ST - Sesso 1 - 16/07/2019 das 14:00 s 18:00 187213
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Ana Carolina Silva (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
As possibilidades interpretativas das representaes do imprio nos romances oitocentistas britnicos
Resumo:No foram poucos os es materiais e imagtico...
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Resumo:No foram poucos os es materiais e imagticos legados pela produo ficcional britnica oitocentista referente expanso e a dominao imperial. Desde antes dos espaos coloniais ocuparem um posto central nas histrias de grande parte das narrativas literrias publicadas no final do sculo XIX, os territrios do alm-mar e seus habitantes j eram aludidos de forma recorrente nos escritos ficcionais. Apesar da funo secundria e do tratamento vago e evasivo que lhes era dispensado pelos mais diversos autores, essas figuraes cifradas fazem parte de um amplo no qual tanto as possibilidades quanto a visibilidade dada s paisagens e as prticas sociais imaginadas acabavam por situar, matizar e definir as dimenses das prprias experincias histricas. A constncia com que essas figuraes eram utilizadas levou a constituio de um repertrio simblico e de uma rede de sentidos e significados. Dessa maneira, essas narrativas, ademais de circularem por esses espaos, os tornavam prximos e apreensveis; assim, suas representaes ora preenchiam as lacunas e as curiosidades dos metropolitanos relacionadas a esses lugares distantes, ora confirmavam boatos e situaes associadas s vivncias e as vicissitudes tidas como plausveis a esses locais. Com base nisso, nota-se o quanto esses episdios reportavam a um conjunto especfico de experincias e que, a despeito de integrarem universos literrios dspares e de suas particularidades, suas histrias fazem parte de uma mesma tradio cultural e amarram convenes literrias e tcnicas de abordagem de distintos campos do conhecimento. Portanto, decodificar as representaes coloniais uma porta e um caminho para sondarmos as bases do imaginrio oitocentista e pensar como as estratgias e os discursos literrios contriburam para mediar e modular o entendimento dos comportamentos e das perspectivas dos atores sociais em ascenso. Muito embora seja necessrio reconhecer e destacar a autonomia do mbito ficcional, uma vez que suas construes no so obrigadas a se ater as imposies, as demandas e aos regramentos da realidade externa. Mediante a isso, declaramos que os objetivos dessa comunicao consistem em: primeiro, explorar os pontos de encontro e os distanciamentos dos protocolos de leitura e registro dos textos ficcionais e historiogrficos; segundo, mapear e apontar os paradigmas e as formas de pensamento presentes e difundidas pelas obras literrias interpeladas; e por fim, a partir da desmontagem e anlise das invocaes e descries dos territrios conquistados e subordinados Gr-Bretanha, evidenciar os elos existentes entre cultura, cincia e imprio e, paralelamente a isso, demonstrar como essas referncias forneceram e atuaram como e das construes identitrias.
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Ana Lorym Soares (UFG - Universidade Federal de Gois)
Literatura e historicidade: crtica modernidade e emergncia de temporalidades ps-utpicas nos romances de Michel Houellebecq
Resumo:Ao dialogar com a tradio historiogrfica que ele...
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Resumo:Ao dialogar com a tradio historiogrfica que elege como tema de estudo a relao entre histria e literatura, atualmente j estabelecida, esta comunicao visa se inserir nesse debate com foco no exame do funcionamento da dimenso temporal na literatura. Examinamos o modo como histria e literatura se informam mutuamente em termos de modelos organizadores de escrita e de reflexo sobre historicidade, a partir da anlise do gnero romanesco em suas manifestaes na histria literria recente que d vazo a enredos e modelos de temporalidade de tonalidade distpica. Para tanto, elegemos como corpus fices produzidas por Michel Houellebecq (Frana, 1956), reconhecido internacionalmente pela sua produo literria. Segundo Paul Ricouer, por intermdio da narrativa que o homem d sentido agem do tempo; tempo que, para Edmund Russel, a prpria forma da experincia. Dito isto, propomos pensar a relao histria/literatura, considerando a noo de narrativa como forma de atribuio de sentido experincia temporal, de modo a interrogar sobre os modos pelos quais a historicidade construda ficcionalmente em determinadas formas de texto literrio, buscando a superao da questo da ficcionalidade ou no da narrativa histrica. Ultimamente autores importantes no campo da teoria da histria e da literatura apontaram uma mutao na forma de percepo da dimenso temporal com repercusses variadas para o pensamento social, imaginao artstica e ao poltica. Em seus estudos, elaboraram leituras de momentos de crise do tempo, quando vm perder as articulaes conhecidas entre ado, presente e futuro, fornecendo, simultaneamente, por meio de suas observaes, ferramentas heursticas capazes de dar maior legibilidade a esse fenmeno. Reinhart Koselleck fala da superao do moderno regime de historicidade associado s ideias iluministas de progresso e tlos, que dominou o Ocidente at incio do XX; Franois Hartog apresenta a emergncia, a partir da segunda metade do sculo ado, de uma ordem presentista do tempo; Hans Ulrich Gumbrecht afirma que a forma moderna de organizar o tempo, hegemnico at a Segunda Guerra Mundial, o crontopo historicista, colapsou; Octavio Paz fala de um ocaso do futuro, experimentado desde as ltimas dcadas do sculo XX; Haroldo de Campos chama de ps-utpica a temporalidade que viveramos desde os anos 1960. Por fim, interessa-nos verificar a emergncia dessa crtica temporalidade modernista, historicista ou utpica e a constituio de possveis noes presentistas ou ps-utpicas de temporalidade nos romances de Michel Houellebecq, perscrutando os sentidos atribudos a essas operaes.
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Carolina Borges da Silva Luiz (USP - Universidade de So Paulo)
Saramago e o trabalho do desassossego
Resumo:Minha pesquisa concentra-se em Fernando Pessoa e J...
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Resumo:Minha pesquisa concentra-se em Fernando Pessoa e Jos Saramago, buscando entender o que o desassossego e como ele se expressa atravs de duas obras literrias distantes no tempo e na forma: o Livro do Desassossego e o Memorial do Convento. A hiptese fundamental do trabalho que o desassossego uma das grandes contaminaes entre a fico e o pensamento histrico.
Neste captulo da dissertao, a proposta elucidar o processo de construo de Memorial do Convento, de Jos Saramago, investigando elementos que permitam uma leitura do desassossego reverberado atravs do romance. A demarcao da posio do autor, em relao ao narrador, aos fatos narrados e ao leitor, os modos como produz o espao e o ambiente em que circulam as personagens e as modulaes da sua voz narrativa, constituem uma performance desassossegada. Ironia, humor, anacronismo anunciado, metalinguagem, intertextualidade e marcas da oralidade so os principais aspectos dessa narrao, que pretende realizar um trabalho de mobilizao da memria. O foco aqui o ato narrativo, visto como movimento de um jogo, no qual autor e leitor envolvem-se.
O contato entre ambos comea antes das primeiras linhas do romance. Alguns elementos paratextuais, como entrevistas do autor, notas jornalsticas, contracapa, orelhas de livro e epgrafes, servem como instrumentos de construo de expectativas em torno do texto. Tambm participa dessa construo o dilogo com outras leituras, desde romances histricos de sucesso, at os contos da tradio oral. Tais expectativas so intencionalmente reforadas para logo serem frustradas, desarmando o leitor. Ainda assim, esse leitor pode armar-se demais, orientado por uma identidade pblica construda em torno de Saramago, em grande parte por ele mesmo: o autor comunista. Muitos crticos priorizaram o aspecto ideolgico e combativo dos escritos saramaguianos, de forma a ofuscar o desassossego ali presente.
A estratgia de Saramago sustenta-se no humor irnico de sua narrativa, capaz de provocar o leitor e abalar suas representaes. Atravs de tcnicas humorsticas, como o deslocamento, o contraste, etc., a narrativa aproxima-se de uma carnavalizao, subvertendo os discursos conservadores e autoritrios, que engessam a memria de um povo. Memorial do Convento no se resume a uma stira, com sua ironia militante como estratgia retrica de convencimento ideolgico. O romance apresenta um aspecto pardico, de modo a incluir no texto os discursos (histricos inclusive) com os quais dialoga irnica e criticamente, essa caracterstica o qualifica como uma metafico historiogrfica. Os movimentos desse dilogo no servem para instaurar uma nova representao, mas para semear desassossego. A fico saramaguiana demonstra a mobilidade das peas da memria.
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Fabiana de Souza Fredrigo (Universidade Federal de Gois)
O nascimento democrtico e as divergncias geracionais: literatura, trauma e utopia na Amrica Latina (o caso chileno)
Resumo:Interessam-me as relaes entre a histria e a lit...
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Resumo:Interessam-me as relaes entre a histria e a literatura, bem como a dinmica que atua sobre a apreenso, a circulao e a apropriao de textos, temas investigados no mbito da histria cultural. Tais interesses podem, sem prejuzo, ser conjugados histria poltica renovada. Dessa maneira, a exposio se dividir em dois momentos: o esclarecimento dos pressupostos terico-metodolgicos que orientam a anlise literria realizada na segunda parte; a apresentao de um dos contos do escritor chileno Alejandro Zambra, que compe a coletnea intitulada Meus Documentos, editada e publicada em lngua portuguesa pela Cosac-Naify, em 2015. No decorrer da exposio, a transio democrtica chilena (e, ambiguamente, o regime militar, instaurado no pas entre 1973 e 1989, e a memria da Unidade Popular, vigente entre 1970-1973) ser o tema que sustentar os debates. Integrar a exposio a captura da subjetividade no campo da histria, que encontra na literatura, especialmente, recursos para trazer luz s experincias limtrofes. Em Formas de voltar para casa, por exemplo, o tema das geraes espreita: respiramos no romance algo delicado que se interpe entre pais e filhos, entre geraes. Seria esse o espao do esvaziamento democrtico pelo apego formalidade (em todos os sentidos da vida) que se instaurou na vivncia ps-ditatorial? Esse algo delicado que o romance oferece a experincia, mediada pela memria e pelo trauma. Como leitor/espectador, conseguimos identificar o fio de detalhes no cotidiano mido de cada qual, anunciando a tragdia que, no futuro (o presente do narrador), seria a dor compartilhada de todos. Partindo dessa pista, que reaparece nos contos, proponho examinar o dilogo (literrio) entre geraes, indo ao encontro de novidades surpreendentes; contribuies vvidas relao dinmica entre o tempo e a experincia, o fato e a fico. Desafio-me, por fim, a construir um campo em que literatura e histria partilhem seus saberes. A atmosfera dos contos contribui para examinar, com mais vagar e profundidade, a memria e o trauma envoltos nas escolhas polticas chilenas. Permite esclarecer tambm de que maneira a subjetividade contempornea registra uma experincia do olhar: aquele que, em democracia (deficitria que seja), dirige-se ao ado mais recente, o dos golpes e regimes militares.
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Fernanda Palo Prado
Dinmicas da memria ou a mar do tempo: consideraes sobre o anacronismo em "Pura Memoria" de Pedro Orgambide
Resumo:Nesse trabalho pretende-se circular por trs aspec...
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Resumo:Nesse trabalho pretende-se circular por trs aspectos do anacronismo resultantes da dinmica da memria: o tempo da leitura, o tempo da escrita e o tempo narrado. O primeiro o, portanto, ser propor uma breve discusso do conceito de anacronismo utilizado, partindo dos estudos de, entre outros, Georges Didi-Huberman e Jacques Rancire. O romance em questo o "Pura Memoria", publicado em Buenos Aires, em 1985, pela editora Bruguera, escrito por Pedro Orgambide [1929-2003], argentino, peronista, neto de imigrantes (espanhis e judeus). Esse romance traz como pano de fundo a histria argentina, como se nele estivesse uma verso dessa histria luz das vivncias e das memrias desse autor que esteve exilado no Mxico entre os anos de 1974 e 1983, de onde dedicou-se a escrever e a refletir sobre a histria de seu pas. Com a histria argentina imbricada na trama, so narrados diversos tempos histricos e alguns momentos-chave da histria argentina, como o 17 de outubro de 1945, data conhecida e mitologizada como marco de origem do peronismo, ou como o bombardeio na Praa de Maio em 1955, cena que encerra o romance. No se trata de contestar ou confirmar uma verdade real ou histrica na fico desse romance. Trata-se de perceber o movimento ininterrupto, dinmico, dialtico e de dilogos entre essas duas diferentes formas narrativas: fico e histria. Busca-se, portanto, a partir das dinmicas entre fico, histria e memria, apresentar uma proposta resultante da experincia de leitura da obra literria mencionada. Nesse sentido, pretende-se construir uma verdade provisria, tangvel atravs do texto de "Pura Memoria", realizada pela leitura. Estar diante do romance, como leitor[a], perceber a sobrevivncia e o o materialidade e espectralidade do tempo. E ainda, nesse romance, o leitor que convidado a juntar, a completar e a dar sentido aos fragmentos da narrativa, sugerindo-lhe uma postura ativa: a de um leitor que vai cosendo os fios da narrativa, construindo e atribuindo-lhe significados. Assim, a proposta aqui percorrer o romance "Pura Memoria" partindo da reflexo sobre o tempo e de como ele pera os diversos momentos a trama, ultraando-a.
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Nuno Gonalves Pereira (UFRB - Universidade Federal do Recncavo da Bahia)
Cultura e poltica nas narrativas de Alejo Carpentier: potica da histria e debate latinoamericanista.
Resumo:O presente trabalho aborda o problema da represent...
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Resumo:O presente trabalho aborda o problema da representao literria da histria em dois romances histricos de Alejo Carpentier: O reino deste mundo e A consagrao da primavera. A eleio desses romances decorre da perspectiva de abordagem que adotamos e do interesse central de nossa pesquisa: a articulao entre a reflexo latinoamericanista e o tema da revoluo social na produo intelectual deste escritor cubano. A anlise comparativa destes romances, escritos e publicados em perodos distintos e marcados por circunstncias polticas diversas, nos permite problematizar a partir das suas diferenas estilsticas e ideolgicas, como os propsitos de formulao de uma interpretao da realidade latino-americana se alteraram profundamente no pensamento de Alejo Carpentier; apesar da permanncia de uma unidade temtica central (as revolues) e da opo por um determinado gnero de escrita (a novela histrica).
Nesse trabalho buscamos percorrer, os romances histricos de Alejo Carpentier, tentando identificar as transformaes e permanncias das idias de revoluo e Amrica latina nessas obras. Ao problematizar as transformaes e as contradies entre as diferentes concepes de histria que regem as composies dos romances histricos de Carpentier nos guiamos pelas seguintes questes: Seria possvel agrupar sob um nico conceito de romance histrico essas obras? Como se apresenta em cada uma delas a viso do autor sobre a cultura latino-americana e qual a relao desta com a ao poltica? Quais as articulaes que essas narrativas estabelecem entre os tempos ado/presente/futuro e qual o lugar da revoluo como conceito modulador dessas articulaes?
Apresentando a tese central que viemos desenvolvendo, nestes ltimos anos em que nos debruamos sobre os romances histricos de Alejo Carpentier e que poderia ser resumida da seguinte maneira: existe uma soluo de continuidade radical entre as representaes da histria que definem esttica e politicamente os romances histricos O reino deste mundo e A consagrao da primavera.
Posicionando-nos contra a viso teleolgica, to difundida por uma parcela importante da extensa fortuna crtica do autor, que insiste na leitura que atribui aos anos de formao do jovem Carpentier uma revolta embrionria que teria dado origem ao personagem mundialmente conhecido do intelectual-embaixador da revoluo cubana, viemos insistindo na necessidade de historicizar a produo literria deste autor; procurando relacionar em cada um de seus romances histricos: o tempo de escritura, o tempo da narrativa e o tempo utpico. Para isso nos foram de fundamental importncia a consulta de seu epistolrio, a anlise de suas crnicas jornalsticas e a leitura minuciosa dos intelectuais que lhe eram contemporneos.
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Rafael Vaz de Souza
Do pesadelo da histria ao sonho da memria: negao e recuperao da argentinidade em dois romances de Julio Cortzar
Resumo:Um dos principais nomes do chamado Boom da narra...
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Resumo:Um dos principais nomes do chamado Boom da narrativa latino-americana, o escritor argentino Julio Cortzar deixa o seu pas no ano de 1951, durante o governo de Juan Domingo Pern e se autoexila em Paris. Autor at ento desconhecido, Cortzar havia acabado de publicar, alm de alguns textos sob o pseudnimo de Julio Denis, sua primeira coletnea de contos, Bestiario, cujos relatos se inscrevem todos no gnero da literatura fantstica e so marcados por uma ameaa fantasmal e inexplicvel que acossa os protagonistas. Por seu contexto de produo, contos como Casa tomada" e Las puertas del cielo" foram lidos por grande parte da crtica segundo uma interpretao poltica e entraram para o rol dos grandes textos antiperonistas da literatura argentina.
Porm, ao mesmo tempo em que compunha estes relatos, Cortzar havia escrito seu primeiro romance, El examen, terminado no ano de 1950 e publicado postumamente. Ao contrrio da multiplicidade de interpretaes que permitem os contos de Bestiario, o texto do romance claramente uma alegoria da Argentina sob o governo peronista, representado sob a chave da histria como pesadelo. Nele, o clima asfixiante e montono da capital Buenos Aires revela uma cidade e um pas atrasada, provincial e violenta. Se tais caractersticas j fariam parte, segundo os prprios protagonistas, de uma suposta essncia nacional do argentino, elas teriam se exacerbado com o governo peronista. Asfixiados em um pas que no mais reconhecem como seu, os personagens acabam por negar todo e qualquer elemento vel de constituir uma suposta argentinidade, sendo o tango e a mitologia gaucha seus alvos principais.
Escrito mais de dez anos depois da sada de Cortzar da Argentina, Rayuela, sua obra de maior sucesso crtico e que definitivamente o erigiu como um dos maiores escritores latino-americanos do sculo XX, recupera muitos dos temas abordados por El examen e tambm enfatiza o provincianismo e o vazio intelectual do pas. Porm, seu tom rememorador e nostlgico procura se aproximar dos temas tipicamente argentinos e sua construo da cidade de Buenos Aires se d numa chave costumbrista, o que acaba por erigi-la como local conciliador, onde no apenas as classes sociais se entendem entre si, num mosaico social coerente, como tambm seu protagonista, Horacio Oliveira, se reencontra com o pas que havia abandonado anos atrs e ao qual foi obrigado a voltar. Desta forma, tanto o tango como a figura do gaucho so recuperados pelo texto como chaves de representao e o ao pas deixado para trs.
Em nossa apresentao, enfim, procuraremos mostrar como se deu, de um romance a outro, este movimento, que foi da negao ferrenha da argentinidade recuperao nostlgica de seus elementos mais tpicos.
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ST - Sesso 2 - 17/07/2019 das 14:00 s 18:00 1e5t6h
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Angelo Adriano Faria de Assis (Universidade Federal de Viosa)
Narrativas ficcionais, histrias representadas: A Inquisio retratada pela Literatura
Resumo:So j bem conhecidos da historiografia brasileira...
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Resumo:So j bem conhecidos da historiografia brasileira os estudos que abordam a Inquisio portuguesa, que funcionou entre 1536, data de sua implantao, e 1821, quando foi extinta). Nas ltimas dcadas, o Tribunal do Santo Ofcio e suas vtimas vem sendo analisados por pesquisadores com abordagens as mais distintas, permitindo um olhar cada vez mais diversificado sobre a temtica. Fruto, em boa medida do surgimento e fortalecimento de programas de ps-graduao por todo o Brasil, do maior contato entre pesquisadores de todo o mundo, da divulgao de trabalhos cientficos em formatos e plataformas diversificadas e, no menos importante, do processo de digitalizao e disponibilizao do acervo referente Inquisio presente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, que democratizou o o informao a todos os interessados na temtica. Mas no apenas a historiografia se interessa pelo assunto: a Inquisio tema de filmes e sries televisivas, jogos de videogame Tambm no so poucas as obras de fico peas teatrais, contos, romances - que abordam a intolerncia e os dramas pessoais de indivduos perseguidos em nome da pureza da f crist. Escritos que mesclam personagens reais e fictcios, acontecimentos conhecidos ou inventados, (re)criados pela criatividade da narrativa literria. Exemplo breve desta produo pode ser percebida em obras como O Santo Inqurito, de Dias Gomes, Os Rios Turvos, de Luzil Gonalves Ferreira, O Primeiro Brasileiro, de Gilberto Vilar, 1591 - A Santa Inquisio Na Bahia E Outras Histrias, de Nelson Arajo, Na noite do ventre, o diamante, de Moacyr Scliar, Desmundo, de Ana Miranda, entre tantos outros. A partir das relaes entre Literatura e Histria e de suas formas especficas de enxergar o ado como campos de conhecimento com suas particularidades, esta comunicao tem por objetivo discutir algumas destas obras; diagnosticar como a Inquisio, seus personagens e vtimas so apresentados pela Literatura; como o facto representado pelo ficto, bem como discutir at que ponto a escrita literria permite uma anlise do ado que permita compreender melhor este mundo de medo e seus desdobramentos e como o conhecimento histrico, por sua vez, colabora na construo da narrativa literria.
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Artur Vitor de Arajo Santana (UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Embriagado pela Musa inspiradora: Dilogos entre a Histria e a produo literria dos sculos XIX e XX
Resumo:Neste trabalho, em dilogo com a Histria Cultural...
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Resumo:Neste trabalho, em dilogo com a Histria Cultural, propomos analisar a relao entre a Histria e a produo literria nas ltimas dcadas do sculo XIX e na primeira metade do sculo XX, especialmente o perodo histrico que envolve a escrita das obras O sertanejo (1875), de Jos de Alencar, Os sertes (1902), de Euclides da Cunha e Fidalgos e Vaqueiros (1989), de Eurico Alves Boaventura, livro que foi publicado ps-mortem do autor, que so compreendidas enquanto fontes e objetos de anlise. Para isso, torna-se necessrio analisarmos a concepo de literatura entre o perodo que tomamos como recorte temporal, refletindo sobre a relao da escrita literria com a arte e os projetos poltico-sociais que defendiam. Posteriormente, dialogamos com os historiadores que anteriormente se debruaram para pensar a relao fronteiria entre o discurso historiogrfico e a Literatura, como White (1994), Soares (2006) e Oliveira (2016). Tecemos todo o escrito que origina esse trabalho, com os conceitos de representao, apropriao e leitura, defendidos por Chartier (2002; 2004), que so tencionados com o objetivo de compreender a elaborao da cultura escrita e sua relao com os debates histricos. Trabalhar com literatura, enquanto fonte historiogrfica e objeto de anlise, possibilita ar imaginrios, cores, aromas, sabores, afetos, sentimentos, uma riqueza de informaes que dificilmente seria ada por outro tipo de documento. Os literatos conseguem materializar sensaes que anteriormente eram possveis apenas serem pensadas. Mas com a tentativa de se consolidar enquanto um campo cientfico, os profissionais que produziam histria se distanciaram cada vez mais da narrativa literria, que ou a ser lido como um espao ficcional, da inveno, despreocupado com o real, enquanto a Histria teria o papel de construir a verdade, ou uma verso dela, atravs da reconstruo do ado. Com a influncia do cientificismo, a historiografia sacralizada, enquanto o trabalho com as letras subjugado ao campo artstico (SOARES, 2006), sendo necessrio distinguir os mecanismos de tessitura do fazer histria e da literatura, o que reveste uma sisudez na produo histrica, para garantir um ar de imparcialidade e neutralidade, atribuindo um verniz cientfico o campo que se tateia, como se toda pesquisa no surgisse de uma inquietao pessoal e no estivesse emprenhada de posicionamentos e reflexes do autor que lhe atribui forma. Por esse motivo, torna-se necessrio analisarmos como historicamente se deu a relao histrico-literria e os caminhos possveis para o dilogo entre os campos.
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Clarissa Gomes Pesente
Futuro til, ado intil: o tempo no romance "O Mulato" (1881), de Alusio Azevedo
Resumo: Em 1881, Alusio Azevedo publicava, pe...
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Resumo: Em 1881, Alusio Azevedo publicava, pela tipografia do jornal maranhense O Pas, o romance naturalista O Mulato. O enredo do romance se desenvolve em torno da personagem de Raimundo, que, aps ter ado praticamente toda a sua vida em Portugal, se v diante da necessidade de retornar sua provncia natal, So Lus, para resolver assuntos de herana. O jovem desconhecia suas origens: do pai, sabia apenas que este era um homem de posses. somente prximo ao desfecho que lhe revelado que ele era filho de umas das escravas de seu pai e de que, portanto, carregava a alcunha de mulato. A trama do romance se desenvolve em torno da impossibilidade de Raimundo casar-se com sua prima Ana Rosa em funo do preconceito em relao sua condio.
O contedo do romance e sua divulgao parecem estar associados ao envolvimento de Alusio Azevedo com a imprensa maranhense. Azevedo contribua com crnicas para o jornal O Pensador desde 1880, participando ativamente do programa anticlerical a que o jornal se propunha. Em suas crnicas, Alusio Azevedo posiciona-se abertamente contra as instituies que, segundo ele, eram responsveis pelo atraso moral, intelectual e artstico da provncia: a Igreja e a escravatura.
Desde o trabalho de Josu Montello, que analisa toda a contenda que se formara na imprensa entre Alusio Azevedo e os clrigos maranhenses, no novidade interpretar a narrativa de O Mulato a partir da considerao de que ela representava uma crtica do autor, por meio de recursos literrios, aos setores tradicionais daquela sociedade. O que o presente trabalho procura no insistir no carter de crtica da obra, mas enriquecer a interpretao dessa crtica a partir da anlise do elemento do tempo. Como notado, as personagens foram concebidas como pertencentes a tempos distintos e at opostos. Raimundo, apresentado como um homem cujo pensamento seria compatvel com os novos tempos, se oporia aos maranhenses, presos a comportamentos de um ado fadado a desaparecer.
A anlise da questo do tempo abriu caminho para uma srie de reflexes mais amplas, no se limitando demonstrao de como o elemento do tempo mobilizado na construo narrativa. Em primeiro lugar, a concepo do tempo desenvolvida na obra pde ser relacionada s noes de arte apresentadas por Alusio Azevedo. Alm disso, a prpria relao entre literatura e histria e as especificidades e possibilidades apresentadas por cada um desses discursos teve de ser explorada. A anlise do romance foi enriquecida, ainda, pela considerao das diferentes experincias histricas dos homens com o tempo, ou maneiras de articular e conceber ado e futuro. Assim, partindo da narrativa literria de O Mulato, foi possvel conduzir discusses caras s problemticas da Histria.
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Israel Ozanam de Sousa Cunha
O estudo da ficcionalidade nas fontes como resposta ao problema do discurso referencial em histria
Resumo:Nas ltimas dcadas do sculo 20, as controvrsias...
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Resumo:Nas ltimas dcadas do sculo 20, as controvrsias em torno da possibilidade de conhecermos o ado atravs da historiografia se concentraram consideravelmente na escrita do historiador e em sua comparao a outros tipos de escrita, em particular as dos romancistas. Desse modo, historiadores se viram na necessidade de lidar com questionamentos da cientificidade de seus textos, levantados em parte no contexto de emergncia das anlises estruturais da narrativa literria na Frana a partir dos anos 1960. Caracterizada em diferentes partes da Europa por estudar agentes histricos que geralmente no produziram fontes escritas sobre suas prprias experincias, a histria social se tornou uma das frentes desse debate interdisciplinar. Entretanto, apesar dos esforos de crticos e defensores, como Hayden White e Carlo Ginzburg, a relao entre imaginao e empiria na representao textual da realidade nunca me parece ter sido historicizada no interior do debate. Em outras palavras, a indagao epistemolgica sobre o trabalho dos historiadores baseada em definies atuais de cincia, fico, gneros literrios e realidade no foi suficientemente articulada com a anlise de como debates dessa natureza se davam no contexto de escrita dos registros nos quais a historiografia se baseia para referir-se ao ado. Portanto, nesta apresentao, a minha inteno fazer um convite para que, na anlise da relao entre histria e fico, tiremos um pouco o foco da historiografia e o transfiramos para as suas fontes, no como intuito de abandonar o olhar sobre aquela, mas sim para lan-lo em bases diferentes, por meio do confronto entre a posio do historiador enquanto narrador dotado de intenes e aquela dos autores dos documentos do ado, no entendidos meramente como uma elite intelectual ideologicamente motivada, mas sim como sujeitos tambm dotados de ideias sobre a articulao entre fico e referencialidade, teorizao e observao quando escreveram sobre o mundo a seu redor. Para isso, importante lembrar que a distino entre literatura e cincia hoje constatada, e por vezes questionada, s comeou a virar um consenso acadmico nas primeiras dcadas do sculo 20, aps longas discusses realizadas no sculo anterior. Nesse sentido, tentarei demonstrar que um ponto de partida para uma teoria da histria que tambm seja histria das fontes entender as possveis convergncias entre a narratologia do final do sculo 20 dedicada a investigar a natureza da ficcionalidade, como a proposta por Dorrit Cohn, e as discusses do final do sculo 19 que abordaram, por um lado, a representao cientfica da realidade no romance, drama e poesia e, por outro, a ficcionalizao em gneros geralmente no considerados literrios, como a reportagem.
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Patrcia Aparecida Guimares de Souza (USP - Universidade de So Paulo)
Trs olhares oitocentistas sobre a balaiada
Resumo:Poucos anos aps o desbaratamento da Balaiada, a r...
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Resumo:Poucos anos aps o desbaratamento da Balaiada, a revolta ou a ocupar espao na Histria Oficial do Imprio. A obra de Domingos Gonalves de Magalhes A Revoluo da Provncia do Maranho. Desde 1839 at 1841. Memria Histrica Documentada, em que reverencia a represso da revolta perpetrada pelo futuro Duque de Caxias, foi publicada com louvores em 1848 na Revista do IHGB. Contudo, a leitura de Gonalves de Magalhes no foi unnime. Em 1850, recebeu uma resenha crtica na "Revista Universal Maranhense". Seu autor, ainda que elogiasse a qualidade histrica da obra, dizia que Magalhes teria se deixado influenciar por alguns relatos inverdicos e partidrios.
Na obra de outro membro do IHGB, o poeta Gonalves Dias, tambm podemos observar referncias Balaiada. Elas aparecem, de maneira direta, no poema Desordem em Caxias, que tem como subttulo ano de 1839, publicado em 1848 em Segundos Cantos. Tambm podemos inferir referncias revolta nos poemas Morro do Alecrim e A vila maldita, a cidade de Deus de Primeiros Cantos, publicado em 1847. Ainda, no ensaio em prosa potica, Meditao, possvel observar o olhar do poeta sobre as revoltas Regenciais.
Entre os textos de Gonalves de Magalhes, de seu comentador e de Gonalves Dias encontramos estruturas estticas e objetivos bastante diversos. No primeiro, temos um trabalho historiogrfico em que evidente a intenso de que o leitor se perceba em contato com uma verdade histrica, documentada. No segundo, tambm encontramos esta busca pela verdade e, tendo o primeiro texto por base, dialoga com ele e funciona como uma resenha crtica. J nos escritos de Gonalves Dias, no encontramos o desejo de capitar uma verdade documentvel, mas, de acordo com a esttica romntica, exprimir as emoes e sentimentos provocados pelos eventos contados. Isto no o impede de tambm ter um sentido histrico em que busca no ado e no presente elementos de construo do porvir. Lembremos que o romantismo oficial brasileiro esteve diretamente ligado a formao da identidade nacional.
Assim, partindo de experincias de escrita e leitura diversas, buscaremos observar as aproximaes e dissonncias entre esses autores na representao da Balaiada. Daremos enfoque forma como foram retratadas a provncia do Maranho, sua populao, a relao entre a provncia e o Imprio e a adeso s ideias liberais.
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Sheila Virginia Rocha de Oliveira Castro (USP - Universidade de So Paulo)
Cultura de histria e as representaes da Independncia na literatura brasileira
Resumo:
Apresentarei a pesquisa que desenvolvo no mestra...
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Resumo:
Apresentarei a pesquisa que desenvolvo no mestrado em que analiso as representaes da Independncia na literatura brasileira entre os sculos XIX-XXI, em gneros variados (romances, epopeias e um cordel). A categoria de anlise que conduz o trabalho a cultura de histria, que engloba um conjunto de saberes, ideias, atitudes e valores que uma sociedade tem sobre sua histria. Os silncios que possam existir tambm so importantes, pois podem indicar relaes de um ado conflitivo, de negao, recusa ou indiferena que uma sociedade tem com seu ado. Interessa examinar o conjunto de tais representaes em seus amplos aspectos poltico, social, econmico e cultural.
A literatura importante componente cultural e tambm de conhecimento, pois mobiliza ideias e imaginrios. De uma forma dialtica, a literatura forma e formada por ideias, conhecimentos, representaes e imaginrios sociais e culturais. Assim, ela parte importante e relevante para formao de uma cultura de histria. Para mapear a relao entre a literatura com a cultura de histria foram utilizadas obras de gneros variados que alcanam pblicos distintos, e foi feita uma anlise de longa durao que tem por objetivo perceber como as obras literrias trataram a histria da Independncia do Brasil, observando as variaes, transformaes ou reiteraes ao longo do tempo. Assim, possvel perceber como a histria, a literatura e essa cultura de histria se relacionam.
O tema da Independncia, como marco fundador da nao, est intrnseco na sociedade brasileira, ou seja, praticamente todos os brasileiros possuem alguma ideia a seu respeito, seja ela construda atravs de consumo cultural (telenovelas, cinema, literatura, artes em geral), de contedo da internet, e/ou pelo prprio ensino bsico. Dessa forma, apresenta-se como tema relevante, pois tambm caracteriza uma ideia desse constructo ideolgico, imaginrio, poltico e social, bem como de memria coletiva sobre o Brasil, a nao e a identidade do brasileiro.
Algumas questes relevantes na relao entre cultura de histria e literatura sero tratadas: o entrecruzamento entre histria e fico nas obras; as mudanas de interpretao que podem ocorrer nas leituras e releituras sobre as representaes da histria, uma vez que o repertrio do leitor se altera ao longo do tempo; se as representaes da histria nas obras literrias se articulam com a historiografia, visto que esta sofreu alteraes ao longo dos anos e possui interpretaes variadas; as relaes entre cultura de histria, memria, conscincia histrica e cultura poltica.
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ST - Sesso 3 - 19/07/2019 das 08:00 s 12:00 4c3kw
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Andreya Susane Seiffert
Os futurians e a produo da fico cientfica nos Estados unidos da dcada de 1940
Resumo:he Futurian Society of New York, ou simplesmente T...
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Resumo:he Futurian Society of New York, ou simplesmente The Futurians, foi um fandom americano que existiu de 1938 a 1945. Fizeram parte do grupo vrios nomes importantes para a fico cientfica nos anos seguintes, como Donald Wollheim, Frederik Pohl, Isaac Asimov, Damon Knight e Judith Merril. No incio da dcada de 1940, os futurians comearam a ter um papel importante no cenrio da fico cientfica profissional, tanto publicando histrias quanto editando as revistas pulp. Ao todo, eles controlaram seis publicaes diferentes, onde publicaram dezenas de histrias.
No presente trabalho, eu procuro discutir a participao dos futurians no mercado editorial de pulps do comeo dos anos quarenta. Para tanto, pretendo abordar as histrias publicadas nessas seis revistas e como elas se relacionam com as questes do seu tempo. Uma descoberta interessante da minha pesquisa que, embora alguns anos antes os futurians houvessem clamado por uma fico cientfica engajada, quando eles se viram na posio de escritores e editores, o nmero de histrias ou editoriais falando de poltica bastante pequeno. O que se percebe que, ao longo do tempo esses posicionamentos foram se alterando, mas colou-se ao grupo uma imagem de comunista, que muitas vezes dura at hoje.
Alm das histrias, pretendo tratar dos editoriais e notas espalhadas ao longo da revista. Percebe-se nelas uma tentativa por parte dos editores de protocolar a leitura da revista e tambm de debater questes que eles consideravam importantes. Um desses tpicos a participao dos Estados Unidos na Segunda Guerra. Depois do ataque a Pearl Harbor, as revistas editadas pelos futurians trouxeram notas do grupo em apoio ao pas algo bem surpreendente j que alguns anos antes eles eram contrrios entrada dos Estados Unidos na guerra.
Outra parte importante das revistas pulp poca era a seo de carta dos leitores. Presente desde a primeira revista dedicada exclusivamente fico cientfica, criada em 1926, esse espao era fundamental para os leitores, pois permitia uma troca de opinies e nutria o sentimento de pertencimento a uma comunidade. Era importante tambm para os autores e editores, que tinham um a respeito das histrias e do que agradava ou no os leitores. bem curiosa as sees de cartas dos leitores das revistas editadas pelos futurians, j que diversas vezes eles prprios comentavam as histrias uns dos outros usando pseudnimos. Por fim, abordarei rapidamente tambm as ilustraes das revistas - para os fs, elas eram quase to importantes quanto as prprias histrias. As capas e desenhos ilustrando as histrias ajudaram a formar o imaginrio sobre vrias questes e alguns futurians tambm se dedicaram a elas.
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Clvis Frederico Ramaiana Moraes Oliveira (UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana)
Cidade de magarefes, mulheres, pretos: A Feira de Juarez Bahia, 1942-1986
Resumo:Entre as dcadas de 1940 e a de 1980 a cidade bai...
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Resumo:Entre as dcadas de 1940 e a de 1980 a cidade baiana de Feira de Santana experimentou profundas mudanas, tanto no aspecto demogrfico, cerca de 20 mil moradores no marco inicial para pouco mais de 230 mil no recorte final; quanto no tocante ao perfil econmico, com a construo, nos anos de 1970, de um parque fabril.. As transformaes que atingiram o antigo pouso de vaqueiros e tropeiros dialogavam com um modelo de desenvolvimento, com projetos hegemonizadores que desejavam a produo de um pas urbano usando mtodos privilegiadores de usos acrticos da tcnica. Por conta disso, ruas foram mudadas, bairros planejados construdos, o comrcio de gado retirado de lugar. Tambm a feira-livre, marco inicial da povoao e motivao do seu nome, se foi, para substitu-la um planejado e moderno Centro de Abastecimento (CA). De baixo dgua l se vai a vida inteira, ainda que no se trate de uma barragem, fato que inspirou a msica de S e Guarabira, a analogia pode ser considerada como um bom ponto de partida, sob as muitas construes que lavoraram um perfil novo para a urbe feirense, vidas inteiras se foram, em alguns casos literalmente, memrias foram soterradas por camadas de concretos e asfaltos, sociabilidades desrazoadas por outras razes institudas verticalmente, vidas suburbanas engolidas pela voracidade urbanizadora. O escritor negro Juarez Bahia (1930-1998) experimentou as transformaes narradas, desde as mudanas iniciais nos anos 1940, quando da primeira mudana da feira do gado e construo dos Currais Modelo, at o fim da feira-livre e seu aprisionamento no CA, no final da dcada de 1970. Como forma de significar o perodo, escreveu o romance Setembro na Feira (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986), maneira encontrada para produzir uma narrativa que dialogasse com a urbanizao da cidade. Diferente de outras escritas sobre urbes, o texto de Bahia recusa a histria contada pelos monumentos erguidos pelo Deus Progresso, procura dialogar com as memrias soterradas e se volta contra os mecanismos de silenciamentos organizados no centro da cidade. Trata-se de uma escrita que pe em relevo centros de sociabilidades populares e objetiva tirar sujeitos do esquecimento. Parcela importante do romance reporta os mecanismos de sobrevivncia das camadas subalternas e destaca o papel central de mulheres e negros nessa economia de pobres. A comunicao aqui resumida, parte de um trabalho intelectual de maior monta, pretende realizar uma leitura a contrapelo da escriturao, intentado desfazer as astucias da construo discursiva e sondar o inventrio dos materiais escolhidos pelo autor. Partindo do inventariamento do que foi usado, deseja tambm contrapor as alegorias lavoradas pelo escritor s principais imagens que marcam a urbanizao feirense.
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Ivan Lima Gomes (Univ. Federal de Gois)
De dandy a super-heri: as muitas vidas de Fantmas na Amrica Latina
Resumo:Nos dias atuais, expresses como convergncia de ...
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Resumo:Nos dias atuais, expresses como convergncia de mdias e remidiao so utilizadas dentro e fora da Academia para dar conta de processos miditicos recentes, como os dilogos entre sries, filmes e histrias em quadrinhos (HQs) de um mesmo universo de personagens, ou a relao aglutinadora que a mdia digital mantm com suas predecessoras, tais como rdio e TV, por exemplo. Ambas as expresses lanam luz sobre o carter inter e transmiditico de boa parte da produo cultural contempornea. No entanto, tal processo no de todo novo e tampouco representa um marco dos nossos tempos globalizados. Irei aqui trabalhar que considero corroborar tal afirmao, proveniente da Frana e cuja estreia se deu h mais de um sculo atrs. Herdeiro da tradio de histrias de suspense e investigao, Fantmas o personagem-ttulo de uma srie de livros escritos por Marcel Allain e Pierre Souvestre entre 1911 e 1913. Seu xito comercial foi imeditado e logo motivou adaptaes para mdias relativamente novas poca, como o cinema e as HQs, por vezes j com outros autores. Em ambos os casos, estas linguagens introduziram novos elementos obra original, ao ponto de muitos associarem o nome Fantmas trilogia cinematogrfica dos anos 1960, cujos impactos se fizeram sentir, por sua vez, numa srie de HQs mexicanas publicada, a partir de 1966, pela editora Novaro. 50 anos aps sua primeira apario, o Fantomas mexicano perdia, alm do acento circunflexo, parte do charme misterioso e da violncia personificadas no dandy da Belle poque parisiense e tornava-se uma mistura de super-heri, James Bond e Robin Hood. A revista Fantomas tornou-se um sucesso latino-americano, em parte pelas histrias inseriam Fantmas no caldeiro cultural e conflituoso no qual vivia a Amrica Latina e o mundo dos anos 1960 e 1970. Tal cenrio motivou a publicao da histria La Inteligencia en Llamas, onde Fantomas precisa desbaratar, com apoio de intelectuais como Julio Cortzar e Susan Sontag, uma gangue dedicada a queimar todos os livros da humanidade. Ao tomar cincia desta revista, Cortzar decidiu reescrever tal histria, apontando que a queima de livros fora motivada, na verdade, por grandes corporaes capitalistas. Escrita no calor dos acontecimentos ligados sua participao no Tribunal Russell II, Fantomas contra los Vampiros Multinacionales , atualmente, uma das portas de entradas mais veis ao personagem Fantmas. Pretendo analisar tal jogo de reescritas, interpretaes e remidiaes a partir da obra do Cortzar, analisando sua relao com o cenrio poltico internacional e os jogos de referncia intermiditicos ali presentes, de forma a lanar luz sobre as relaes entre mdias e a histria da circulao de uma dada obra desde uma perspectiva histrica.
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Josiel dos Santos Lima (SEED - PR)
A contradio entre o sentimento de pas do futuro e a realidade perifrica nas primeiras obras literrias de fico cientfica brasileira
Resumo:A literatura de fico cientfica traz uma dificul...
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Resumo:A literatura de fico cientfica traz uma dificuldade aos tericos quanto sua definio. A maior parte dos estudiosos concorda que ela um subgnero da fantasia. Dessa forma, mais fcil dizer o que ela no . Os pases europeus, principalmente a Inglaterra, que aram por um processo de industrializao e desenvolvimento tecnolgico, ainda no sculo XVIII, foram os primeiros a produzir esse tipo de histria, tanto que Frankenstein, de Mary Shelley, publicado em 1818, considerada a primeira obra de fico cientfica. No Brasil, foi s no final do sculo XIX, em 1875, que se escreveu o primeiro livro com especulaes cientficas, chamado O Doutor Benignus, de Augusto Emlio Zaluar, que dialoga com o estilo de Jlio Verne. Para escrever este trabalho, fizemos um recorte temporal, no perodo entre 1875 e 1948, e selecionamos mais 3 obras, alm de O Doutor Benignus, so elas: A Amaznia misteriosa (1925), de Gasto Cruls; O presidente negro ou o choque das raas (1926), de Monteiro Lobato; e A cidade perdida (1948), de Jeronymo Monteiro. Utilizamos a crtica sociolgica para discutir como a sociedade brasileira influenciou os escritores da poca e como essa sociedade refletida nas obras. Temas como a utopia, distopia, especulaes futursticas e a contradio entre o potencial de um pas grande e a realidade perifrica sero identificados e analisados. Para embasar nosso trabalho, recorremos a tericos, pesquisadores e autores como Antonio Candido, Andr Carneiro, Brulio Tavares, Lo Godoy Otero, Roberto Causo, entre outros. Pretendemos aqui mostrar que a crena de que o Brasil tem condies para se tornar uma grande potncia tema recorrente nessas obras, porm, esbarra sempre num cenrio de pas latino, que imita as grandes naes e nunca chega onde deseja estar. A produo do gnero em terras brasileiras estava vinculada ao estgio de desenvolvimento do pas, uma vez que os personagens se revelam ivos frente tecnologia, ou seja, no a utilizam. Como de praxe, as novidades culturais e tecnolgicas vm dos pases centros do capitalismo, como na poca Inglaterra e Frana. A falta de um pblico leitor tambm levava nossos escritores a ter os olhos focados na Europa, uma vez que os leitores eram um pblico reduzido que mantinham seus ideais de valores voltados para a Europa e por isso, tentam buscar os modelos europeus para reproduzi-los aqui na Amrica.
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Magno Henrique de Souza Freitas (USP - Universidade de So Paulo)
Representaes da derrota no romance Zero: de Igncio de Loyola Brando
Resumo:Entre fins dos anos 60 e incio da dcada seguinte...
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Resumo:Entre fins dos anos 60 e incio da dcada seguinte, organizaes de esquerda armada cujas aes polticas tinham como objetivo viabilizar a revoluo socialista no Brasil, foram vencidas e desarticuladas pelas foras armadas do regime militar. A derrota do projeto revolucionrio defendido por tais agrupamentos serviu de inspirao para a escrita de alguns livros, dentre eles aquele que talvez o romance mais clebre de Igncio de Loyola Brando, Zero: romance pr-histrico, lanado na Itlia em 1974 e no Brasil no ano seguinte.
Censurado logo aps a publicao, o romance parece se constituir como um labirinto no qual se encontram fragmentos de um mundo marcado pelo signo da violncia. Essa temtica, dentro da qual figura a derrota como uma de suas expresses, permeia toda tessitura do livro, do enredo rocambolesco ordenao catica de suas clulas textuais.
Zero apresenta o percurso de Jos e Rosa pelas ruas de uma metrpole dominada pela misria e sufocada pelo poder discricionrio. Ao longo das trezentas pginas de romance possvel percebermos a remisso aos acontecimentos que iriam figurar como centrais para determinada memria social do regime militar, tais como o golpe de 1964, a guerrilha urbana, a experincia guerrilheira no Araguaia organizada pelo PC do B, a censura, a consolidao de uma indstria cultural. A pesquisa em andamento vem buscando investigar de que forma o contexto de produo da obra est imbricado nas opes estticas adotadas pelo autor. Outro objetivo analisar o efeito de real construdo pelo livro para a partir disso ensaiarmos o movimento de situar a realidade inventada por Loyola Brando dentro dos conflitos polticos verificados na realidade histrica.
Considerando o percurso de pesquisa trilhado at o momento, possvel posicionarmos o romance dentro de uma tendncia literria disseminada em outras obras lanadas durante os anos 1970, tais como: A Festa, Reflexos do Baile, Em Cmera Lenta, Quatro-Olhos. Uma das hipteses a ser sustentada, que diz respeito ao lugar do escritor no contexto de escrita do livro, gira em torno das implicaes do experimentalismo esttico visto em Zero para a configurao literria da derrota, pois se verdade que o romance compartilha alguns elementos estticos com um conjunto mais amplo de textos, tambm o que ele se destaca pelo modo como estetiza a temtica da violncia.
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Thiago Arnoult Netto (USP - Universidade de So Paulo)
Lavoura arcaica: texto e contexto
Resumo:O trabalho a ser apresentado consiste numa interpr...
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Resumo:O trabalho a ser apresentado consiste numa interpretao do romance "Lavoura arcaica", do escritor paulista Raduan Nassar. Publicado em dezembro de 1975 e imediatamente reconhecido pela crtica pelo seu valor literrio, o romance - junto dos demais textos que compem a breve produo publicada do autor - reconhecido hoje internacionalmente, fazendo com que Raduan Nassar se torne um dos nomes mais importantes da literatura brasileira dos ltimos 50 anos.
Concebido, elaborado e publicado numa poca marcada por uma produo literria que lanava mo do recurso direto a temas que estavam na ordem do dia, "Lavoura arcaica" chama a ateno por sua temtica arcaica e mtica, pelo primoroso trabalho de linguagem e pelas cifradas e remotas aluses ao presente histrico em que veio ao pblico.
A esta singularidade do romance de Nassar, soma-se a dificuldade - apontada por Sabrina Sedlmeyer - para se situar a obra no panorama mais amplo da literatura nacional: "Lavoura arcaica" parece recusar as categorias e linhagens cuidadosamente delineadas por historiadores da literatura brasileira.
sobre tais questes que me debruo neste trabalho, buscando identificar como "Lavoura arcaica" elabora seu prprio contexto atravs do dilogo que a prosa de Raduan Nassar estabelece com uma tradio mais ampla - literria, filosfica, religiosa. A elaborao de tal contexto se d pela mobilizao de um universo de referncias, aluses e citaes incorporadas ao texto do romance, fazendo deste um objeto de temporalidades mltiplas.
A tenso que advm dessa aproximao de tempos diversos, os contrastes que da emergem, ajudam-nos a compreender a elaborao contextual levada a cabo em "Lavoura arcaica", que por sua vez nos permite compreender melhor a relao especfica que o romance de Nassar estabelece com o seu presente histrico, com o universo social e cultural ao qual pertence.
A relao entre histria e fico s se torna inteligvel, em "Lavoura arcaica", atravs de uma interpretao que a todo momento de seu percurso tenha em vista o texto do romance, sem deixar-se levar pela ideia - um tanto quanto simplista - de que a realidade histrica objetiva ou os eventos que marcam o processo histrico e social brasileiro bastem para uma compreenso satisfatria da obra de Nassar.
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Victor Callari (COLGIO IMPERATRIZ LEOPOLDINA)
Literatura de testemunho; Segunda Guerra Mundial; Graphic Novels
Resumo:A literatura de testemunho pode ser considerada um...
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Resumo:A literatura de testemunho pode ser considerada um dos gneros mais importantes e pujantes da literatura do sculo XX, em especial aps as experincias traumticas desenroladas naquilo que Eric Hobsbawm denominou por Era das Catstrofes. O sucesso desse gnero literrio talvez resida no interesse do pblico por narrativas traumticas e de superao, uma vez que como disse Primo Levi, a morte, como trmino da existncia, no se narra (LEVI, 1990, p.47), mas de outra forma, a literatura de testemunho talvez deva ser entendida por sua relao com a ascenso da onda memorial e, assim, tambm como um dos sintomas do Novo Regime de Historicidade, para utilizarmos a noo desenvolvida por Franois Hartog. A despeito das possibilidades mencionadas, a memria, o testemunho e sua transmisso tornaram-se questes centrais na produo historiogrfica desde as ltimas dcadas do sculo ado, desafiando os historiadores em seu oficio e obrigando-os a olhar para outras formas de representao do ado em um dilogo interdisciplinar com a teoria literria, a filosofia e a sociologia dos textos.
O presente artigo apresenta as obras de trs diferentes artistas, Jacques Tardi e Art Spiegelman. Nelas, os artistas utilizaram a linguagem das histrias em quadrinhos como forma de contar as experincias vivenciadas por seus pais durante a Segunda Guerra Mundial e produzir sentidos para as experincias traumticas, sendo no apenas aquelas vivenciadas pelos pais, mas tambm aquelas vivenciadas por cada uma deles indiretamente no decorrer de suas vidas. As obras vo alm de uma representao dos eventos histricos da Segunda Guerra, elas tratam sobre o silncio, sobre trauma, sobre resistncia, sobre a memria e sua transmisso, entre tantos outros. Dessa forma, buscamos refletir sobre as tenses entre fico e realidade nessas representaes, sem cair na leitura maniquesta que busca ver na arte acertos e erros que tomam a representao historiogrfica do ado como a nica possvel, busca-se compreender essas narrativas em suas historicidades e verificar se elas podem ser enquadradas e consideradas parte da literatura de testemunho tradicional. O arcabouo terico e metodolgico do trabalho formado por uma base interdisciplinar de autores como Paul Ricoeur, Giorgio Agamben, Mrcio Seligmann Silva e Franois Hartog para as reflexes acerca da noo de testemunho e memria, Thierry Groensteen e Paulo para o embasamento metodolgico acerca da gramtica especfica da linguagem dos quadrinhos necessria para uma anlise que leve em considerao no apenas o enredo, mas a conjugao de textos e imagens.
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Vincius da Cunha Bistero
A montagem da histria em Calvrio e Porres do Pingente Afonso Henriques de Lima Barreto (1977) de Joo Antnio
Resumo:No livro Estratos do Tempo, Reinhart Koselleck esc...
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Resumo:No livro Estratos do Tempo, Reinhart Koselleck escreve que uma maneira de perceber a histria reconhecer a relao entre diversas camadas de temporalidade a partir de um momento particular. A expresso estratos do tempo uma metfora geolgica empregada pelo autor para dar sentido a essa acumulao do ado no presente. O reconhecimento desses estratos de tempo a partir de um determinado momento presente constitui-se tambm como maneira de recuperao de vestgios da experincia perdidos ou esquecidos.
A premissa apresentada pelo autor serve de ponto de partida para se refletir sobre o sentido da recuperao de certos momentos do ado nas fices histricas. A relao entre sintonia e diacronia permite que, nesse olhar para o ado, as semelhanas e as diferenas em torno do momento ficcionalizado da histria permitam elaborar uma reflexo sobre lastros e vestgios, rupturas e continuidades.
Joo Antnio, em 1977, escreveu um livro de gnero hbrido entre ensaio literrio, fico histrica e livro de recortes entitulado Calvrio e Porres do Pingente Afonso Henriques de Lima Barreto. Na abertura, o autor descreve o livro como um roteiro de bares frequentados pelo escritor Lima Barreto. A forma experimental, mesclando trechos de romances, contos e crnicas de Lima Barreto, comentrios de crticos sobre a obra do autor e o depoimento de Carlos Alberto Nbrega supostamente recolhido pelo narrador no Sanatrio da Muda da Tijuca no ano de 1970. O homem que lhe forneceu o rico depoimento sobre a vida de Lima Barreto era tido como caduco, manaco e esclerosado aspecto que coloca em suspenso a possvel veracidade do relato. O livro abre ainda com um ensaio do prprio Joo Antnio sobre a figura de Lima Barreto, autor tido por ele como mestre. J Joo Antnio diz: (...)no h aqui uma palavra minha. Como um montador de cinema, tesoura em punho, dei ritmo e respirao ao trabalho alheio. Assim, o autor suposto do livro teria articulado o ado, fazendo uso de estratgias de montagem para dar forma a um relato novo.
Partindo de Koselleck, ento, est apresentao buscar elencar os elementos destacados por Joo Antnio da vida e obra de Lima Barreto, e a maneira com que o autor busca recolher e apresentar a histria deste escritor em meio ditadura civil-militar brasileira. Qual o sentido de recuperar este escritor, naquela poca ainda pouco valorizado? O que o Rio de Janeiro de Lima Barreto pode falar sobre o Brasil da ditadura civil-militar? E que mediaes, reais e inventadas, usa Joo Antnio para trazer tona essa histria? Essas so algumas das perguntas que sero levantadas na apresentao, buscando delinear um percurso de investigao deste que o livro mais experimental do escritor Joo Antnio.
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ST - Sesso 4 - 19/07/2019 das 14:00 s 18:00 3p493x
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Jlio Pimentel Pinto (USP)
Para que serve um dirio?: histria e fico em 'Los diarios de Emilio Renzi'
Resumo: Os trs volumes de Los diarios de Emilio Renzi fo...
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Resumo: Os trs volumes de Los diarios de Emilio Renzi foram compostos a partir dos 327 cadernos em que Ricardo Piglia anotou, a partir de 1957 e por quase sessenta anos, seu cotidiano e suas leituras. Emilio Renzi personagem frequente de Piglia, assina alguns de seus textos de crtica e, para alguns comentadores, representa o alterego do ego. O leitor dos dirios nota, logo nas primeiras pginas, que a relao entre Piglia e Renzi complexa: o narrador alerta para a duplicidade ao usar a terceira pessoa para se referir ao autor do dirio e ao empregar aspas, recurso de citao, para lhe dar voz.
Marcados por uma vontade fundadora e por inmeras incertezas e hesitaes, Los diarios de Emilio Renzi sondam as possibilidades e os limites da construo de um dirio e renem a percepo do interior do exterior: as entradas ora assumem uma esttica do fragmento e apontam para o instantneo, ora desenham uma sequncia linear de leituras de formao; ora tratam da constituio do autor, ora negam a dimenso autoral e autobiogrfica e buscam registros das memrias coletivas histricas ou literrias.
Circulam, assim, por espaos marcados por compromissos distintos: a histria e seu empenho na busca da verdade possvel, a memria e seu contnuo esforo refundador do ado, a fico e sua tarefa imaginativa. Tambm focalizam personagens variados: um escritor em formao e seu aprendizado da leitura e da escrita; uma gerao que cresceu sombra da obra de Jorge Luis Borges e dispe-se a reconstruir suas afinidades literrias e a eleger outros precursores; um conjunto de intelectuais que se v diante de regimes fechados e de sucessivas perseguies polticas.
Ao mesmo tempo em que endossam a proliferao de eus (gostaria de escrever sobre mim mesmo em terceira pessoa) e procuram perspectivas alternativas do escritor, os trs volumes dialogam com a experincia histria e, para represent-la, constroem estratgias singulares de anacronismo, deslocamento e distanciamento.
Ricardo Piglia. Los diarios de Emilio Renzi. Vol. 1. Aos de formacin. Barcelona: Anagrama, 2015.
Ricardo Piglia. Los diarios de Emilio Renzi. Vol. 2. Los aos felices. Barcelona: Anagrama, 2016.
Ricardo Piglia. Los diarios de Emilio Renzi. Vol. 3. Un da en la vida. Barcelona: Anagrama, 2016.
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Leandro Antonio de Almeida (UFRB)
Se eu fosse Sherlock Holmes: o detetive ficcional como modelo para os leitores brasileiros na Primeira Repblica (1907-1930)
Resumo:Vinte anos depois de lanada na Inglaterra e segui...
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Resumo:Vinte anos depois de lanada na Inglaterra e seguindo uma moda sa prpria do cosmopolitismo da Blle poque, a fico sobre Sherlock Holmes chegou ao Brasil em um contexto de multiplicao e transformao dos es de narrativas. Foi editado em livro da Garnier em 1908 e 1909, ganhou os folhetins em diversos dos novos jornais dirios entre 1907 e 1911, foi assistido por espectadores em peas teatrais e filmes a partir de 1908 e, sobretudo, entre 1910 e 1912, foi publicado em fascculos de altas tiragens promovidos por uma das novas e mais importantes revistas ilustradas do perodo, Careta. A difuso do Sherlock integrou uma onda mundial de popularizao da fico de detetives no perodo, ao lado de outras personagens como Arsne Lupin e Raffles, inspiradas na personagem de Conan Doyle, bem como Nick Carter, Miss Boston, Lord Jackson e tantos outros.
Nosso objetivo nesse trabalho explorar os sentidos atribudos pelos leitores brasileiros fico policial em torno de Sherlock Holmes, no perodo de 1907 a 1930. Este ano no apenas marca a morte de Conan Doyle como referncia para transformao dos es de narrativas no Brasil, como o surgimento do cinema falado, a expanso do rdio e criao das grandes editoras e suas colees populares, que concorreram com os fascculos. Para explorar as leituras referentes ao perodo da Primeira Repblica, vamos nos valer de memrias, depoimentos, artigos de jornal e fico, sria e humorstica. A fico policial de Conan Doyle era lembrada como fonte de prazer e entretenimento, mas tambm aparece com destaque o Sherlock Holmes como modelo, logo em uma funo pragmtica de orientar a ao na realidade. Sherlock Holmes foi considerado o cone de um raciocnio indicirio que poderia ser aplicado a vrias dimenses da vida, sobretudo tomado como modelo de policial e investigador, embora tambm fosse acusado de indiretamente inspirar crimes ao afetar negativamente a sensibilidade dos leitores. Tais leituras se relacionam a um contexto de urbanizao e modernizao do cotidiano das cidades brasileiras, nfase no carter redentor da cincia e da tcnica, os quais repercutiram na imprensa e na tentativa de reformulao da polcia segundo os padres europeus. A figura de Holmes repercutiu de tal modo que a palavra sherlock se tornou um dos sinnimos de policial, e sherlockismo designou sua imitao pelos leitores, o que era uma forma de se situarem perante as transformaes sociais brasileiras nas primeiras dcadas do sculo XX.
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Leticia Bachani Tarifa (Universidade de So Paulo)
O jovem Ricardo Emilio Piglia Renzi l Borges e Cortzar
Resumo:Em 1957, ento com dezesseis anos, Ricardo Piglia ...
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Resumo:Em 1957, ento com dezesseis anos, Ricardo Piglia (1940-2017) comeou a escrever dirios, hbito que o acompanhou at seus ltimos anos de vida, quando uma doena irreversvel, a Esclerose Lateral Amiotrfica, lhe impediu de prosseguir na tarefa. Aqueles que acompanhavam o trabalho de Piglia j conheciam a existncia desses dirios, frequentemente citados em suas entrevistas e livros. Em 2012, portanto, o escritor decide organizar as anotaes de seus supostos 327 cadernos, escritos ao longo de mais de meio sculo e public-los anualmente, entre 2015 e 2017, em trs volumes: so Los diarios de Emilio Renzi. O ttulo da obra aponta, j de partida, para um distanciamento entre Ricardo Piglia e Emilio Renzi, o protagonista escritor dos dirios.
O primeiro volume abarca os anos de 1957 a 1967, anos iniciais em que Renzi est se formando enquanto leitor e escritor. Nesse romance de formao possvel percorrer as leituras feitas por esse jovem, cuja convico da vocao para a escrita impe um persistente movimento de elaborao das leituras feitas, no qual Renzi opera uma leitura de escritor (em contraposio leitura do crtico) da obra dos mais diversos escritores (so mais de 150 nomes de intelectuais e artistas citados ao longo do primeiro volume, tais como William Faulkner, Ernest Hemingway, Cesare Pavese, Roberto Arlt e Rodolfo Walsh), refletindo sobre possveis contribuies ou refutaes sua prpria potica.
Nesse trabalho especfico procura-se mapear as menes, no primeiro volume dos dirios, Jorge Luis Borges e Julio Cortzar, e as respectivas leituras de escritor realizadas por Renzi, perscrutando os movimentos de aproximao e de distanciamento do protagonista em relao a essas duas poticas consagradas da literatura argentina. Dessa genealogia textual pretende-se evidenciar as opes de Ricardo Piglia ao operar a montagem deste primeiro volume, ou seja, de qual maneira o escritor dispe os fragmentos de seu dirio oferecendo ao leitor um material que, embora ordenado cronologicamente, apresenta-se desordenado tematicamente. justamente essa estranheza da disposio das coisas que permitir a remontagem de um certo sentido da histria, que aponta para uma problematizao da construo das tradies literrias e dos cnones, os conflitos para que eles emerjam, e a posio do protagonista frente a essas dinmicas.
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Mateus Cavalcanti Melo (IFSC - Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Santa Catarina)
Os historiadores ficcionais de Jorge Lus Borges
Resumo:Este trabalho fruto de um dos captulos de minha...
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Resumo:Este trabalho fruto de um dos captulos de minha dissertao de mestrado em histria, defendida em 2015, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, sob orientao do Prof. Dr. Fernando Nicolazzi. O foco da mesma foi estudar e analisar uma srie de contos do renomado escritor argentino Jorge Lus Borges, que viveu na maior parte de seus anos em Buenos Aires, Argentina, durante boa parte do sculo XX, sendo hoje um dos escritores sul americanos mais reconhecidos e vendidos ao redor do globo. Em seus textos, podemos encontrar uma srie de "categorias", ou como gosto de chamar" smbolos" que se repetem pois, claramente despertavam muito o interesse do autor. Podemos citar alguns exemplos,; "tigres", "espelhos", "pampas", "infinito", "repetio", "biblioteca", "livros", "filosofia", "sabedoria rabe", "aritmtica", "lgica","mitologia", "escrita", etc... e entre esses smbolos temos tambm a "histria". O captulo tem por principal objetivo identificar e rastrear as percepes que o escritor argentino, Jorge Lus Borges, possua sobre a histria (mesmo no sendo historiador de formao) e sobre o papel/ atividade realizada pelos historiadores, e como essas se manifestam atravs de seus contos literrios. Por mas que se tratem de historiadores ficcionais podemos utilizar tais escritos para rastrear percepes que o Borges real possua sobre a histria. Para tanto, analisaremos trs contos produzidos em diversos e distintos momentos de sua vida. Nosso enfoque ser como Borges percebe o ato de se fazer/escrever histria, ou seja, como se d a produo, publicao, manifestao, divulgao e aceitao de um texto histrico, e para isso cotejaremos trs contos, La loteria en Babilonia, Tema del traidor y del heroe e Guayaquil.
Perceberemos que por vezes Borges ir tratar a histria como salvadora, capaz de gerar mudanas, j em outro momento lhe parecer banal e tratada com bastante ironia, como um conhecimento "intil". O principal objetivo identificar, como a histria (e os historiadores), em ltimo caso, sero aqui vistos como uma das temticas ou smbolos que mais povoou a carreira literria de Jorge Lus Borges, movimentando sua ateno de pensamento, e manifesta em forma de escrita literria.
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Mauricio Cardoso (Depto. de Histria FFLCH - USP)
Das artes narrativas e seus ensinamentos: uma interpretao do homem da multido em Edgar Alan Poe, Baudelaire e Walter Benjamin
Resumo:O conto O Homem da Multido de Edgar Alan Poe, p...
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Resumo:O conto O Homem da Multido de Edgar Alan Poe, publicado em 1840, narra a histria, em primeira pessoa, de um sujeito que, ainda convalescente, instalou-se na janela de vidro de um caf londrino para ar o dia sem um interesse prvio, apenas o prazer de olhar a multido. No entanto, ele nota que sua percepo, aguada pela doena em recuperao (o que significa uma relao peculiar diante da morte) transformou-o num observador sensvel. O narrador descobre, entre os transeuntes, um homem que lhe chama a ateno e comea a segui-lo numa interminvel perseguio pelas ruas de Londres, fustigado pelo mistrio desse personagem annimo to singular, mergulhado na multido. Charles Baudelaire retoma o conto no ensaio O Pintor da Vida Moderna, escrito em 1863, ao analisar a obra de Constantin Guys, um artista plstico contemporneo que parecia, aos olhos do crtico, condensar a atitude moderna: o homem do mundo, isto , o homem que se interessa pelo mundo inteiro e seus mistrios. Para Baudelaire, Guys se assemelha ao narrador de O Homem da Multido, cujo estado de convalescena provocaria uma aguada observao do que via das vitrines do caf. Finalmente, Walter Benjamin em O Flaneur e em outros ensaios sobre Paris do sculo XIX, via nessa figura do despretencioso andarilho urbano, nesses indivduos que avam o dia a circular por ruas e galerias, a personificao do esprito anti-capitalista: a resistncia produtividade, ao tempo da fbrica e necessidade visceral que temos de fazer os nossos dias render. O flaneur seria, assim, o indolente que dizia no ao capital, mas seria tambm o observador arguto da cidade, um tipo de detetive a desvendar a trama do urbano e seus personagens.
Essa comunicao procura indicar nessa atitude do homem do mundo equivalncias com determinada sensibilidade ou estado de esprito do pesquisador e com alguns procedimentos e princpios que tem tido papel relevante na produo do conhecimento no campo das humanidades. Dentre esses aspectos, pretendemos destacar a atitude narrativa presente em parcela da historiografia contempornea, as metforas da investigao que aproximam o historiador dos detetives atravs da noo de paradigma indicirio, bem como, as metodologias nascidas da teoria da deriva, no campo dos estudos urbanos.
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