorridos em regies para onde foram encaminhados povos africanos, onde se fundaram disporas africanas. O boi Blimundo nosso no estudo enfoque, entre os folhetos sobre o mundo animal.
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Geisa Loureno Ribeiro (INTITUTO FEDERAL DO ESPRITO SANTO)
"Um sonho impossvel": "A transio do trabalho servil para o trabalho do homem" nos jornais do sul do Esprito Santo (1885-1888)
Resumo:Nos anos finais da escravido, o reduto da grande ...
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Resumo:Nos anos finais da escravido, o reduto da grande lavoura do Esprito Santo, isto , a rica regio sul da provncia, cuja colonizao intensificou-se a partir de meados do sculo XIX aps o surto cafeeiro, possua dois jornais. O Cachoeirano, o mais antigo deles, iniciou suas atividades na dcada de 1870 e ultraaria os primeiros decnios do regime republicano pelo qual se inclinava desde o Imprio. Apresentado ao pblico como rgo do povo, na ltima dcada do regime escravista foi redefinido como rgo imparcial. J O Constitucional, autodeclarado rgo do Partido Conservador, de vida bem mais efmera e tendncia monarquista, iniciou suas atividades em 1885 e as encerrou no alvorecer da Repblica, em 1889. Embora estivessem em campos polticos distintos, as duas publicaes dominicais destacaram em suas edies do dia 20 de maio de 1888 a abolio da escravido no Brasil em curioso e semelhante tom comemorativo do glorioso e pacfico ato. Entretanto, a leitura atenta das edies dos anos anteriores de ambos os jornais e, at mesmo, dos prprios nmeros comemorativos, oferece uma viso distinta sobre o 13 de Maio e os eventos e pessoas a ele relacionados. A anlise de contedo, guiada por Laurence Bardin, permite perceber que a alegria pela realizao de um sonho impossvel conflitou com os temores e preocupaes em relao transio do trabalho servil para o trabalho do homem e, mais ainda, com um esforo para retardar o mximo possvel tal transio. O sul do Esprito Santo com destaque para o municpio cafeeiro de Cachoeiro de Itapemirim era a regio mais rica da provncia e tambm a mais dependente da mo de obra escrava. Alis, em parte, graas atrao exercida pela zona cafeeira, a provncia capixaba aumentou sua populao escrava nas dcadas seguintes ao fim do trfico Atlntico de forma espetacular, alcanando o segundo lugar em concentrao cativa do Brasil em 1872. Embora tais dados sejam significativos, necessrio reconhecer que as grandes fazendas cafeeiras do Esprito Santo no alcanaram o mesmo dinamismo observado no Rio de Janeiro ou So Paulo. Contudo, longe de inviabilizar a regio para a pesquisa, as caractersticas locais tornam-na espao privilegiado para o estudo do processo de abolio da escravido brasileira. A anlise de O Constitucional e de O Cachoeirano, de posicionamentos polticos distintos, ajuda a compreender no apenas a viso das elites que usavam tais veculos para expor suas preocupaes e defender seus projetos nos anos finais da escravido, mas tambm permite, ainda que indiretamente, apreender a ao dos trabalhadores escravizados, isto , dos sujeitos mais interessados na discusso e na transformao do regime escravista que, de formas variadas, fizeram suas vozes serem ouvidas.
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Jssica Catharine Barbosa de Carvalho (UFPI)
A travessia transatlntica nas literaturas de Maria Firmina dos Reis e Eliana Alves Cruz
Resumo:A temtica da travessia atlntica vem gerando ques...
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Resumo:A temtica da travessia atlntica vem gerando questionamentos e possibilidades interpretativas mais amplas especialmente aps a publicao do livro O Atlntico negro (1993), de Paul Gilroy, no qual o terico menciona o momento da travessia, bem como o (des)encontro de culturas e histrias, para a origem de vertentes de nossa modernidade. Apropriando-nos da perspectiva de Gilroy, entendemos a travessia no como apagamento de histrias e culturas, mas como o momento de origem de novas prticas e formaes culturais de resistncia. Percebermos o navio negreiro como um sistema vivo formado por aes micropolticas, como o local de deslocamento entre frica e Amrica e como espao de (re)significao de identidade cultural.
Assim, por meio da obra de Gilroy, o Atlntico pode ser visto pelo vis das prticas culturais geradas no interior dos negreiros e a memria formada a partir da experincia de desapossamento. O Oceano pode ser compreendido como o cemitrio de corpos negros que no sobreviveram viagem, como tambm pode ser visto como lugar de memria daqueles que sobreviveram e ressignificaram suas existncias, ainda que suas histrias, em sua maioria, no tenham chegado at ns.
nesse sentido que se pode depreender a importncia da literatura para a reconstruo ficcional desses momentos da histria, como uma tentativa de sensibilizao e reflexo. Na literatura brasileira podem ser citadas Maria Firmina dos Reis, com o romance rsula, alm da atuao da prpria escritora contra a escravido por meio da literatura no sculo XIX e, mais recentemente, Eliana Alves Cruz, com O Crime do Cais do Valongo, entre outras(os) escritoras(es) que tematizaram o momento da travessia transatlntica. As duas narrativas focalizam o poro do navio negreiro, as violncias, as resistncias e as trocas culturais no interior das embarcaes. Tendo isso em vista, neste trabalho analisamos essa temtica nas obras dessas autoras, buscando compreender os sentidos possveis evocados pela narrao da travessia, observando especialmente os significados da memria e seu uso como prtica de resistncia.
Como aporte terico, utilizamo-nos dos estudos de Angela Davis (2018), Miriam Alves (2010), Paul Gilroy (1993), douard Glissant (2005), Achille Mbembe (2014), Joaze Bernadino-Costa (2016), entre outros, que contribuem para a reflexo acerca do perodo da escravizao negra no Brasil e, de maneira geral, no contexto Americano. A metodologia de investigao centrada na anlise da obra literria e na sua relao com o referencial terico apresentado.
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Maria Roseane Correa Pinto Lima (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR)
Ps-abolio no Mundo Atlntico entre experincias da dispora na capital do Par e o ensino de Histria: os negros barbadianos
Resumo:As migraes na virada do sculo XIX para o sculo...
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Resumo:As migraes na virada do sculo XIX para o sculo XX esto entre os fenmenos que marcaram o ps-abolio no Mundo Atlntico, a partir das quais possvel discutir variados aspectos das relaes entre Amricas, frica e Europa. A Amaznia brasileira, nesse perodo, foi uma das reas de atrao de uma gama variada de migrantes em busca de trabalho e/ou melhores condies de vida, muitos dos quais vindos do Caribe. O objetivo deste trabalho o de analisar as experincias de mulheres e homens negros que viveram a dispora que ligou dois portos, o de Bridgetown, em Bardados, e o de Belm, no Brasil. Ao mesmo tempo, discutir como tais experincias nos possibilitam ampliar os debates sobre os negros tensionando vises construdas sobre os mesmos no ensino de Histria, focalizando retratos da capital do Par no contexto de crescimento econmico com o comrcio da borracha na regio amaznica. Realizamos levantamento bibliogrfico e pesquisa histrico-documental sobre essa imigrao de negros para o Brasil, atentos para o fenmeno mais amplo de migraes de trabalhadores que envolveu todos os continentes e, internamente, os dilemas do ps-abolio no pas, entre polticas para atrair trabalhadores e para promover o branqueamento do povo brasileiro. Do mesmo modo, atentou-se para as produes historiogrficas sobre os impactos da economia gomfera sobre a Amaznia, que impulsionou a entrada de capitais, inclusive para o desenvolvimentos de obras de infra-estrutura e comunicaes que demandaram trabalhadores de muitos pases. A pesquisa utilizou os peridicos publicados no Par no comeo do sculo XX, mais precisamente alguns jornais dirios, visualizando as barbadianas e os barbadianos no cenrio de Belm, entre os desafios de ser negro e estrangeiro, buscando trabalho, moradia e formas de sobrevivncia, mas tambm tecendo relaes e enredando sociabilidades. Os resultados demonstram que nas fontes analisadas (os jornais) os barbadianos so mencionados nas sees que trazem fatos diversos e alvejam os populares em meio aos dramas sociais cotidianos, entre casos de polcia, desavenas nas ruas ou habitaes que juntavam os mais pobres e imigrantes (como as estncias), em meio desordem e entre os indesejados na capital que vivia um momento de grande efervescncia econmica e cultural, com o boom da borracha. A imagem que constroem dos imigrantes negros destoa das construdas pelos filtros da memria dos descendentes e de muitos antigos moradores da cidade. Ao mesmo tempo, tais experincias suscitam outros olhares sobre a Belle poque e a visibilidade dos negros no pas na historiografia e no ensino de Histria.
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Max Fabiano Rodrigues de Oliveira (UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)
Escravos, libertos e seus descendentes: Migraes e trajetrias familiares no ps-abolio na Baixada Fluminense. (1870 -1930)
Resumo:Esta proposta busca analisar a trajetria de faml...
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Resumo:Esta proposta busca analisar a trajetria de famlias negras no Brasil no perodo que compreende o final da escravido e o incio do ps-abolio na cidade de Itagua, Rio de Janeiro. Nosso objetivo compreender neste processo, conexes com outras sociedades ps-emancipao. Percebendo que elementos as trajetrias destas famlias se conecta com outras realidades. Atravs de uma anlise transnacional comparativa com estudos sobre a famlia negra no ps-abolio em sociedades que vivenciaram a "transio" do trabalho escravo para o livre.
importante observar o processo do fim da escravido brasileira sob uma perspectiva macroeconmica que envolva uma anlise transnacional que influenciou processos locais. Eric Foner, por exemplo, sugere que a elite nacional brasileira pode ter aprendido com o processo Norte Americano de abolio da escravido, para aplicar formas de controle da mo de obra no ps-abolio. Portanto, importante uma anlise transnacional com estudos sobre trajetrias da populao negra em sociedades que viveram a escravido como um dos elementos principais de sua formao como nao e como essa populao vivenciou o perodo de ps-emancipao.
Como os conceitos de famlia podiam ser usados para a criao de laos sociais que visavam uma ajuda mtua entre a populao negra escrava e no perodo do ps-abolio? Quais foram os desafios enfrentados por essa populao no processo em que conquistaram a sua liberdade, ao mesmo tempo em que a condio de livre no os assegurava, necessariamente, uma real possibilidade de gerir suas prprias vidas no mundo do trabalho. De que maneira leis coercitivas tentavam impedir o o a terra, empurrado essa populao para um processo de proletarizao? Que papel representou a famlia e, principalmente, qual o conceito de famlia podemos aplicar em cada situao analisada? Penningroth, por exemplo, analisa como os laos de parentescos foram utilizados para ar a propriedade rural aps o fim da escravido nos EUA.
Esta pesquisa pode contribuir com a historiografia brasileira dedicada ao ps-abolio na Baixada Fluminense, permitindo ar um grupo de indivduos no municpio de Itagua, que at ento acreditava-se ter migrado para outras localidades aps o fim legal da escravido em 1888. Ao mesmo tempo, esta pesquisa busca complementar esta anlise com uma perspectiva transnacional que nos permite perceber conexes em um contexto macroanaltico.
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Rodrigo Faustinoni Bonciani (Universidade Federal da Integrao Latino-Americana)
Um homem clebre encontra um ex-homem de cor: relaes scio-raciais no Brasil do ps-abolio
Resumo:Essa ideia pendurou-se-me no trapzio que eu tenho...
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Resumo:Essa ideia pendurou-se-me no trapzio que eu tenho no crebro com a leitura do texto "'Anime o viajante cansado'", de Paul Gilroy sobre William Du Bois. Entre as diferentes obras comentadas pelo autor, est The autobiography of an ex-colored man [A autobiografia de um ex-homem de cor], de James Weldon Johnson. O romance, lanado em 1912, tem como protagonista um homem sem nome, mestio, nascido no estado da Georgia alguns anos depois do fim da Guerra Civil norte-americana, que se tornou um talentoso pianista e compositor de ragtime. Na anlise de Gilroy, a "dupla conscincia" de Du Bois - ser negro e ser americano - torna-se a "personalidade dual" de Johnson - ser branco e ser negro - e a transformao do protagonista em um ex-homem de cor constitui o "grande segredo" de sua vida.
O personagem, seu drama e a anlise de Paul Gilroy me remeteram a Machado de Assis, especialmente ao conto "Um homem clebre", publicado na Gazeta de Notcias, no dia 29 de junho de 1888. O pianista Pestana, testemunha do ocaso da escravido no ltimo quarto do sculo XIX, tem uma histria familiar misteriosa e vive uma angstia profunda entre o desejo irrealizado de compor uma obra erudita imortal e as polcas buliosas que lhe afloram da alma e dos dedos, e fazem saracotear as sinhs nos sales e o povo nas ruas.
A dualidade um sentimento presente em ambos protagonistas e o dilaceramento seu efeito trgico. The autobiography se insere numa tradio da literatura negra norte-americana em que a narrativa, em primeira pessoa, vai recuperar o lugar do negro na histria. O leitor se aproxima do drama, mas o que um "ex-homem de cor"? A categoria, alm de no existir, d um curto-circuito no sistema de classificao racial norte-americano. No conto de Machado de Assis, o narrador, em terceira pessoa, nos distancia do protagonista, ele e suas questes essenciais se tornam objeto de observao e anlise, reforada pela perspectiva realista do estilo do autor. Aparentemente, o problema histrico da escravido superficial e a questo racial est oculta.
A comunicao analisa as relaes scio-raciais no Brasil entre o fim da escravido e o perodo do ps-abolio, mais especificamente entre 1870 e 1912, principalmente por meio da anlise desses dois textos, confrontando as perspectivas de anlise nacionais e modernistas s interpretaes dos estudos da dispora e do Atlntico Negro. Do sangue negro que se dilui na ideologia da democracia racial, ando pelo sangue negro que contribui para a formao nacional e para a congenialidade de uma sociedade moderna e mestia, at o sublime escravo e o negro todo poderoso que pode transformar toda a humanidade.
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ST - Sesso 3 - 19/07/2019 das 08:00 s 12:00 4c3kw
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Carolina Christiane de Souza Martins
Bumbas, Divinos e outros carnavais: experincias festivas na Ilha do Maranho no Ps-abolio
Resumo:Tomando o Ps-Abolio como um marco histrico imp...
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Resumo:Tomando o Ps-Abolio como um marco histrico importante e considerando as brincadeiras populares existentes em So Lus do Maranho como canais de expresso poltica de grupos sociais marginalizados, este trabalho prope analisar os momentos finais de Imprio e primeiras dcadas de Repblica, explorando as diferentes experincias dos sujeitos sociais que realizavam estas manifestaes, levando em conta cada contexto especfico. Considerando o contexto anterior abolio, as fontes indicam que grande parte destas brincadeiras eram realizadas e fortemente frequentadas, sobretudo, por escravizados e libertos. As fontes tambm tm apresentado evidncias sobre a possvel relao entre os antigos povoamentos indgenas de So Lus e seus habitantes e estas manifestaes, mais especificamente o bumba-meu-boi. Nesta pesquisa, tenho explorado os significados que as brincadeiras tinham para estes sujeitos e de que maneira suas realidades eram ressignificadas atravs destas manifestaes culturais. Ideais de liberdade e cidadania eram manifestados no interior das brincadeiras? possvel falar em associativismos para que houvesse a garantia do direito de festejar? Houve mudanas na postura das autoridades civis e policiais sobre a realizao das festividades no Ps-abolio?
As anlises tm se voltado aos documentos policiais como as licenas para festas, que eram cedidas pelo Chefe de Polcia a partir da solicitao dos festeiros, e registros de prises e represses s festas populares. Alm disso, tenho trabalhado com os Cdigos de Posturas lanados ao longo do sculo XIX, culminando com o de 1893. As tenses e disputas em torno dos limites destas formas ldicas ficam explcitas na preocupao dos festeiros e festeiras em garantir a autorizao para sua brincadeira e o poder exercido pelo chefe de polcia em conceder ou no a liberao. H tenso tambm na relao entre estes festeiros e a sociedade local, visto a quantidade de reclamaes feitas por moradores nos jornais locais que no aceitavam cordes de bumba, tambores e Divinos pelas ruas da cidade, acusando por vezes o chefe de polcia por permitir estas brincadeiras ditas brbaras, sendo a presena negra geralmente bastante evidenciada. A partir exposto, esta pesquisa pretende inserir o Maranho dentro do debate acerca do Ps-abolio em uma perspectiva transatlntica, na qual estas manifestaes culturais podem ser pensadas em dilogo com o Atlntico Negro.
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Eric Brasil (Universidade da Integrao Internacional da Lusofonia Afro-brasileira)
Racismo, represso e colonialismo: experincias de mulheres e homens negros em carnavais de Port-of-Spain, Trinidad e Tobago (cc. 1890-1920)
Resumo:Esse paper pretende analisar os sistemas coercitiv...
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Resumo:Esse paper pretende analisar os sistemas coercitivos da colnia britnica de Trinidad e Tobago, no Caribe, entre as dcadas de 1890 e 1900, e as experincias negras nos carnavais do perodo. Estas constituam o alvo principal das aes repressivas das autoridades coloniais e das representaes estereotipadas e negativas da imprensa local. Por conseguinte, iremos focar nossa investigao na represso e representao racializada sobre homens e mulheres negras da cidade de Port-of-Spain, capital da colnia, que ocupavam as ruas durante os carnavais da virada do sculo XIX para o sculo XX. Pretendemos refletir sobre as variadas concepes de modernidade e civilizao que pautavam tais tenses e conflitos.
Essas reflexes so resultado preliminar do projeto de pesquisa Msica, raa e colonialismo no Caribe: experincias negras em Trinidad e Tobago (cc. 1900 1920), desenvolvido com bolsa de iniciao cientfica no campus dos Mals, da Universidade da Integrao Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab/Mals). O projeto tem como objetivo principal analisar as experincias de sujeitos negros na colnia britnica de Trinidad e Tobago, no Caribe, entre as dcadas de 1900 e 1910, atravs da anlise de suas mobilizaes pblicas, performances e formao de associaes carnavalescas em contato com diferentes esferas de poder no contexto colonial. Essa estratgia nos permite caracterizar e compreender os sentidos e possibilidades de ao de homens e mulheres negras num contexto de dominao colonial numa sociedade ps-abolio. Pretende-se analisar suas relaes de conflito e aliana com as foras coloniais e autoridades policiais, com a imprensa, grupos dominantes e com seus pares. Atravs da performance carnavalesca, com suas msicas, danas, fantasias e associaes que funcionavam ao longo de todo ano poderemos compreender os termos em disputa em torno da cidadania, das tenses raciais, do colonialismo e suas relaes de trabalho, controle e violncia assim como da modernidade presentes na sociedade de Trinidad e Tobago entre o final do sculo XIX e o final da Primeira Guerra Mundial.
Os resultados aqui apresentados tiveram participao direta do bolsista Pibic, Beto Infande, que participou do projeto entre 2017 e 2018, atuando no tratamento das fontes primrias e construindo as reflexes analticas em conjunto com o orientador.
Tal pesquisa s possvel atravs da anlise de fontes primrias recolhidas nos arquivos coloniais britnicos no ano de 2014, no mbito de pesquisa anterior financiada pelo Cnpq. Essas fontes encontram-se ainda inditas em pesquisas no Brasil e so formadas por peridicos, documentos policiais e coloniais e legislao.
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Fernanda Lima da Silva
Uma polcia para a cidade negra (Recife, 1870-1888)
Resumo:Problema e objetivos
Este trabalho objetiva, a pa...
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Resumo:Problema e objetivos
Este trabalho objetiva, a partir da anlise de documentos produzidos pela polcia de Pernambuco e pelos jornais da poca, analisar a configurao do controle policial urbano em Recife, entre 1870 e 1888. Para tanto, discute a cidade negra como espao de prticas de liberdade da populao negra de Recife e as intervenes cerceadoras e precarizadoras sobre ela incidentes, levadas a cabo pelas foras pblicas, sobretudo policiais. Atravs dos achados do arquivo, o trabalho discute a constituio de um problema do urbano, relativo presena negra na cidade e, sobretudo, s prticas de liberdade dessa populao. A discusso sobre o papel das foras pblicas na gesto da cidade leva em conta os processos de racializao internos s foras. Analisa-se em que medida elas no podem ser, para a populao negra, espaos de vivncia complexa da relao liberdade/precariedade. Para discutir as aproximaes entre polcia e cidade negra, o trabalho acompanha as interaes entre policiais rasos, quando em seu servio de rua, e diferentes personagens da cidade negra. Pretende-se, assim, problematizar discusses sobre os lugares da polcia e da populao negra e recolocar as relaes complexas entre escravido, liberdade e gesto urbana.
Mtodo de anlise
Trabalhou-se a partir de fontes primrias, particularmente os livros da Secretaria de Segurana Pblica de Pernambuco (SSP) e da Casa de Deteno do Recife (CDR), constantes do Arquivo Pblico Estadual Jordo Emerenciano (APEJE), do perodo de 1870 a 1888. Foram analisados, ainda, com os jornais em circulao poca, sobretudo o Dirio de Pernambuco e o Jornal do Recife. Observou-se, nessas fontes, as atividades que compunham o cotidiano policial, como a polcia se apresentava s demandas e como se dava a dinmica entre autoridades policiais mais e menos graduadas.
Concluses
Os espaos de recrutamento e as dinmicas racializadas e racializadoras internas s polcias fazem perceber o lugar social de policiais rasos. A observao de sua atividade de rua d conta de sua aproximao com as demais personagens da cidade negra e, ainda, do manejo que fazem de seu precrio lugar de autoridade na garantia de formas de liberdade. Embora no haja laos de solidariedade apriorstico entre essas personagens, notam-se muitas prticas comuns. Nesse sentido, muitas vezes a prpria base policial pode ser concebida como integrante do problema do urbano e como algo a demandar interveno civilizadora.
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Glcia Caldas Gonalves da Silva (UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)
A cultura material do feiticeiro: religiosidades negras no ps-abolio.
Resumo:O artigo visa uma discusso acerca da cultura mate...
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Resumo:O artigo visa uma discusso acerca da cultura material do curandeiro/feiticeiro e objetos de culto que foram apreendidos durante a represso ao curandeirismo/feitiaria, no ps-abolio na cidade do Rio de Janeiro. O Cdigo penal de 1890 criou mecanismos reguladores de combate s prticas mgico-religiosas, institudas nos artigos 156, 157 e 158. No novo instrumento penal a prtica da magia foi includa entre os crimes contra a sade pblica. Os objetos que foram aprendidos pela represso policial durante a opresso do Estado constituram o acervo denominado, coleo de Magia Negra, integrante do Museu da Polcia Civil do Rio de Janeiro. Durante a primeira Repblica houve o processo de tornar o Estado laico , para Montero , a esse processo acompanhou a prpria formao das religies medinicas a partir de uma lgica hierarquizante: parecia haver um consenso silencioso de que aquelas prticas associadas aos negros chamadas genericamente de macumbas, magia negra, feitio agravavam o ilcito por implicar benefcios materiais e muitas vezes incidir em crime ou dolo. Vale ressaltar que nesse momento, o entendimento de religio medinica era abrangente, desde a categoria de espiritismo at ritos de matriz africana, havendo diferenciao entre as prticas espritas (logo religiosas), e as relacionadas populao negra, podendo ser percebidas como desordem pblica.
As fontes so duas noticias publicadas na Gazeta de Notcias, que nos fazem pensar em uma linha de continuidade da preservao de materiais usados nos rituais das religies de matriz africana, pela descrio dos objetos apreendidos e narrativa propriamente dita, uma de 21/04/1893 e outra de 30/08/1898. Em uma sociedade hierarquizada, onde o que era praticado pela populao negra e pobre eram sinais de atraso, primitivismo e charlatanismo, resqucio da escravido que deveria ser extirpada do convvio da sociedade e de sua memria, torna-se necessrio desconstruir a escrita do cronista poca, carregada de esteretipos, uma viso de fora, estranha aos cultos da religio de matriz africana.Na tentativa de identificar os objetos apreendidos nas investidas policiais e demonstrar o quanto desses materiais esto inseridos nos cultos da religio de matriz africana; atravs da metodologia da Histria Oral, responder algumas lacunas desta questo, apoiando-me em uma viso de dentro, daqueles que vivenciam os cultos de matriz africana.
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Lurian Jos Reis da Silva Lima
"Sou neto de africana, minha av era uma preta mandinga": msica e identidade negra nos anos 20
Resumo:O ps-abolio um momento rico em construes de...
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Resumo:O ps-abolio um momento rico em construes de identidade na dispora africana. Segundo Kim Butler, o pensamento negro desenvolve a novas armas e estratgias na luta por autodeterminao e pela consolidao da cidadania, ao mesmo tempo em que enfrenta terrveis reaes: as legislaes segregacionistas, a violncia ritualizada (o linchamento), a presena constante do racismo no mercado de bens simblicos, entre outras. Nesse campo (minado) de possibilidades e em meio a fluxos contnuos de ideias e pessoas, que colocam sob rasura as fronteiras nacionais florescem novas maneiras de afirmar-se negro. Este movimento Butler chama de New Negro, transformando uma expresso da Harlem Renaiscence em conceito guia para historiografia do perodo.
Neste trabalho, sigo a sugesto da autora na anlise de uma srie de 23 entrevistas intitulada Os reis do Samba e do Choro, publicadas pelO Jornal (RJ) em 1925. Trata-se de um pequeno, mas valioso, panorama dos debates sobre msica popular nos anos 20. Nos discursos dos 10 msicos negros consultados pelo jornal esto presentes formas de dizer-se artista, pensador e moderno que contrariam frontalmente uma tese recentemente afirmada, segundo a qual o samba s ser positivado como herana africana a partir da dcada de 1970. A documentao tambm sugere que expresses como Pequena frica so, a despeito da interpretao recente de Clementina da Cunha, muito mais que equvocos historiogrfico totalizantes: elas integram tticas poltico-simblicas de autodeterminao negra em meio violncia racial.
O trabalho fruto de minha atual pesquisa de doutorado sobre as experincias de liberdade de msicos negros no Rio da primeira metade do sculo XX. Tenho como ponto de partida metodolgico o cruzamento de discursos-de-si proferidos por aproximadamente 30 deles ao longo de 20 entrevistas realizadas pelo Museu da Imagem e do Som (RJ) entre os anos 1960 e 1970. Somam-se a este material registros de atividades musicais, crticas e entrevistas situados entre 1910 e 1940, documentao relativa aos artistas ouvidos pelo MIS ou a pessoas pertencentes a seus crculos de sociabilidade. Testo a hipteses de que seja no dilogo uns com os outros (e com parceiros de outras partes do mundo Atlntico) que eles constroem suas identidades e posicionamentos artstico-polticos. Suas trajetrias e ideias deixariam ver, ento, um circuito sociomusical e um modernismo alternativo que pem em relevo o papel dos negros na histria da msica e da cultura brasileiras.
Este artigo refora contribuies historiogrficas recentes sobre o protagonismo de intelectuais negros no ps-abolio e ressalta, a exemplo de Martha Abreu, Paul Gilroy e outros pensadores, a centralidade da msica nos projetos de liberdade no Atlntico Negro.
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Martha Campos Abreu (UFF)
A "modernidade negra" no mundo atlntico: desafios da histria transnacional
Resumo:A construo de uma histria transnacional focada ...
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Resumo:A construo de uma histria transnacional focada na experincia da dispora exige uma srie de reflexes, inauguradas pelo estudo clssico de Paulo Gilroy, que levem em conta a diversidade de contextos e de lutas, em meio indiscutvel aproximao do racismo e da reconstruo das memrias da escravido e da frica no mundo americano. A pauta central dos estudos transnacionais deve ser pensada em torno das discusses do legado da escravido (e da frica) em todas as regies da dispora e em todos os possveis campos de atuao e produo, de negros e brancos, como, por exemplo, no mundo das artes, da msica, da literatura, do pensamento social e dos movimentos sociais. Nesse sentido, entendo ser importante a delimitao de problemas comuns e de fontes equivalentes onde seja possvel identificar leituras do ado escravista, referncias s memrias do cativeiro, representaes racistas e subversivas da populao negra, especialmente no mundo artstico.
Para o caso dos estudos da modernidade negra, o campo musical, por sua presena e divulgao em diferentes ambientes sociais, torna-se um local privilegiado para as disputas polticas contemporneas e para as operaes historiogrficas que procurem refletir sobre as aproximaes e dilogos transnacionais. Assim, a partir da pesquisa anterior, Da Senzala ao Palco, as canes escravas e seu sucesso no mundo comercial, pretendo apresentar uma nova reflexo sobre os diferentes caminhos encontrados pelos artistas negros para ganharem, na dcada de 1920, visibilidades alternativas, representaes modernas e transnacionais, no mundo artstico e intelectual, especialmente nos Estados Unidos e Brasil, e construrem o que ficou conhecido (embora no reconhecido) como a "modernidade negra".
Entre as fontes principais, podem ser destacadas: a produo de textos preocupados com a influncia dos africanos nas msicas e danas populares e nacionais; as gravaes da indstria fonogrfica, as partituras de canes e as encenaes teatrais que traziam, em suas temticas, ttulos, gneros ou ilustraes de capa, referncias s memrias do cativeiro, leituras do ado escravista, cenas racistas e novas representaes, musicais, grficas e literrias, identificadas com a populao afro-americana nas primeiras dcadas do sculo XX.
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Mayara Plscido Silva (IFBA)
Consideraes sobre ps-abolio em Feira de Santana/BA e sua feira do pessoal da roa.
Resumo:A feira livre do pessoal da roa, ocorridas s s...
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Resumo:A feira livre do pessoal da roa, ocorridas s segundas-feiras nas ruas centrais da cidade de Feira de Santana, distinguiu o municpio como o segundo mais importante do Estado da Bahia, em critrios econmicos. Nas primeiras dcadas do sculo XX, a feira livre se consolidou como acontecimento central no cotidiano citadino, pois atraa significativa populao visitante, para consumir e comercializar a diversidade de mercadorias que a feira comportava. Lugar comum nos estudos sobre o municpio, a feira livre se destaca como argumento e fenmeno explicativo para experincias diversas de Feira de Santana, sobretudo no sculo XX. Contudo, convm destacar, conforme objetivo dessa apresentao, a organizao da feira livre e, sobretudo, os/as protagonistas desse pequeno comrcio no contexto do ps-abolio em uma cidade do interior da Bahia. A pesquisa apresentada aqui pretende destacar as experincias de homens e mulheres negras, nascidos/as na regio de Feira de Santana e cidades circunvizinhas que participavam ativamente da feira, sobretudo como pequenos/as vendedores/as, mais no s. Conforme documentao pesquisada, a feira era um espao de confluncia de migrantes libertos que tinham ali profcuas possibilidades de sociabilizao e sobrevivncia. Convm fazer uma leitura da feira, portanto, a luz dos debates sobre as expectativas de liberdade da populao negra, bem como das tenses raciais latentes no municpio de Feira de Santana, a partir das tentativas de controle dessa populao atravs de legislao da Intendncia Municipal. Atravs de um levantamento de livros de Receitas e Despesas da Intendncia Municipal, entre os anos e 1905 e 1927, foi possvel ar documentao que tratava das expectativas de organizao da feira livre e dos/as trabalhadores/as atuantes ali, construdas por membros do Conselho Municipal. Um dos resultados dessa pesquisa foi a construo coletiva de um livro paradidtico intitulado Feira Uma cidade Princesa (Editora Na Carona), direcionado para estudantes da Educao Bsica de Feira de Santana e regio. O segundo captulo do paradidtico intitulado Feira Livre, destaca esse protagonismo de homens e mulheres negras no cotidiano da feira livre, problematizando, dessa forma, as prticas seculares de silenciamento da populao negra nas ditas regies sertanejas do Estado da Bahia.
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Maybel Sulamita de Oliveira (UFF - Universidade Federal Fluminense)
Brasilidade e negritude em meio ao Atlntico Negro: o intercmbio cultural nas relaes entre Brasil e Senegal a partir do 1 Festival Mundial de Artes Negras
Resumo:Realizado entre os dias 01 e 23 de abril de 1966, ...
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Resumo:Realizado entre os dias 01 e 23 de abril de 1966, na capital do pas senegals, o 1 Festival de Mundial de Artes Negras foi um evento de grande porte internacional. O pas que outrora havia sido colnia sa e obteve sua independncia em 1960, sob o governo do presidente Lopold Sdar Senghor utilizou-se da negritude, enquanto um conceito amplo, tornando-o um elemento central e unificador para o evento.
A formao da delegao brasileira aps o convite para o festival ficou a cargo do Ministrio das Relaes Exteriores. Entre muitas discusses e crticas a respeito da realizao de triagens arbitrrias, como tambm de problemas de acomodao em Dacar, o Ministrio optou por selecionar cerca de 30 nomes que seriam representantes oficiais do pas durante o evento. A participao brasileira de acordo com o embaixador Frederico de Chermont Lisboa, contava com grande expectativa, pois, alm do pas ter a maior populao negra fora do continente africano, diversas ligaes e misses diplomticas j eram realizadas entre Brasil e Senegal desde a dcada de 1960.
Entre os artistas compareceram os pintores Heitor dos Prazeres e Rubem Valentim, as cantoras Elisete Cardoso e Clementina de Jesus, acompanhada de seu marido Albino P Grande, o cantor Ataulfo Alves e suas pastoras, os msicos Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Csar Camargo Mariano, Sab, Toninho Pinheiro, Raul de Barros, Silvinho da Portela e Elizeu Flix. Tambm integraram a delegao os mestres capoeiristas angoleiros Camafeu de Oxssi, Roberto Satans, Gildo Alfinete, Joo Grande, Gato preto e Mestre Pastinha. Outra participante de destaque que tambm acompanhou a delegao foi a Iyalorix Olga do Alaketu, me de santo do Terreiro do Alaketu, localizado em Salvador.
Em sntese, essa proposta visa compreender o lugar da produo cultural dos artistas negros brasileiros selecionados pelo Itamaraty para participar do evento, discutindo a respeito de qual seria a representao racial buscada, e adequada para ser transmitida internacionalmente. Contemplando uma perspectiva transnacional, que abrange diferentes margens do Mundo Atlntico e seu intenso intercmbio cultural. O caso do 1 Festival Mundial de Artes Negras, portanto, abre diversas possibilidades e caminhos para compreendermos no somente os contextos nacionais do Brasil e do Senegal nesse perodo, mas tambm a construo e redefinio das identidades negras a partir dos artistas brasileiros e sua msica em um contexto transnacional.
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ST - Sesso 4 - 19/07/2019 das 14:00 s 18:00 3p493x
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Caroline Moreira Vieira Dantas (UERJ/ FFP)
Entre elogios e estigmas raciais: Patricio Teixeira, sua trajetria e seus enfrentamentos
Resumo:O presente trabalho discutir aspectos da vida pro...
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Resumo:O presente trabalho discutir aspectos da vida profissional do cantor negro Patricio Teixeira (1892/1972) que foi uma importante voz da cano nacional, principalmente, nas dcadas de 1920 e 1930, tendo sua carreira no rdio se estendido at meados dos anos 1950. Pioneiro na radiofonia, levou ao ar, aos discos e aos palcos, musicalidades de origem popular, colaborando para a difuso do samba e de outros gneros. Teve uma importante parcela de contribuio na consolidao da prpria estrutura radiofnica ao atrair as atenes do pblico ouvinte para as chamadas msicas populares a partir da segunda metade dos anos 1920. Colaborou ainda nas bases da construo da carreira de cantor de gneros populares, atuando quando a funo ganhava contornos profissionais e reconhecimento social. Alm de sua atuao na produo e na ampliao de sentidos culturais para o ofcio de professor de violo, ainda nos anos 1920, contribuindo para a valorizao social do instrumento. Lembrado pela imprensa de sua poca, o seu ocultamento na memria musical foi paulatinamente acontecendo. Atuou at meados da dcada de 1950, quando se dedicou, at o seu falecimento em 1972, aos 80 anos, exclusivamente, ao ofcio de professor de violo, o que lhe garantia a sobrevivncia. O mercado cultural foi uma possibilidade de insero profissional para msicos negros, mas no excluiu hierarquizaes, tenses e preconceitos raciais, mesmo diante do sucesso artstico. A experincia de Patricio Teixeira conferiu visibilidade aos sujeitos negros e s suas identidades culturais, indicando demandas por cidadania, ascenso social e reconhecimento artstico. Analisarei a construo de sua imagem por peridicos, que oscilava entre elogios s suas habilidades musicais e apontamentos de estigmas raciais, bem como as estratgias desenvolvidas como resposta ao racismo. Teixeira se esforava para manter uma imagem de retido profissional, contrapondo-se s imagens depreciativas, e no estava sozinho nas estratgias de enfrentamento por respeitabilidade, pois em tempos e espaos variados outras histrias podem ser conectadas, demonstrando que os sujeitos negros lutavam para romper com vises estereotipadas e estigmas construdos racialmente na sociedade brasileira (GILROY, 2001).
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Eliane Taffarel (UNOCHAPEC - Universidade Comunitria da Regio de Chapec), Samira Peruchi Moretto (UFFS)
De cor preta: a trajetria de negros escravizados e seus descendentes na Fazenda So Joo Campos de Lages/SC
Resumo:Os estudos das comunidades quilombolas, mobilidade...
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Resumo:Os estudos das comunidades quilombolas, mobilidade social e trajetrias dos ex-escravizados no perodo ps-abolio, se tornaram temas nas pesquisas histricas, somente no final do sculo XX. Prova dessa invisibilidade acadmica e social, a percepo da maioria das pessoas de que a escravido esteve distante da realidade do Sul do pas. So recentes os estudos que tem se dedicado a analisar a existncia de africanos escravizados e o contexto ps-abolio na regio. Por muito tempo em Santa Catarina, a existncia de comunidades quilombolas foi invisibilizada, assim como a presena da escravido no estado, na viso da sociedade em geral, mas tambm nas pesquisas acadmicas e no ensino de Histria. Na regio dos Campos de Lages/SC, havia escravos ligada pecuria, s atividades agrcolas e domsticas. Os escravizados na referida fazenda, receberam alforria condicionada em 1866 e legaram atravs de testamento de 1877, a tera parte das terras de Matheus Jos de Souza e Oliveira e sua esposa Pureza Emlia da Silva. O objetivo deste trabalho analisar o perodo ps-abolio para estes negros escravizados, depois legatrios, destacando a formao da comunidade e a permanncia dos mesmos e de seus descendentes na terra apesar dos processos de colonizao da regio que interferiram no modo de vida dos mesmos. As fontes pesquisadas foram as eclesisticas (batismo e casamentos), cartoriais (testamento, inventrio, bitos e casamentos) e processos judiciais. Atravs das fontes percebeu-se que a escravido, a liberdade, os testamentos e permanncias na terra legada so palavras que contam rapidamente a histria dos negros escravizados na Fazenda So Joo, situada em Lages, e depois da emancipao do municpio, em Campos Novos/SC. Embora essas fontes documentais permitam costurar apenas fragmentos da vida desses negros no ps-abolio, elas permitem observar que os atuais moradores que formam a Comunidade Quilombola Invernada dos Negros, situada atualmente nos municpios de Campos Novos/SC e Abdon Batista/SC, so descendentes dos legatrios das terras da Fazenda So Joo. Alm disso, a constituio da trajetria de alguns desses negros no perodo ps-abolio demonstra a permanncia dos mesmos na terra legada.
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Geisimara Soares Matos (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Uma ilha de instruo em meio a um mar de analfabetos: Escola Militar e meritocracia na trajetria do pardo Eduardo Ribeiro.
Resumo:Esta comunicao tem como objetivo tratar da traje...
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Resumo:Esta comunicao tem como objetivo tratar da trajetria de Eduardo Gonalves Ribeiro (1862-1900) na Escola Militar da Praia Vermelha. Ribeiro foi um homem de cor, nascido em So Lus, capital do Maranho, e que se tornou uma das figuras mais emblemticas e conhecidas do Amazonas. Sua trajetria marcada pela ascenso ao governo daquele estado (1892-1896), em meio a vrios embates polticos e por te feito uma poltica de embelezamento da cidade de Manaus muito conhecida e longeva na memria histrica amazonense. Para este trabalho focamos nossas anlises no perodo em que estudou na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, instituio em que bacharelou-se em Cincias Fsicas e Matemticas no ano de 1887. Usaremos a trajetria de Eduardo Ribeiro para pensar as estratgias de que teria lanado mo e as circunstncias sociolgicas que permitiram uma extraordinria mobilidade social em uma sociedade que, em fins do sculo XIX, marcada pela racializao e pelo racismo.
Dados os limites desse tipo de trabalho focaremos nossas anlises no discurso meritocrtico difundido pelo Exrcito a partir da lei de promoes de 1850. Para que essa anlise possa ser feita vamos comparar a f de ofcio de Eduardo Ribeiro com a de outros alunos contemporneos a ele a fim de entender como se dava na prtica a execuo, ou no, desse discurso. Dessa forma, procuramos entender como o discurso meritocrtico possibilitou a ascenso de Eduardo Ribeiro mesmo que ainda funcionasse antigas estratgias de favorecimento pessoal. Ou seja, mostraremos a ambiguidade do discurso do mrito no Exrcito que, por um lado promoveu as capacidades de um jovem de cor como Eduardo Ribeiro, sem apadrinhamento ou laos consanguneos dentro da instituio, e por outro, mantem a proteo atravs da velha ordem (em que mecanismos extrameritocrticos eram acionados). Mas e a cor? At que ponto o mrito igualava quanto a cor e condio social? Se o mrito por si s no possibilitava a ascenso na carreira, tendo que por muitas vezes serem usados outros artifcios, de se esperar que algumas barreiras ajudassem ou dificultassem essa escalada: a cor e origem social. Atravs de 13 fs de ofcio (entre elas a de Eduardo Ribeiro) pretendo discutir como a cor e a origem social influenciavam a mobilidade social dos alunos dentro da instituio.
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Graziella Fernanda Santos Queiroz (Universidade Federal de Pernambuco)
Prticas nominativas e identidades: o caso da permanncia do sobrenome Cazumb em sujeitos e famlias pernambucanas (1824-2018)
Resumo:APRESENTAO
Este trabalho tem investigado a exis...
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Resumo:APRESENTAO
Este trabalho tem investigado a existncia de apelido e sobrenome etimologicamente kimbundu (Cazumb) em pessoas e famlias pernambucanas desde o sculo XIX at hodiernamente. O etnocentrismo enquanto faceta da colonialidade foi responsvel pela anulao de nomes e sobrenomes africanos nos milhes de indivduos que formaram a sociedade brasileira. Apesar disto, motivos variados tais como a incorporao de etnnimos, africanismos e alcunhas relacionados frica possibilitou a manipulao de identidades nominativas bem como sua permanncia. Aqui, discutiremos ambivalncias, possibilidades e micro-histrias de sujeitos e famlias que carregaram e carregam o termo africano no nome.
TEORIA E METODOLOGIA
A utilizao da prtica historiogrfica da Histria social aliada micro-histria tem sido significativa para averiguar com mais profundidade quesitos chave desta pesquisa. Primeiro: a problemtica do termo cazumb. O vocbulo no vinculado apelido ou sobrenome extremamente polissmico. Apresenta significados simblicos e geogrficos tanto em frica quanto em dispora. Segundo: ao transportar o termo para nomes em Pernambuco do sculo XIX os seus usos e significados se alteram e tambm se inter-relacionam com frica. Ao utilizarmos da sugesto de Ginzburg, analisamos um fenmeno circunscrito em diferentes contextos e escalas de anlise tendo em mos uma variedade de aporte terico. Buscamos em diferentes campos das cincias humanas bibliografias acerca do que se sabe sobre o termo. Fomos, atravs do paradigma indicirio, ao rastreamento dos sujeitos em diferentes tipos de fontes. Percebemos nesse processo a pertinncia do mtodo onomstico, conceituado por Ginzburg. Em tese, o termo/nome assume o papel de fio condutor na pesquisa. Ao concatenar os diferentes nveis e entrecruzar relaes analisadas acerca do termo africano podemos transitar de uma Histria para outras. As origens conceituais de um termo africano, as trajetrias de pessoas que em dispora ou no carregaram ou carregam um nome de frica, os possveis significados dos usos de termos africanos no nome. Estudamos a dispora africana e suas reverberaes atlnticas.
FONTES
As fontes para esta pesquisa so de carter abrangente. Pesquisamos desde anais, atas governamentais e relatrios provinciais a jornais em circulao da poca, inventrios, registros de nascimento, bito e casamento. Os relatos orais foram igualmente indispensveis para uma anlise genealgica, ancestral e identitria dos integrantes familiares Cazumbs contemporneos que habitam diferentes reas da regio metropolitana do Recife e Zona da Mata Norte pernambucana.
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Luara Santos Silva (Prefeitura de Itabora)
Mulatas, mulheres de cor e reputadas professoras: racializao, silncios da cor e experincias no Rio de Janeiro (1890-1920)
Resumo:Esta comunicao tem por objetivo discutir represe...
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Resumo:Esta comunicao tem por objetivo discutir representaes e experincias cotidianas de mulheres negras na cidade do Rio de Janeiro entre fins do sculo XIX e primeiras dcadas do XX. Tendo por fontes publicaes da imprensa, produes literrias e (pseudo) cientficas, fragmentos de trajetrias de mulheres negras letradas e documentos oficiais da Instruo Pblica, procuro problematizar os sentidos sociais dos usos e silncios em torno dos rtulos raciais nas experincias femininas.
Venho localizado publicaes na imprensa onde as mulheres negras so rotuladas ora como mulatas ora como mulheres de cr, ao mesmo tempo em que impera o silncio a esse respeito. H nas publicaes para fazer rir, como as da revista O Malho, visvel diferena entre a racializao feminina e a masculina: homens negros que tinham certo prestgio social e discurso em prol da coletividade negra, como Hemetrio dos Santos e Monteiro Lopes, eram diretamente atacados. O mesmo no ocorria s mulheres dessas duas famlias e nem tampouco a outras mulheres negras que tambm pertenciam a tais crculos letrados.
Publicaes de cunho literrio, (pseudo) cientficas e de cunho filosfico tambm recorriam intensamente ao uso de rtulos raciais, reforando esteretipos e vises hierarquizadas a respeito da populao negra e em especial das mulheres. No livro A Educao Nacional, Jos Verssimo (1890 e 1906), um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, discorre sobre os problemas que assolavam a nao brasileira. Remontando ao ado para discutir o seu tempo presente, Verssimo afirmava que no havia influncia mais depravada e dissolvente da virilidade fsica e moral do que o peculiar tipo brasileiro que era a mulher mulata. Havia, porm, intelectuais como Manoel Bomfim e Hemetrio dos Santos que discordavam de tais vises. E havia ainda os que por meio da literatura, como Lima Barreto, colocavam em xeque as relaes raciais e de gnero pautadas pela desigualdade. Em todas essas produes, de modos distintos, a sexualizao dessa mulher de cr / mulata estava presente.
Em suas trajetrias algumas mulheres negras como Luiza Callado, as irms Elvira Pilar e Thereza Carolina Guimares, e as mulheres da famlia Hemetrio dos Santos, percorreram um longo caminho para obterem o diploma de professoras primrias. Elas exerciam a mesma vida intelectual que alguns homens negros, mas publicamente a voz que falava era a deles. Uma voz que falava em nome da famlia e da respeitabilidade das reputadas professoras. Mas, elas tambm falavam atravs de suas estticas e especialmente do exerccio do magistrio. Vozes femininas e masculinas que, direta ou indiretamente, ressignificavam os sentidos de ser mulher de cor, mulata e senhoras reputadas.
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Maria do Carmo Gregrio (Secretaria Estadual de Educao)
Os quilombos e as comunidades eclesiais de base no Litoral Sul Fluminense entre 1980 e 1998.
Resumo:No Litoral Sul Fluminense, em 1980 foi instalada a...
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Resumo:No Litoral Sul Fluminense, em 1980 foi instalada a diocese de Itagua composta pelos municpios de Angra dos Reis, Itagua, Mangaratiba, Seropdica e Paraty. A regio sofreu uma transformao significativa em especial durante a dcada de 1970, associada a um processo de urbanizao acelerado que desconsiderou as necessidades rurais de sobrevivncia de seus antigos moradores. Dois elementos tiveram centralidade nessa experincia vivida: a luta pela terra que marcou a regio e a relao poltica estabelecida com todo esse processo mediada pela f.
Nesse artigo vou explorar a importncia que a Campanha da Fraternidade e a Campanha Missionria, ambas realizadas em 1988, tiveram dentro desse processo na regio. O ano de 1988 foi emblemtico na organizao de uma narrativa poltica para a construo de uma identidade racial. Externamente o ano registrou celebraes e os protestos referentes aos 100 da abolio da escravido no Brasil; ocorreu a insero dos direitos quilombolas na Constituio promulgada; internamente a Igreja Catlica lanou uma Campanha da Fraternidade com o tema: A Fraternidade e o Negro e como lema: Ouvi o clamor deste povo. A Campanha permitiu o dilogo com a sociedade mais ampla e tornou pblico um debate que j acontecia internamente. Foi o perodo em que os quilombos dentro da construo religiosa, ligada Teologia da Libertao, foram consagrados, como marco histrico, na construo da resistncia negra escravido e como smbolo da luta por libertao.
O boletim Informativo publicado na diocese, do ms de setembro de 1988 anuncia a chegada do ms das misses que seria celebrado em outubro. O lema da Campanha Missionria realizada foi: A frica, nossos pais nos contaram. Essa campanha estaria reforando o tema examinado na campanha da fraternidade que trouxe para o interior das CEBs e das celebraes que eram tambm reflexes realizadas dentro das casas dos fieis a realidade do negro no Brasil. Na narrativa construda no boletim a campanha missionria ampliaria o estudo, celebrao e reflexo com a incluso de analise sobre o continente-me, a frica, atravs de um vasto material distribudo s parquias tambm disponvel para os encontros realizados nas casas dos fieis sobre as misses. O tema da Campanha da Fraternidade sobre a realidade do negro no Brasil e o da Campanha das Misses vinculando essa realidade, ao continente africano encontrou um campo frtil e aberto a diversos desdobramentos e ressignificaes dentro dos territrios em luta pela terra no Litoral Sul Fluminense.
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Pedro Maron de A. Severiano (Secretaria de Estado de Educao do Rio de Janeiro)
Msicos e trabalhadores: msica popular, associativismo e profissionalizao na trajetria de Jorge Seixas e Candido Pereira da Silva no Rio de Janeiro na Primeira Repblica.
Resumo:Diversas pesquisas sobre o perodo ps-abolio no...
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Resumo:Diversas pesquisas sobre o perodo ps-abolio no continente americano vm indicando que os circuitos artsticos e de entretenimento condensavam vrias questes relevantes para se pensar os conflitos, disputas e estratgias de atuao da populao de descendentes de escravizados ou libertos. No cenrio que se desenhava com o mercado de msica e espetculos, surgiam manifestaes por parte desses homens e mulheres que apontavam na direo das questes mais candentes na poca como conquistas de direitos civis e polticos, relaes de trabalho, ideia de nao, representaes sobre a frica e o negro, modernidade e tradio. Todos esses elementos permeiam a atuao e produo de homens e mulheres descendentes da dispora africana nos circuitos das artes, lazer e entretenimento no ps-abolio. Nesse sentido, nosso trabalho pretende apresentar e debater alguns aspectos das trajetrias de dois personagens que se envolveram diretamente com o ambiente musical da cidade do Rio de Janeiro nas primeiras dcadas do sculo XX, buscando entender as diversas correntes culturais que estavam em jogo.
Jorge Seixas e Candido Pereira da Silva tiveram uma educao formal (inclusive musical) na mesma instituio, o Asilo dos Meninos Desvalidos, criado no Imprio para a instruo de rfos e meninos pobres. Ao terminarem sua formao comeam a atuar como integrantes de diversas associaes carnavalescas sobretudo na parte musical. Em uma delas, os Africanos de Vila Isabel atuaram juntos, no apenas no carnaval como tambm em apresentaes do grupo, inclusive em concursos de msicas populares. Paralelamente a isso, foram operrios em fbricas.
Esses e outros elementos de suas trajetrias nos instigam a pensar a participao de msicos e trabalhadores negros com educao formal enquanto agentes da construo de um campo profissional de trabalho na msica, nos mais diversos ritmos. Alm disso, contribuem para pensar como esses homens e mulheres expressaram suas identidades atravs desses espaos enquanto agentes da construo de uma msica popular moderna.
Apresentando parte do material de pesquisa de nossa dissertao, tentaremos ampliar nossa reflexo para outros casos similares aos dos dois personagens em questo, seja no Rio de Janeiro, no Brasil, ou em outros pases das Amricas no mesmo processo de ps-abolio e constituio de um campo profissional na msica.
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Renata Ribeiro Francisco
A trajetria poltica do maom Blaise Diagne (1890-1934)
Resumo:Nas primeiras dcadas do sculo XX, lideranas loc...
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Resumo:Nas primeiras dcadas do sculo XX, lideranas locais africanas davam os primeiros sinais de descontentamento com a istrao colonial, articulando e promovendo mobilizaes diversas por meio de organizaes polticas, como partidos, sindicatos e jornais. Enquanto um grupo de ativistas no economizaram esforos para compor uma agenda anticolonial, outros lderes nativos, como o senegals Blaise Diagne, seguiu na contramo desse movimento ao propor uma agenda assimilacionista, que previa a ampliao de direitos polticos e civis para africanos, sem vislumbrar uma possvel separao entre a istrao colonial sa e o territrio senegals.
Blaise Diagne no tinha como bandeira poltica a independncia do Senegal, sua agenda poltica concentrou-se em garantir ampliao da cidadania de africanos na estrutura colonial. No Senegal, os africanos das reas urbanas aram a ser considerados cidados a partir de 1833 por meio de decreto. Dacar, Rufisque, Goree and Saint-Louis juntas formam as quatro comunas e tinham status distintos de outras cidades, eram consideradas cidades sas, cujos habitantes se beneficiavam do estatuto de cidadania sa.
Blaise Diagne tentava a todo custo fazer valer os direitos dos africanos na colnia. Entre os anos de 1914 a 1934, tornou-se o primeiro deputado negro a ingressar na Assembleia Nacional da Frana da istrao colonial sa. Diagne acumulou outras funes importantes no cargo pblico, demonstrando com isso possuir ampla insero em espaos destacados da istrao sa.
No perodo correspondente o africano desempenhou a funo de alto-comissrio das tropas africanas durante a Primeira Guerra Mundial, presidindo ainda a Comisso das Colnias na Assembleia Nacional. No mesmo perodo em que exerceu o cargo de deputado desempenhou tambm a funo de prefeito de Dacar, entre 1920 a 1934 . Cidade eleita posteriormente sede da capital da Repblica do Senegal, aps a independncia em 1960.
A insero de Blaise Diagne na istrao colonial sa consolidou-se em 1914, quando tornou-se deputado. Desta data em diante, o africano no saiu mais da vida pblica, acumulando cargos a partir do alargamento de suas estratgias de alianas. Especula-se que as facilidades de ingresso em cargos pblicos e principalmente o feito alcanado de ocupar a vaga de deputado na Assembleia sa tivesse relao com sua iniciao maonaria .
Poucos so os estudos que abordam essa relao entre a participao de Blaise Diagne na maonaria e a sua atuao poltica. justamente esse aspecto de sua trajetria que pretendemos explorar nesse estudo.
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Simon Portela Leal
Usos da memria na ressignificao quilombola: experincias de resistncias identitrias nas Comunidades de Barro Vermelho e Contente - PI
Resumo:Para compreender como uma comunidade quilombola se...
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Resumo:Para compreender como uma comunidade quilombola se constri e ressignifica sua identidade preciso compreender que as vozes autoritrias que enquadram os sujeitos sociais na condio de subalternidades, ao mesmo tempo, desafiam a desconstru-las por meio das relaes histricas com o territrio. A desconstruo pera pela compreenso do no dito, pelos exemplos, pelas memrias que tem a tarefa de medir os silncios e as negaes, e assim, subsidiar a construo epistemolgica reforando as lutas de identidades e prticas culturais. Assim, A presente pesquisa se volta para interpretao de narrativas de experincias de resistncias, compreendidas aqui, como um campo dialtico que se sedimenta na memria e na ancestralidade.
As experincias das quais a pesquisa trata so as Comunidades Remanescentes de Quilombola localizados na Zona Rural do Municpio de Paulistana no Piau, aproximadamente 24 km da sede do municpio. O recorte espacial se volta para as Comunidades de Barro Vermelho e Contente. E o temporal a partir de 2010 quando so reconhecidas junto a Fundao Cultural Palmares e iniciam processo junto ao INCRA pela titulao e regularizao fundiria.
O arbouo metodolgico um recorte dos dados coletados para a escrita da dissertao de Mestrado, ainda em andamento. Por se tratar de uma pesquisa qualitativa ser referenciada pelo mtodo da Histria Oral na perspectiva de Yara Khoury (2006), Alessandro Portelli (1996). Alm de ressaltar as discusses em torno dos estudos ps-coloniais na perspectiva de Paul Gilroy (2001) e Gayatri Spivak (2010), Stuart Hall (2009) (2014), Walter Mignolo (2005), Anbal Quijano (2005), Boaventura de Sousa Santos (2009) em dilogo com os culturais: Walter Benjamin (1987), Edward Thompson (2001). Baseada ainda em fontes como Laudo Antropolgico, Perfil Comunitrio e Perfil histrico das referidas Comunidades.
Com o trabalho, espera-se levantar o debate em torno da emergncia das reflexes tnico-polticas para constituio do direito a delimitao de terra (redistribuio) e de uma escrita da Histria e Cultura afro-brasileira a luz dos estudos ps-coloniais (reconhecimento) e a voz da experincia, e assim, problematizar as lutas e resistncias tnicas em consonncia com as narrativas orais e das suas prticas cotidianas.
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