ST - Sesso 1 - 16/07/2019 das 14:00 s 18:00 187213
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Alexandre Assis Tomporoski (Universidade do Contestado)
O capital, a seiva e a morte: aspectos da atuao da Lumber Company no planalto catarinense
Resumo:A presente proposta de comunicao situa-se no mb...
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Resumo:A presente proposta de comunicao situa-se no mbito dos estudos sobre o territrio do Contestado e, mais especificamente, sobre o Movimento Sertanejo do Contestado, que consistiu num complexo e multifacetado movimento social, deflagrado na regio do Planalto Norte Catarinense e Sul do Paran, entre os anos de 1912 e 1916. Embora a existncia de numerosa produo escrita e audiovisual que aborda o Contestado, durante dcadas a histria daquele movimento social fora relegada ao segundo plano. No entanto, a partir do incio dos anos 2000 ocorreu a retomada de esforos na anlise e interpretao do movimento do Contestado, o que proporcionou avanos e novas perspectivas sobre a histria daquele conflito social. A sofisticao da instrumentalizao terico-metodolgica, aliada a um perodo de expanso dos programas de ps-graduao no Brasil, propiciou o desenvolvimento de novas pesquisas sobre a temtica. Nessa direo, a presente proposta de comunicao debrua sobre a temtica do Contestado, a qual, apesar de todo o avano obtido pelas pesquisas nos ltimos anos, ainda caracterizada por lacunas no que tange aos processos de instalao (1911) e estatizao (1940) da Lumber Company. Faz-se mister atentar para o fato de que os estudos sobre o Contestado no se restringem apenas ao perodo de ocorrncia do movimento sertanejo (1912-1916), abrangendo, tambm, tanto o perodo anterior deflagrao do movimento, quanto o perodo posterior ao conflito, indicando a ampliao do recorte cronolgico nos referidos estudos. Esta comunicao prope ainda analisar de forma consistente o destino dado ao patrimnio Lumber Company aps a estatizao, em especial de suas ingentes reservas fundirias, algo que ainda no foi adequadamente investigado. H indcios de uma relao promscua entre os responsveis pelo patrimnio da Lumber aps sua estatizao, os poderes pblicos municipal e estadual e um consrcio de empresas privadas que adquiriu parte dos bens da empresa. Um aspecto precpuo da investigao refere-se ao processo de desapropriao de outra rea de terras, no ano de 1956, para a ampliao da rea necessria instalao do Campo de Instruo Marechal Hermes. Assim, esta comunicao analisa tambm, a atual situao das contendas judiciais decorrentes desse processo, as quais ainda se arrastam na Justia. Centenas de descendentes dos desapropriados ainda pelejam na via judicial para reaver as terras ou receber a indenizao adequada. Esse conjunto de questes, as quais incidiram e ainda impactam sobre a vida de milhares de pessoas residentes no Planalto Norte catarinense, necessita de respostas, algumas das quais so aguardadas h muitas dcadas.
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Antonio Alexandre Isidio Cardoso (Universidade Federal do Maranho)
A lngua geral dos trabalhadores da floresta: o Nheengatu e a escravido na Amaznia do sculo XIX
Resumo:O Nheengatu, tambm conhecido como lngua boa ou l...
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Resumo:O Nheengatu, tambm conhecido como lngua boa ou lngua geral da Amaznia, teve origem no trabalho de missionrios jesutas na empreitada colonial no Estado do Gro-Par e Maranho. O cdigo, oriundo de vertentes do Tupi, serviu como ferramenta de comunicao e catequese nos domnios lusitanos na poro norte da Amrica do Sul, espalhando-se entre indgenas aldeados e tambm entre as geraes de africanos escravizados que comearam a aportar em Belm e em So Lus a partir do sculo XVII. Muitos desses recm-chegados, falantes de diversos idiomas, tambm aram a dominar e influenciar a lngua boa. Ao longo do perodo colonial o Nheengatu tornou-se o principal idioma dos mundos do trabalho da floresta, conformado majoritariamente por trabalhadores indgenas e negros, que serviram como pontas de lana no processo de interiorizao da colonizao na Bacia Amaznica. Em oposio lngua portuguesa, falada pelas elites urbanas, a lngua geral estava presente no cotidiano de aldeias indgenas, senzalas, mocambos e comunidades de fugitivos. Ironicamente, a lngua geral, pensada para facilitar a conquista, acabou criando dificuldades para autoridades coloniais. Apesar de firmar-se processo de catequese, a lngua acabou ganhando outros sentidos, fortalecendo conexes entre personagens subalternizados. Mais que um dialeto de contato, o Nheengatu espalhou-se vigorosamente pela floresta, ao ponto de tornar-se, segundo estudo de Ribamar Bessa Freire, a principal lngua falada na Amaznia at meados do sculo XIX. Considerando o processo em tela, a presente comunicao tem o objetivo de discutir alguns aspectos dos usos do Nheengatu entre populaes subalternizadas, especialmente escravos negros e indgenas (submetidos a variadas formas de trabalho compulsrio). Sero apresentados anncios de fuga de escravos publicados em jornais de Belm e Manaus, que revelam personagens fluentes na lngua, homens e mulheres que ressignificavam o Nheengatu em suas rotas de fuga pela floresta, facilitando o contato com outras populaes de fugitivos. Alm dos peridicos, sero discutidos relatos de viajantes, relatrios de presidentes de provncia e fontes policiais, de modo a dar vazo a reflexes sobre os usos do idioma como forma de resistncia contra a escravido na Amaznia oitocentista.
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Antonio Luigi Negro (UFBa)
Proteger ndios, localizar trabalhadores nacionais
Resumo:A criao do Servio de Proteo ao ndio e de Loc...
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Resumo:A criao do Servio de Proteo ao ndio e de Localizao do Trabalhador Nacional no incio do sculo XX chama a ateno para a dupla funo dessa agncia do governo brasileiro: proteger povos originrios de um lado e localizar trabalhadores, de outro. A comunicao vai explorar as possibilidades de esses dois objetivos no correrem apenas em paralelo, havendo tambm pontos de encontro ou fuso, o que nos permite pensar na proteo ao indgena como um processo de sua converso figura do trabalhador nacional.
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Beatriz Gallotti Mamigonian (Universidade Federal de Santa Catarina)
A liberdade precria, as condies degradantes e as fronteiras da escravido
Resumo:Depois de muito tempo enfatizando as formas de sa...
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Resumo:Depois de muito tempo enfatizando as formas de sada da escravido e o protagonismo dos indivduos, a historiografia sobre a escravido tem se voltado para enfatizar a limitao ao o e ao exerccio da liberdade. evidente que no sculo XIX, a despeito do abolicionismo, houve um reforo da escravido e das outras formas de explorao do trabalho compulsrio. Esta apresentao traz reflexes preliminares de um projeto que investiga a prtica da escravizao de pessoas livres e a maneira como foi criminalizada e julgada no Brasil no sculo XIX. Um estudo anterior estabeleceu uma tipologia dos casos de escravizao ilegal no sculo XIX, identificando atravs dos processos-crime baseados no artigo 179 do Cdigo Criminal de 1830, que criminalizava a reduo escravido de pessoas livres, que as vtimas eram de trs grupos. O primeiro, composto por africanos importados depois da proibio do trfico e vendidos como escravos que teriam, pela lei de 1831, direito liberdade. Apesar do nmero de vtimas ser altssimo (estimado em 900 mil africanos entre 1830 e 1856), a criminalizao dos casos foi muito baixa. O segundo grupo foi composto por pessoas alforriadas condicionalmente que ficaram em situao de dependncia e foram reescravizadas. O nmero dessas vtimas provavelmente alto e geograficamente difundido. O terceiro grupo das vtimas de escravizao ilegal no sculo XIX foi composto por pessoas livres (normalmente de origem africana) sequestradas e vendidas como escravas. Muitos desses casos tiveram lugar nas regies de fronteira do Brasil com o Uruguai, a Argentina, a Bolvia e outros pases vizinhos onde a escravido havia sido abolida. Apesar de relativamente pouco frequentes, tais episdios receberam muito mais ateno das autoridades imperiais, de tal modo que os casos judiciais deste tipo so mais numerosos e alguns chegaram a ter tramitao regular. Um trao importante desses casos que tanto a reescravizao de libertos quanto o sequestro atingiam com muita frequncia mulheres e suas crianas, possivelmente em virtude da vulnerabilidade associada dependncia em que ficavam.
Nesta nova fase da pesquisa, com base em aes cveis de manuteno de liberdade e de processos-crime por reduo escravido de pessoas livres (art. 179 do Cdigo Criminal de 1830), o trabalho enfoca sujeitos que foram escravizados ilegalmente ou sofriam a ameaa de s-lo, para recuperar os termos das reivindicaes de condies dignas de vida e de trabalho e apurar o que era considerado aceitvel e o que era intolervel para os trabalhadores e o judicirio. Nesse sentido, o projeto dialoga com os estudos sobre trabalho escravo contemporneo e busca entender como era definida e percebida, entre o XIX e o XXI, a fronteira entre a escravido e a liberdade.
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Gladyson Stelio Brito Pereira (UNEAL)
TRABALHADORES QUASE ESCRAVOS E A HIDRA ALAGOANA: A manuteno do Latifndio e das condies de vida e trabalho anlogas a de escravos em Alagoas entre 1985 e 1997.
Resumo:Este artigo prope analisar as permanncias estrut...
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Resumo:Este artigo prope analisar as permanncias estruturais e as prticas sociais que contriburam para a existncia de situaes semelhantes a de trabalho escravo, e portanto ilegais, entre os trabalhadores rurais da zona da Mata Norte Alagoana entre 1985 e 1997, realizando a leitura a contrapelo dos registros existentes nos arquivos da Comisso Pastoral da Terra de Alagoas sobre a violncia e maus tratos contra trabalhadores rurais e pees do corte de cana no contexto maior da luta contra a escravido contempornea. Especificamente em Alagoas, permanncias nas estruturas econmicas, sociais e polticas e no tratamento pela classe dominante local contriburam para a manuteno de condies de vida e de trabalho anlogas a de escravo entre os trabalhadores rurais da Zona da Mata Norte Alagoana. Isto o que nos revela os registros, do perodo entre 1985 e 1997, existentes nos arquivos da Comisso Pastoral da Terra de Alagoas. Dialogando com autores como Manoel Correia de Andrade, Vitor Nunes Leal e Araken Alves de Lima procura-se compreender como se manteve ao longo do sculo XX um padro de relaes de trabalho, que incluiam Prticas violentas, cruis e abusivas no trato com os trabalhadores, sem grandes alteraes. A ameaa de um trabalhador entrar na justia era sentida como uma ofensa pessoal honra do patro, uma ultraagem absurda dos limites e da distncia abissal da posio social que cabia aos homens livres e pobres naquele status quo. Leal lembrava que homens livres e pobres desprovidos de leitura, educao, sade e informao foram fundamentais para, no plano poltico, garantir sua aliana e submisso aos coroneis, que no se manteria em p sem isso. Os usineiros, fiadores da carreira poltica da classe dominante rural nas Alagoas da segunda metade do sculo XX, articularam um somatrio de recursos de submisso da vontade dos trabalhadores do campo, montando um novo sistema de poder econmico, poltico e social, que como uma hidra, se renovou para sobreviver s possveis ameaas. Entretanto, os trabalhadores da Zona da Mata Norte, assim como os pees do corte de cana de Alagoas, souberam reconhecer, durante as dcadas de 1980 e 1990, um momento de ruptura com o medo e perceber que, com o apoio de missionrios religiosos, militantes de movimentos sociais, de partidos polticos ou agentes do Estado, novas oportunidades de resistncia surgiam e que os trabalhadores pobres e livres poderiam lutar para serem menos escravos e mais livres.
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Magno Michell Marcal Braga (Instituto Federal de Alagoas)
De doena no, morria de acidente: Trabalho e Trabalhadores na construo da Transamaznica
Resumo:O incio da dcada de 1970 um momento histrico ...
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Resumo:O incio da dcada de 1970 um momento histrico privilegiado para entendermos as transformaes que o Brasil experimentou aps o golpe de 1964. O clima de otimismo advindo da utilizao simblica por parte do aparelho do Estado da vitria da Copa do Mundo do Mxico, dos altos ndices de crescimento econmico e do desenvolvimento de grandes projetos que prometiam construir as bases de um pas destinado a ser potncia eram o mote para o Estado fomentar a construo de um imaginrio social otimista em relao ao presente e a expectativa de futuro. Ainda que para a classe trabalhadora as condies de vida e renda no refletissem os nmeros apresentados pela mquina estatal, ao contrrio vivia-se o aprofundamento do arrocho salarial e os primeiros reflexos das mudanas na legislao trabalhista que foi posta em pauta aps o golpe de 1964, como o fim da estabilidade no emprego implementada atravs do Decreto-Lei n 5.107, de 13 de setembro de 1966 que acabou com a estabilidade no emprego e criou o Fundo de Garantia por Tempo de Servio (FGTS).
Neste contexto, a principal proposta do governo Mdici para a Amaznia viria a ser o Programa de Integrao Nacional (PIN), criado atravs do Decreto-lei 1.106, de 16 de junho de 1970. O PIN prometia a superao das desigualdades internas do pas atravs de um vasto conjunto de aes que visava incorporar a Amaznia brasileira ao contexto de desenvolvimento capitalista das demais regies do pas, atravs da construo de um grande eixo rodovirio composto, principalmente pela Transamaznica e a Cuiab-Santarm. Alm disso, previa-se um grande projeto de colonizao da regio amaznica promovendo a ocupao dos espaos vazios, por meio do deslocamento de homens sem-terra do Nordeste para terras sem homens da Amaznia (BRASIL, 1970) atravs dos Programas Integrados de Colonizao (PICs.) Tratava-se de um projeto de alargamento da fronteira interna.
A execuo do PIN exigiu, logo de incio, o deslocamento de milhares de trabalhadores de diversas regies do pas, principalmente do Nordeste, para construo das estradas. A estes trabalhadores foram prometidos todos os direitos e benefcios trabalhistas previstos na legislao, alm da possibilidade de aquisio de lotes de terras dentro do projeto de colonizao que o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) executaria no bojo do PIN. Fruto de uma pesquisa mais ampla que se realiza em contexto de doutoramento, este ensaio busca refletir como se deu a experincia desses trabalhadores no que tange a segurana do trabalho.
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Maria Odete Freire de Arajo (Juza)
Trabalho escravo no Brasil: da alforria em 1888 prtica ainda existente e suas projees.
Resumo:Um dos ltimos pases a extinguir o trabalho escra...
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Resumo:Um dos ltimos pases a extinguir o trabalho escravo no mundo, o Brasil formalmente ps fim escravido em 1888. Muitos so os movimentos anteriores abolio e grandes eram as expectativas da sociedade negra, pobre e recm alforriada, principalmente quanto aos caminhos que a liberdade nas relaes pessoais e de trabalho a levaria (CHALHOUB, 2012).
Entretanto, os estudos e pesquisas hodiernos demonstram que uma nova roupagem de escravido ainda pode ser encontrada em relaes de trabalho no pas (FIGUEIRA, 2004; GOMES & SILVA, 2013;). Com nome distinto trabalho em condio anloga de escravo , sem termo formal de propriedade, camuflada em promessas de emprego tentadoras, alimentada pelo sonho do trabalhador que muitas vezes se desloca para outro Estado com a inteno de sustentar a famlia na sua cidade natal. O resultado dessas relaes empregos com jornadas exaustivas, alojamentos precrios, em algumas circunstncias com a reteno de documento para dificultar o retorno para casa e at contrao de dvidas obrigatrias junto aos empregadores.
A apresentao ter como fonte histrica (GRINBERG, 2013; PINSKY & LUCA, 2013) processos judiciais ajuizados na Justia do Trabalho de Pernambuco a partir do primeiro decnio dos anos 2000 em que trabalhadores livres foram contratados em Pernambuco para trabalhar na cidade de Lucas do Rio Verde - MT, em uma grande indstria alimentcia. Da anlise de depoimentos desses processos, verificou-se que os trabalhadores foram submetidos a jornadas abusivas, em funes mecnicas e repetitivas de cortes rpidos e precisos de carnes, sem o descanso necessrio para recuperao muscular e muitas vezes sem a possibilidade de retorno para casa.
Este estudo se justifica em razo da necessria ateno que se deve ter no paralelismo entre o conceito e a real condio de liberdade direito fundamental e clusula ptrea da nossa Constituio Federal de 1988 , uma vez que a to s formalizao da abolio do trabalho escravo no significa a completa alterao ftica das relaes de trabalho quanto ao modo de subordinao a que o trabalhador est submetido.
De igual forma, justifica-se com vistas salvaguarda da dignidade dos trabalhadores a partir da apurao das relaes existentes no meio ambiente do trabalho seja o do sculo XIX, seja o que ora se apresenta.
Finalmente, e a partir da tica histrica dos direitos dos trabalhadores e dos conceitos de liberdade e dignidade construdos desde a abolio da escravido at os vnculos atuais de trabalho, ser debatida a equao liberdade x trabalho tendo como base as projees legislativas e normativas do Estado brasileiro da atualidade.
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Paulo Cesar Gonalves (UNESP (Faculdade de Cincias e Letras - Campus de Assis))
O trfico de trabalhadores sob contrato no Imprio colonial portugus: Macau e Moambique nas dcadas de 1840 a 1870
Resumo:Esta comunicao analisa o trfico e o emprego de ...
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Resumo:Esta comunicao analisa o trfico e o emprego de trabalhadores sob contrato deslocados do territrio chins atravs do porto de Macau e da frica oriental pelos portos da colnia de Moambique. Uma fora de trabalho cada vez mais necessria s reas ocupadas por grandes plantaes tropicais ou relacionadas explorao de minrios, amparadas historicamente no trabalho escravo. Macau e Moambique, possesses portuguesas com caractersticas especficas, inseriram-se na economia mundo como fornecedoras de fora de trabalho barata para substituir ou mesmo complementar a mo de obra escrava diante da proibio do trfico negreiro, da expanso do abolicionismo e da intensificao da explorao de terras tropicais para a produo das commodities demandadas pelo comrcio internacional cada vez mais integrado e hierrquico. O territrio de Moambique j se encontrava conectado anteriormente ao mercado mundial como provedor de escravos no Atlntico e no ndico o que torna ainda mais interessante a investigao das dcadas marcadas pela proibio do trfico e pela abolio da escravatura nos territrios britnicos e ses enquanto Macau, cujo porto foi fundamental para a entrada do pio consumido no Imprio chins nas dcadas iniciais do sculo XIX, foi incorporada economia mundo como porta de sada de braos a partir de meados dos anos de 1840. A crescente procura por esse tipo de mo de obra e as estratgias de recrutamento levaram o Estado portugus a agir para tentar controlar e organizar o xodo desses contingentes de acordo com os interesses polticos e econmicos metropolitanos, mas tambm em resposta forte presso internacional britnica, sa, espanhola e chinesa que transitou entre a total condenao e o apoio incondicional ao trfico desses trabalhadores engajados. Tendo por base relatrios oficiais produzidos por agentes do Estado portugus, estudos de autores coevos e documentos parlamentares sobre a demografia do fluxo, contratos de trabalho, regies de destino e o significado do comrcio de trabalhadores para as finanas coloniais do reino, o objetivo investigar as condies do transporte martimo e a explorao dessa mo de obra como alternativa ao trabalho escravo, discutindo, inclusive, os limites tericos e prticos do conceito poca que procurava diferenciar a escravido do trabalho sob contrato.
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Talyta Marjorie Lira Sousa
A participao dos escravizados no processo de colonizao do estado Piau
Resumo:DAS PRIMEIRAS ENTRADAS EM TERRITRIO PIAUIENSE C...
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Resumo:DAS PRIMEIRAS ENTRADAS EM TERRITRIO PIAUIENSE CONSTITUIO DAS FAZENDAS PASTORIS, A ESCRAVIDO FOI BASE DA MO-DE-OBRA, MANTENDO-SE AO LONGO DOS SCULOS ASSOCIADA S MAIS DIFERENTES ATIVIDADES PRODUTIVAS NO CAMPO E NAS VILAS. A COLONIZAO DO PIAU DEU-SE ATRAVS DA ENTRADA DO GADO NO INTERIOR DA PROVNCIA, OS PRIMEIROS COLONIZADORES TROUXERAM, JUNTO COM O GADO, OS ESCRAVIZADOS PARA AUXILIAR NO TRABALHO DA AGRICULTURA DO ALGODO, ARROZ E MILHO E NA PECURIA (FALCI, 1995, P. 55) A CAPITANIA DO PIAU ERA ECONOMICAMENTE EXPRESSIVA, VEZ QUE GRANDE EXPORTADORA DE GADO VACUM E SOLA (COURO CURTIDO DE BOI, PARA CALADOS, BOLSAS) E ABASTECIA GRANDES CENTROS DE DECISO ECONMICA DO BRASIL COLNIA. ISTO NOS PERMITE EVIDENCIAR A PARTICIPAO DO ESCRAVIZADO NA FORMAO SOCIAL, ECONMICA E CULTURAL PIAUIENSE. SEGUNDO MIRIDAN, OS ESCRAVIZADOS VIERAM COM SEUS SENHORES, OS SESMEIROS, OU CHEGARAM DEPOIS, COMPRADOS NOS MERCADOS DA BAHIA, RECIFE OU SO LUS. (FALCI, 1999, P. 34) ASSIM, ESTA PESQUISA DEDICA-SE A (RE) CONSTRUIR A TRAJETRIA DOS ESCRAVIZADOS NO PROCESSO DE COLONIZAO DA PROVNCIA DO PIAU NO SCULO XVII. OPTAMOS POR EXAMINAR O PROCESSO DE COLONIZAO DO PIAU DO NGULO DA HISTRIA OFICIAL PARA MAPEAR A POPULAO ESCRAVIZADA, REALIZAR UMA ANLISE DEMOGRFICA DESSA POPULAO E ELUCIDAR DE QUE FORMA OS ESCRAVIZADOS ADENTRARAM O TERRITRIO PIAUIENSE TORNANDO-SE IMPORTANTES PARA FORMAO DA SOCIEDADE PIAUIENSE. FOI UTILIZADA A REVISO DE LITERATURA DAS OBRAS DOS AUTORES LUIS MOTT, TNIA M. BRANDO, MIRIDAN B. KNOX FALCI E SOLIMAR OLIVEIRA LIMA; E A PESQUISA DOCUMENTAL REALIZADA NO ARQUIVO PBLICO DO ESTADO DO PIAU, ONDE DESTACAMOS OS RELATOS DE VIAJANTES COMO SPIX E MARTIUS, PARA DESCREVER A PROVNCIA DO PIAU; O TESTAMENTO DE DOMINGOS AFONSO MAFRENSE; PARA EVIDENCIAR COMO OS JESUTAS ADQUIRIAM A POSSE DE FAZENDAS NESTA PROVNCIA; OS RELATRIOS DAS FAZENDAS NACIONAIS, PARA RESSALTAR A FUNO DOS INSPETORES, A QUANTIDADE DE ESCRAVIZADOS, PROFISSO, IDADE E SEXO (CONSTRUMOS TABELAS A PARTIR DOS DADOS OBTIDOS NOS DOCUMENTOS DO ARQUIVO, A PRIMEIRA REFERENTE IDADE E SEXO DOS ESCRAVOS NO PIAU EM 1826, A SEGUNDA E A TERCEIRA DEMONSTRANDO A DIMINUIO DA POPULAO NEGRA NA PROVNCIA DO PIAU), NO ARQUIVO DA BIBLIOTECA NACIONAL AMOS O MAPA DA VILA DA MOCHA NO SCULO XVII, O MAPA OFICIAL DA CAPITANIA DE SO JOS DO PIAU 176 E O MAPA DO PIAU COM INDICAES DAS FAZENDAS NACIONAIS. PRETENDEMOS OBSERVAR A VIDA DESSES SUJEITOS A PARTIR DE PEQUENOS FRAGMENTOS DE FRASES, GESTOS E FALAS, MUITAS VEZES PERMEADAS DE CONTRADIES; REGISTRO QUE, MESMO OFICIAIS, AS FONTES NOS DIZEM MUITO DA MEMRIA INDIVIDUAL E COLETIVA DESSES GRUPOS; BUSCAMOS OS NO-DITOS, SUAS ANGSTIAS AO TENTAREM SER OUVIDOS. (POLLACK, 1992, P. 6)
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ST - Sesso 2 - 17/07/2019 das 14:00 s 18:00 1e5t6h
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Adriana Barreto de Souza (UFRuralRJ)
Luta por direitos e politizao da cor no Regimento de Homens Pardos: conexes entre Salvador e Rio de Janeiro (1796-1804).
Resumo:O objetivo desta comunicao discutir um conjunt...
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Resumo:O objetivo desta comunicao discutir um conjunto de peties enviadas pelos capites do 4 Regimento de Milcias de Homens Pardos de Salvador e do Rio de Janeiro ao prncipe regente d. Joo, entre 1796 e 1804, a fim de requerer o direito de serem encartados nos postos superiores do Regimento. Acionando a legislao pombalina, resolues emitidas pelo prncipe regente em fins do sculo XVIII, alm de sua prpria experincia, no caso dos oficiais do Regimento de Homens Pardos da Bahia, os capites pardos reclamavam a restituio do direito que lhes havia sido reconhecido por carta rgia de 22 de maro de 1766. A carta havia determinado, de forma clara, o alistamento sem exceo de nobres, brancos, mestios, pretos, ingnuos e libertos (...) para o servio militar.
Como j foi demonstrado pela historiografia, na virada do sculo XVIII para o XIX, houve um crescimento exponencial da populao de negros, fosse de negros escravos, fosse de livres e libertos, na cidade do Rio de Janeiro pela intensificao do trfico que comeava a abastecer o norte fluminense. A presso social exercida por estes ltimos, interessados em se distinguir da massa de escravos, imps aos es coloniais um debate sobre os possveis mecanismos polticos e institucionais para inseri-los na sociedade.
Entre os capites pardos e o prncipe regente, havia dois es coloniais: d. Fernando Jos de Portugal que havia governado a Bahia at 1801, quando foi nomeado vice-rei do Brasil, e o general reinol Jos Narcizo de Magalhes e Menezes, que chegou ao Rio de Janeiro em 1799 para assumir o Comando Geral das Tropas do Rio de Janeiro. Enquanto o vice-rei recm nomeado estava engajado desde 1796, ainda na Bahia, na tarefa de submeter os Regimentos de Homens de Cor ao comando de oficiais brancos das tropas de linha, o general reinol estava convencido da natural viveza e atividade dos mestios para a carreira militar, tornando-se um entusiasta do sistema de milcias organizado por cor e classe.
Argumentarei, no paper, que as peties enviadas ao prncipe so expresso dessa tenso, cotidiana, de disputa e redefinio de hierarquias sociais em um ambiente preciso: o mundo militar do Rio de Janeiro na virada para o sculo XIX.
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Elciene Azevedo (UEFS)
Trabalho e revolta : escravos insurgentes em um engenho no recncavo Bahiano So Francisco do Conde, 1850-1880.
Resumo:Em finais da dcada de 1870, onze escravos liderad...
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Resumo:Em finais da dcada de 1870, onze escravos liderados pelo feitor do engenho Itatingui, localizado em So Francisco do Conde, recncavo bahiano, adentraram na casa grande durante a madrugada e assam seu senhor moo enquanto dormia. As circunstncias excepcionais do crime e a importncia poltica da famlia do assassinado, os Ferro de Argolo, causaram grande comoo pblica e ganharam repercusso poca, sendo notcia nos jornais mais importantes da provncia da Bahia, e fora dela. Os escravos, em sua maioria muito jovem, foram todos condenados pena de morte, deciso severa apoiada por ampla mobilizao das famlias de bem da regio, que, apavoradas, exigiam das autoridades execuo plena da sentena. O objetivo dessa apresentao examinar os motivos que moveram a rebeldia dos escravos do engenho, atentando para as questes relacionadas ao trabalho, ao perfil dos trabalhadores envolvidos no crime e os afazeres de que se ocupavam, as relaes estabelecidas entre eles e os demais cativos da senzala, bem como com seu senhor e seus prepostos; assim como as tenses, conivncias e dissenses presentes na elaborao e conduo do conturbado processo judicirio que condenou os envolvidos forca. O intuito vislumbrar os diversos significados sociais de um crime de tamanha envergadura no corao do recncavo, uma das localidades de maior concentrao de engenhos e grande propriedade escrava da Bahia, no momento em que se aprofundava a crise de legitimidade da escravido.xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.
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Gabriela dos Reis Sampaio (UFBA - Universidade Federal da Bahia)
Libertos e libertas na cidade de Salvador: trabalho, moradia, religiosidades e doenas em tempos de racialismo cientfico (1888 - 1895)
Resumo:Nesta apresentao pretendo discutir a presena de...
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Resumo:Nesta apresentao pretendo discutir a presena de libertos e libertas em algumas regies especficas da cidade de Salvador nas ltimas dcadas do sculo XIX, investigando sua circulao pela cidade, pensando em espaos de moradia, de trabalho, de atividades religiosas e de tratamentos de sade, bem como as redes de relaes estabelecidas e as possibilidade de atuao poltica, em um momento de intensas transformaes polticas e sociais no pas. Neste contexto, daremos destaque atuao de mdicos da Faculdade de Medicina da Bahia, que tinham importantes relaes com a poltica e que pensavam polticas pblicas, leis e cerceamentos de direitos de cidadania para os egressos da escravido, com base no racismo cientfico e no desenvolvimento da medicina legal, ao mesmo tempo que tinham contato prximo com muitos africanos e seus descendentes: seus criados, pacientes ou objetos de estudo, ou mesmo seus vizinhos ou pessoas que cruzavam nas ruas e nos espaos que frequentavam cotidianamente. A pesquisa que embasa esta apresentao prope um mapeamento de espaos frequentados por trabalhadores em Salvador nas ltimas dcadas do sculo XIX. Isso significa, em primeiro lugar, registrar locais de moradia, trabalho e sociabilidades em um mapa das reas centrais da cidade no perodo, detalhando, quando possvel, endereos especficos, nome de moradores, estabelecimentos comerciais, sedes de associaes, bem como locais pblicos, com imagens, pinturas e descries realizadas por visitantes. Para alm deste trabalho mais visual, inteno tambm discutir as condies de moradia e trabalho de libertos em de Salvador no perodo, bem como questes ligadas sade e doena desta populao, visando contribuir para o debate sobre a cidadania dos trabalhadores no Brasil. Pretendo, assim, refletir sobre formas de ocupar e dar significados cidade, de lutar por direitos, sobreviver e de morrer desta importante parcela de trabalhadores urbanos, contribuindo para a compreenso da constituio da cidade de Salvador, importante centro da histria atlntica. O objetivo especfico da apresentao aqui proposta refletir sobre noes e significados de liberdade, mobilidade e autonomia a partir de suas escolhas de trabalho e as possibilidades de cidadania e raa tendo em vista a legislao vigente, que controlava de perto suas atividades, e os debates polticos mais amplos sobre os encaminhamentos que seriam dados, no pas, para o controle da mo-de-obra com o fim da escravido. A partir de documentao policial e cartorial, registros de aportes, testamentos e inventrios, registros clnicos da Santa Casa, bem como textos de jornais de poca e debates parlamentares, pretendo fazer essa reflexo seguindo as trajetrias de alguns sujeitos especficos que viviam na cidade.
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Iacy Maia Mata (Universidade Federal da Bahia)
Obreros de la libertad: Antonio Maceo, Emeterio Betances, raa e antiescravismo no Caribe espanhol (1863-1895)
Resumo:No perodo de 1863 a 1898, Cuba e Porto Rico mergu...
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Resumo:No perodo de 1863 a 1898, Cuba e Porto Rico mergulharam em conspiraes e insurreies com o fito de expulsar o que restava do Imprio espanhol no Caribe. O cubano Antonio Maceo e o porto-riquenho Emeterio Betances foram formados neste ambiente de agitaes e insurreies anticoloniais. Ramn Emeterio Betances, nascido em Porto Rico, em 1827, teve uma longa trajetria de luta contra a escravido e a dominao colonial. Participou da luta de restaurao de independncia de Santo Domingo (1863-1865) e, em 1866, contribuiu para a fundao da Sociedade Republicana de Cuba e Nova Iorque, que defendia a liberdade das Antilhas espanholas e a liberdade absoluta de seus habitantes sem distino de raa ou cor. Antes de se estabelecer definitivamente em Paris, Betances, engajado na luta anticolonial, viajou para Santo Toms, Haiti, Repblica Dominicana, Venezuela e Nova Iorque, seguido de perto por agentes e espies a servio da Espanha. Fez isso na dcada de 1870, no auge da chamada Grande Guerra (1868-1878) de Cuba, que atraiu militantes e ativistas anticoloniais de todo o Caribe. Antonio Maceo, general do Exrcito Libertador de Cuba e liderana das insurreies independentistas, no final da dcada de 1870, seguia os os de Betances e viajava constantemente para a Repblica Dominicana, Haiti e Estados Unidos, participando de meetings e realizando atividades polticas contra o domnio colonial espanhol em Cuba. Negros nascidos livres em sociedades escravistas e racializadas, tornaram-se protagonistas da luta contra a escravido e as hierarquias raciais no Caribe. Viveram em uma poca de intensa circulao de ideias e teceram conexes transnacionais mobilizando a solidariedade racial. O objetivo desta comunicao discutir como, naquela conjuntura de insurreies e agitaes polticas, negros e mulatos construram redes transnacionais antiescravistas e antirracistas no Caribe espanhol, tornando-se protagonistas da luta especfica por direitos polticos integrais para a populao de cor em Cuba. Como as autoridades coloniais espanholas montaram uma intensa rede de vigilncia e espionagem sobre os insurgentes, sero analisadas as fontes produzidas pelo Governador Geral de Cuba, governadores provinciais e demais autoridades coloniais, os relatrios dos agentes infiltrados e espies e, em especial, os informes dos cnsules espanhis espalhados pelo Caribe e Estados Unidos, assim como jornais, correspondncia e textos escritos por Betances e Maceo.
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Karoline Carula (Universidade Federal Fluminense)
A atividade de ama de leite na cidade do Rio de Janeiro nas dcadas de 1870 e 1880
Resumo:O aleitamento de crianas na primeira infncia por...
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Resumo:O aleitamento de crianas na primeira infncia por meio da utilizao de amas de leite foi amplamente utilizado sobretudo entre as mes das camadas mais abastadas da sociedade. As mulheres que desempenhavam essa atividade eram majoritariamente escravas, sendo alugadas ou vendidas pelos seus senhores para as famlias que necessitavam de tal servio.
No correr do sculo XIX, os mdicos, dentre outros, difundiram um discurso de defesa do aleitamento materno como a melhor forma de alimentao infantil. A amamentao materna era representada como um ato nobre e para persuadirem as mulheres eles lanavam mo de um vocabulrio sentimental para sublinhar sua importncia. Outra estratgia empregada, foi desqualificar aquelas que no aleitavam seu prprio filho, classificando-as como mes desnaturadas.
Ao valorizarem a amamentao materna, os mdicos desqualificavam outros mtodos de aleitamento infantil, nomeadamente, o artificial, que empregava leite animal e considerado o pior de todos, e o realizado pelas amas de leite. Este tipo de amamentao era chamado, de mercenrio, em referncia aos soldados mercenrios que trabalham por dinheiro.
No tocante s teses produzidas sobre aleitamento, era comum dedicarem um item ao aleitamento mercenrio, no qual dissertavam sobre as caractersticas necessrias para a mulher ser considerada uma boa ama de leite. Assim como as qualidades fsicas, as morais foram expostas pelos mdicos como importante quesito a ser avaliado na escolha de uma boa ama, visto que elas poderiam modificar a qualidade do leite. As abordagens mdicas, muitas vezes, eram racializadas e/ou pautadas no fato daquelas amas serem, majoritariamente, cativas.
As discusses sobre a ama de leite ideal ultraaram os muros da faculdade de medicina e foram parar na imprensa e na Cmara Municipal. Na Cmara, esses debates se transformaram em instituies e leis, que procuravam disciplinar, ordenar e higienizar tal tipo de trabalho domstico na cidade do Rio de Janeiro da dcada de 80 do sculo XIX.
Isso posto, o objetivo dessa comunicao tecer algumas reflexes sobre a atividade de ama de leite na capital do Imprio do Brasil nas dcadas de 1870 e 1880. Sero utilizadas como fontes principais artigos e anncios publicados em jornais do Rio de Janeiro, legislao municipal acerca da atividade escrava e de ama de leite, bem como, textos mdicos.
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Meire Lcia Alves dos Reis (Secretaria de Educao da Bahia)
As mulheres negras trabalhadoras em Salvador entre 1888 e 1916
Resumo:Neste trabalho nos propomos a investigar as mltip...
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Resumo:Neste trabalho nos propomos a investigar as mltiplas concepes sobre a condio da mulher trabalhadora no ps-abolio em Salvador e o prprio trabalho dessas mulheres entre 1888 e 1916. O nosso foco , a priori, a mulher que vivenciou o mundo da escravido, como livre, liberta ou escrava, que ainda vivia numa sociedade com resqucios fortes da escravido. Estamos compondo um contexto em que essas mulheres viviam em mltiplas relaes estabelecidas com homens, por exemplo na interface com a municipalidade, com as diversas posturas municipais e suas tentativas de ordenamento das ruas e do trabalho, que sempre gerava algum tipo de conflito com aqueles que tinham que manter a ordem. Tambm perceptvel eram os conflitos com os agentes da segurana pblica. Evidenciam-se as relaes que elas mantinham com seus companheiros, algumas vezes violentas, como o caso de uma mulher que ao comunicar ao seu companheiro que teria que dormir na casa dos patres agredida por este, e d entrada no Hospital Santa Izabel como nos relata o Dirio de Notcias de 12 de maro de 1904. Evidenciamos tambm as relaes com as mulheres brancas, fossem elas trabalhadoras ou patroas, e claro com outras mulheres negras, como por exemplo, casos de ajuda quando elas eram testemunhas em casos diversos ou quando discutiam por algum motivo relacionado ao trabalho, ou seja, tentaremos pensar esta mulher nas suas mltiplas relaes a partir do trabalho. Nos detemos um pouco na ideia alargada de trabalho para incluir as crianas negras, especialmente as meninas de 9 a 12 anos, que tinham os registros mais diversos enquanto trabalhadoras, que normalmente tomamos conhecimento quando elas sofriam algum acidente de trabalho ou quando eram acusadas de roubo ou desobedincia, por exemplo, e eram apreendidas pelas foras policiais, ou ainda, quando fugiam por maus tratos. Discutimos um pouco como a sensibilidade ocidental sobre a infncia e as suas especificidades, que j perceptvel no Brasil, no uma realidade para todas as meninas. O que nos possibilita tambm analisar a noo de fragilidade concebida para as mulheres, e a relao dessa concepo para com as mulheres/meninas no mundo do trabalho buscando compreender os vrios fatores que concorrem para formar um quadro de ideias/atos que giravam em torno da noo genrica do feminino associado ao elemento racial. Para desenvolver a nossa pesquisa tomamos como base uma metodologia que conceba as relaes sociais no hierarquizadas entre as categorias raa, classe, gnero e trabalho (interseccionalidade CRESNAW, 1989), atentando para a forma como estas se intercruzam nas relaes de trabalho e de poder nos espaos de busca por sobrevivncia.
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Ricardo Tadeu Caires Silva (Universidade Estadual do Paran)
A participao dos saveiristas na campanha abolicionista na provncia da Bahia (1883-1888)
Resumo:Este trabalho tem por objetivo evidenciar a partic...
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Resumo:Este trabalho tem por objetivo evidenciar a participao da classe trabalhadora, em especial dos saveiristas, na campanha abolicionista na provncia da Bahia, entre os anos 1883 e 1888. Conforme nos informa a historiografia, no decorrer dos anos 1880 o movimento abolicionista se popularizou gradativamente at se tornar o primeiro movimento social do pas. Com isso, as camadas populares, cada vez mais descompromissadas com a posse de cativos, aram paulatinamente a apoiar as aes de combate escravido. Assim, homens livres pobres, de poucas posses e recursos, tais como pequenos agricultores, operrios, caixeiros, profissionais liberais, etc. se engajaram na luta contra a escravido e outras bandeiras eminentemente populares. Na Bahia, um desses grupos foi o dos saveiristas. Estes homens do mar desempenhavam um papel de grande relevncia no comrcio de abastecimento da capital baiana, pois atuavam como intermedirios no transporte de alimentos e outros gneros de primeira necessidade que eram comercializados entre Salvador e as principais vilas do Recncavo baiano, tais como Cachoeira, Santo Amaro e So Flix, Nazar, dentre outras. Conheciam, portanto, as rotas fluviais que desaguavam na Baa de Todos os Santos e tudo que at ali era transportado inclusive indivduos escravizados para serem comercializados no trfico interno e interprovincial. A atuao do saveiristas no movimento abolicionista se deu atravs da parceria com a Sociedade Libertadora Bahiana, mais importante agremiao abolicionista daquele perodo e, posteriormente, no Club Francisco do Nascimento, composto exclusivamente por homens do mar. Criado pelo abolicionista Eduardo Carig em homenagem ao grande jangadeiro e abolicionista cearense bem como a todos homens do mar que abraavam a bandeira da abolio, este club ficou responsvel por algumas das aes mais radicais levadas a cabo pelo movimento, tais como o aprisionamento de escravizados que seriam vendidos por seus senhores para fora da provncia ou mesmo para outras localidades dentro desta; e tambm no transporte de escravos fugidos de cidades e vilas do interior baiano que vinham at a capital baiana procura de Carig com o fito de disputar suas liberdades nas barras dos tribunais. Dentre os saveiristas que se engajaram na campanha abolicionista destacaram-se o cabra Manoel Jlio dos Santos, mais conhecido como Manuel Camaro, Joo Branco e Jorge dos Santos. Ao explorar alguns episdios problematizado a participao dos saveiristas no movimento abolicionista pretendo evidenciar o quanto a extino do cativeiro interessava classe trabalhadora, cujas razes sempre estiveram fortemente imbricadas com a escravido.
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ST - Sesso 3 - 19/07/2019 das 08:00 s 12:00 4c3kw
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Jssyka Samya Ladislau Pereira Costa
ndios e negros no mundo do trabalho dos rios Madeira e Purus (Amazonas, sculo XIX)
Resumo:Neste artigo nos se propomos a investigar alguma d...
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Resumo:Neste artigo nos se propomos a investigar alguma das formas de explorao do trabalho (escravo, forado e livre) das populaes indgena e negra na regio da Provncia do Amazonas, com destaque para o rio Madeira e Purus, entre 1850 a 1888. Partimos da hiptese de que as categorias de trabalho escravo, livre e/ou compulsrio, alm de coexistirem, eram utilizadas de forma complementares no mundo do trabalho na Amaznia Oitocentista. Dessa forma, escolhemos alguns processos judiciais em conjunto de outras fontes que serviro de fio condutor para problematizar as experincias das populaes indgena e negra nos mundos do trabalho da floresta no sculo XIX, principalmente aqueles ocorridos em torno da regio do Rio Madeira. Na segunda metade do Oitocentos, essa regio ou por um processo de dinamizao econmica e demogrfica, promovida por um movimento de expanso rumo ao oeste amaznico incentivado principalmente pelo crescimento da produo gomfera, alm de configurar nas falas dos Presidente de Provncia do Amazonas como um lugar demandando bastante mo de obra.
Em 1869, na Vila de Serpa (atual municpio de Itacoatiara), localizada s margens do rio
Amazonas, o subdelegado de polcia Jesuino da Costa Fonseca mantinha em seu poder o ndio
boliviano Cruz, o qual conserva no obstante o mesmo ndio em seu poder com servios do qual
assim abusa com notvel escndalo, empregando a violncia a ponto de recolher o referido ndio a
cadeia daquela vila, depois de espanca-lo. Aps alguns dias e depois de sofrer castigos fsicos
repetidas vezes acabou fugindo do local. Catarina Maria Roza da Conceio, mulata, natural de
Teresina, capital da Provncia do Piau, vivendo da ocupao de domstica habitou as cidades de
So Luiz (Maranho) e Belm (Par) e, por fim, Baetas (Amazonas), localizada s margens do Rio
Madeira, onde foi escravizada ilegalmente em 18754. Experincias como as desses personagens, vivendo entre os limites da escravido e liberdade, eram constantes no mundo do trabalho da floresta. Muitas foram as estratgias elaboradas por parte do Estado e de particulares para a arregimentao, muitas das vezes compulsria, de trabalhadores negros e indgenas para realizarem as mais diversas modalidades de ocupaes nos espaos de trabalho. Dessa forma, no espao desse artigo pretendemos ar quais eram as formas acionados para cooptao desses trabalhadores para debatemos a complexidade existente entre ser livre ou cativo na Amaznia na segunda metade do sculo XIX.
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Karina Oliveira Morais dos Santos (UNIFESP - Universidade Federal de So Paulo)
Entre negros escravizados e europeus assalariados: experincias do trabalho na Fbrica de Ferro de Ipanema, 1810-1895
Resumo:A Fbrica de Ferro de Ipanema considerada pionei...
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Resumo:A Fbrica de Ferro de Ipanema considerada pioneira na produo siderrgica no Brasil. Operou oficialmente entre 1810 e 1895 e revela particularidades singulares na histria do trabalho no pas: trata-se de um empreendimento que se vale de capital misto entre a Coroa de Portugal e acionistas particulares, edificada no perodo colonial, atravessa o Imprio e se encerra poucos anos depois da Proclamao da Repblica. Uma pluralidade de perfis compunha seu quadro de trabalhadores, compartilhando o trabalho e o cotidiano: negros livres e escravizados, estrangeiros assalariados, sobretudo europeus, indgenas, trabalhadores locais e presos gals. Para alm da expectativa que abastecesse o pas com um produto de base, o ferro, havia tambm a inteno de que a Fbrica servisse como modelo, com vistas modernizao do territrio nacional a partir da formao de aprendizes. Cabe tambm dizer que a Fbrica de Ipanema no um caso isolado no que se refere aos empreendimentos da Coroa, mas insere-se em um projeto mais amplo da colonizao portuguesa aliado ao estmulo s manufaturas e explorao dos produtos de base. Aqui, tratamos dos ofcios, das interaes sociais, dos conflitos em suas vrias dimenses, das negociaes, das articulaes individuais e coletivas e da resistncia de homens e mulheres distintos quanto ao estatuto legal. Chamamos a ateno para um fazer historiogrfico que se proponha a discutir a sociedade a partir dos grupos no hegemnicos e situ-los enquanto sujeitos, em um debate no qual sociedade e economia so dimenses indissociveis. O caso de Ipanema revela experincias singulares na histria do trabalho, da siderurgia e da industrializao no Brasil. Laboratrio frtil para o pesquisador interessado em compreender as mltiplas dinmicas que emergem em uma situao pouco verificvel no sculo XIX no Brasil, dadas as suas inmeras especificidades. Ao o em que desmitifica a ideia de que os negros serviam apenas aos trabalhos mais brutos, evidencia tambm as condies de vida dos estrangeiros assalariados, apresentando nuances de uma organizao social extremamente complexa e, portanto, cara historiografia brasileira, contribuindo para compreendermos So Paulo e o Brasil para alm das narrativas estanques que se criam entre os sujeitos histricos e seus espaos de trabalho e de vida.
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Larissa Bagano Dourado (Ps-Graduao em Histria - UFF)
Os ofcios de cativos(as) comercializados(as) no trfico inter-regional de escravos no Rio de Janeiro (1861-1870)
Resumo:O ano de 1850 sem dvidas foi um divisor de guas ...
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Resumo:O ano de 1850 sem dvidas foi um divisor de guas no Brasil Imperial. A partir do fim do trfico Atlntico ocorreram mudanas significativas na economia, cultura e na sociedade Oitocentista. O comrcio interno de escravizados tornou-se essencial para o fornecimento de mo de obra cativa, principalmente, para regio Sul do Imprio, no qual resultou no desequilbrio da populao escravizada entre as regies do pas. De acordo com Slenes, cerca de 222. 500 pessoas escravizadas foram transferidas entre as regies brasileiras entre 1850 e 1881(Slenes, 2004, p.331). Nesse comrcio, o Rio de Janeiro tornou-se o principal entreposto para comercializao de cativos, assim, a partir dos registros de compra e venda dessa provncia, pudemos catalogar os ofcios realizados por estes escravizados e escravizados que foram comercializados das provncias do Norte para o Sul do pas, entre os anos de 1861 e 1870. Para isto, analisamos os registros de compra e venda dos escravizados(as) em que constam seus servios, entre estes, encontramos ocupaes como de: marinheiro, cozinheiro, padeiro, servio de armazm, quitandeira, servios domsticos, entre outros.
Por meio dos documentos de compra e venda de cativos(as) tambm pudemos levantar outras informaes, como: origem, nome do vendedor, nome do comprador, nome e idade do cativo(a), cor, preo da compra, e se era casado(a) ou solteiro(a). Deste modo, tambm foi possvel visibilizar outros aspectos da vida dos escravizados e das escravizadas que foram comercializados. Afinal, ao chegarem s lavouras e centros urbanos do Sul, a populao cativa obtinha suas prprias concepes de um cativeiro justo, ou seja, de como e de quais as atividades deveriam desempenhar, o ritmo de trabalho e de disciplina, e por isso, frequentemente entravam em embate com os novos costumes.
importante ainda ressaltar que com ofcios especficos ou no, a vida da populao escrava era bastante complexa e restrita. Alm da crueldade do sistema escravista, os(as) africanos(as) e seus descendestes, escravizados(as), livres e libertos(as) sofriam constantemente repreenses. Nesse sentido, tambm analisamos notcias do jornal Dirio do Rio de Janeiro, com o intuito de perceber tais restries. Os relatrios de presidente de provncia tambm foram utilizados com intuito de compreender o contexto do trfico interprovincial sob olhar dos governantes.
Logo, o presente artigo apresenta no somente uma anlise acerca dos servios prestados pelas pessoas escravizadas trazidas no trfico inter-regional, mas vivncias e experincias possveis dessa nova realidade, afinal, preciso enfatizar que a populao negra fez parte e conquistou muitos espaos na sociedade, mesmo diante da conjuntura da intensificao do trfico interno.
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Letcia Sousa Campos da Silva (Colgio Pedro II)
Tenses na escola do imperador: demandas de trabalhadores escravizados e livres no Colgio Pedro II na dcada de 1850
Resumo:Em virtude de seu funcionamento contnuo aps cent...
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Resumo:Em virtude de seu funcionamento contnuo aps cento e oitenta e um anos de atividade, no me surpreende constatar que, quando se procura refletir a respeito de muitos aspectos da histria do pas, as menes histria do Colgio Pedro II acontecem reiteradamente. Tanto assim que nos ltimos anos houve um incremento de teses, dissertaes, livros e artigos diversos tomando-o como objeto. Ao invs de associar as propostas desse colgio e os projetos do Estado em variados momentos histricos, de observar seu desenvolvimento curricular e os processos de estruturao das disciplinas escolares ou de avaliar seu impacto na estrutura da instruo pblica e na constituio do magistrio secundrio, nesta comunicao pretendi explorar um eixo temtico pouco valorizado na historiografia deste estabelecimento de ensino: a reflexo acerca da situao de seus trabalhadores. Alinhando-me a uma perspectiva mais problematizadora do campo da histria social do trabalho, busquei conjugar os saberes construdos a respeito das senzalas e das fbricas, isto , levar em conta simultaneamente as consideraes de especialistas da escravido e de estudiosos do movimento operrio. Deste modo, do emaranhado de papeis remanescentes das prticas sociais relativas a esta escola conservados no Arquivo Nacional, destaquei dois documentos produzidos nos anos 1850 por fornecerem algumas pistas sobre as dinmicas de trabalho naquela instituio. Em primeiro lugar, um ofcio de 1854 do reitor Jos de Souza Correa (1851-1855) ao representante do Imprio solicitando a remunerao aos africanos livres a servio do colgio. Em seguida, um requerimento escrito dois anos antes pelo vice-reitor e professor de religio Frei Rodrigo de So Jos da Silva Pereira (1840-1852) almejando uma penso em relao ao tempo em nele que serviu. Da anlise destas fontes primrias, demonstrei um quadro de vulnerabilidade tanto dos trabalhadores escravizados quanto dos livres e a aproximao de suas demandas, atenuando a clssica dicotomia escravido/liberdade. Assim procedendo, ratifico para o caso do Colgio Pedro II uma tese sobre as condies laborais nos Oitocentos j apresentada por Marcelo Mattos (2008) e Robrio Souza (2016), dentre outros.
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Livia Cintra Berdu (UFF - Universidade Federal Fluminense)
Quem so os trabalhadores? Reflexes acerca do processo de formao da classe trabalhadora carioca
Resumo: Assim como j apontaram diversos historiadores, a...
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Resumo: Assim como j apontaram diversos historiadores, a produo historiogrfica sobre a classe trabalhadora e o movimento operrio no Brasil possui grande relao com os impulsos e refluxos do movimento operrio e sindical no pas. Assim, para uma anlise ou balano nesse campo de estudos, necessrio ter em mente tanto os avanos, quanto os recuos objetivos na luta de classes verificados no perodo em que determinada produo historiogrfica foi realizada.
Alm do elemento j em grande parte superado de que a classe trabalhadora se resumiria ao operariado fabril, podemos ver atualmente que o abarcamento de trabalhadores livres e no livres, rurais e urbanos, contratados e temporrios, assalariados, autnomos e terceirizados cada vez mais consenso entre os historiadores desse campo de estudos. A incluso de trabalhadores escravizados na histria do trabalho, em particular, consiste num fato que j no (ou no deveria ser) mais novidade nessa rea, como tem demonstrado pesquisas recentes. Tal fato est ligado tambm ao questionamento dos antigos marcos cronolgicos impostos na/pela historiografia s pesquisas sobre a classe trabalhadora, como o final da escravido em 1888 ou o incio da Primeira Repblica em 1889, dando espao agora a uma ampliao cronologia tradicional.
Nesse sentido, procuramos debater nesse trabalho o processo de formao da classe trabalhadora na cidade do Rio de Janeiro, bem como as reflexes acerca do conceito de classe trabalhadora e sua relao com os conceitos de luta de classes e conscincia de classe, a partir de autores clssicos como Marx e Engels, E. P. Thompson, alguns contemporneos como Ellen Wood, Marcel Van der Linden e historiadores brasileiros que procuraram se debruar sobre essa temtica no perodo mais recente. Portanto, ainda que tenhamos bastante a avanar no campo da histria social do trabalho, acreditamos ser necessrio partir das contribuies deixadas pelas clssicas obras de Marx e Engels e seus posteriores intrpretes, que longe de representarem uma leitura determinista ou economicista da sociedade, deixaram no s um mtodo crtico de anlise imbudo de uma perspectiva totalizante da realidade, mas tambm um legado poltico para os reais agentes transformadores no modo de produo capitalista: os trabalhadores.
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Matheus Rodrigues da Silva Mello (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
The Chartism: movimento social e a literatura barata na Inglaterra das dcadas de 1830 e 1840
Resumo:A proposta da comunicao tem como ponto principal...
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Resumo:A proposta da comunicao tem como ponto principal a anlise de questes relativas imprensa radical durante o movimento conhecido como Chartism, durante os anos de 1830-40 na Gr-Bretanha. O movimento dos trabalhadores pensado em uma perspectiva fundamentalmente poltica de anseios e objetivos claros rumo ao alcance da participao poltica integral nas instncias representativas de governo. A linha que separa as classes sociais envolvidas no processo no era determinada pelos seus respectivos papis econmicos, mas pela diviso entre aqueles que detinham e aqueles que eram excludos do poder poltico, sobretudo aps o Ato de Reforma de 1832. Diante de tal contexto, busca-se identificar o lugar que a literatura barata conquistou entre as camadas baixas de uma sociedade em intensa transformao econmica, poltica e social, estabelecendo-se como meio privilegiado de propagao e embate de ideias. Ressaltam-se, assim, as narrativas ficcionais conhecidas como Penny Blood que se configuraram como uma forma literria nova que condensava formas narrativas anteriores, inovadora tanto pelos seus temas quanto pelo potencial. O pblico as conheceu por meio dos moldes de narrativas sensacionais, serializadas em partes semanais - posteriormente compiladas em volumes -, vendidas ao valor de um penny com enredos de tom sangrento (blood). The Mysteries of London (1844-1848) emerge como um exemplo desses impressos: muito bem-sucedido, despertou a ateno das classes dirigentes para os textos ficcionais que se multiplicavam nos primrdios de uma literatura de massas britnica. Tendo como autor George William MacArthur Reynolds, Os Mistrios de Londres trazia fatias semanais de entretenimento, mistrio e denncia da situao degradante do submundo de Londres contribuindo para que Reynolds fosse aclamado como um dos maiores romancistas de seu tempo, ainda que eclipsado por nomes como Charles Dickens e William Makepeace Thackeray. Assim, as dcadas de 1830 e 1840 so pensadas tanto de uma perspectiva de anlise de aspectos sociais sensveis aos trabalhadores ingleses diante da revoluo industrial, como de impressos que reelaboraram os debates disponveis e se aliaram vrios outros papis radicais como forma de denncia da situao da questo inglesa em que se encontravam os trabalhadores das diversas cidades industriais.
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Pedro Guimares Pimentel (Colegio Pedro II)
O "ganho" na totalidade da produo urbana: uma introduo. Rio de Janeiro, segunda metade do XIX.
Resumo:Ancorados em importante bibliografia dedicada ao e...
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Resumo:Ancorados em importante bibliografia dedicada ao estudo do mercado de trabalho urbano, alm de fazer uso dos dados coligidos no Recenseamento Geral do Imprio de 1872, procedemos ao exame da luta diria pela sobrevivncia na cidade que, para ns, se expressa no termo corrente poca de ganho. Reconhecendo a vigncia da escravido como relao de produo distinta do trabalho livre e do assalariado, propomos, a partir do enfoque metodolgico de Jos de Souza Martins em O Cativeiro da Terra, no qual analisa o colonato como forma transitria de produo capitalista de relaes no capitalistas de produo, proceder a um entendimento radiogrfico da distribuio social da populao nas atividades urbanas para o ano de 1872. Neste sentindo, discutimos a noo de ganho vinculada ao escravizado e ao livre, bem como buscamos delinear suas caractersticas econmicas no processo global de produo. Por fim, propusemos um dilogo com o conceito de superexplorao da fora de trabalho, caro Teoria Marxista da Dependncia e originalmente elaborado por Ruy Mauro Marini.
Diferente do verificado por Jos de Souza Martins para o campo, o processo histrico em anlise no meio urbano envolve no somente a agem do trabalho escravizado para o livre, a partir de supostos pontos fixos como a abolio ou a subsequente industrializao, mas a prpria vigncia da escravido e o processo de urbanizao acompanhados evidentemente do crescimento demogrfico e da diversificao produtiva. Nossa perspectiva abre-se diante da ausncia de referncias tericas ou analticas que superem as dualidades escravizado versus livre ou assalariado versus exrcito de reserva e comprometam-se com a apurao de uma complexa estrutura produtiva que encerre a totalidade dos agentes sociais no ciclo do capital.
A dinmica do ganho agrupa agentes sociais de distintas origens e aquiesce sua abordagem como uma estrutura social e produtiva decompostas em transitoriedades horizontais e verticais, na qual diversos indivduos ocupam posies relativas entre si. Outrossim, vincula-se aos demais nveis produtivos que tem na cidade seu ponto de agem (comrcio do caf, manufaturados importados, etc.) ou seu ponto de origem (fbricas, comrcio de escravizados), ou ainda seu ponto fixo (servios urbanos). Assim, o ganho no se desassocia da urbanicidade da produo, encarada sob o ponto de vista do ciclo do capital, interferindo, de fato, nela.
O ganho , pois, uma proposio para a compreenso da estrutura produtiva e social urbana que leva em conta a superexplorao em seus diversos nveis e carteres transitrios numa situao de dependncia.
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Rafael da Cunha Scheffer (Universidade da Integrao Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab))
Escravizados, indgenas, livres pobres e retirantes: diversidade e semelhanas na composio da fora de trabalho no Cear, na segunda metade do sculo XIX
Resumo:A presente comunicao tem por objetivo discutir a...
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Resumo:A presente comunicao tem por objetivo discutir a composio e a dinmica da mo de obra cearense na segunda metade do sculo XIX, buscando perceber a variedade de sujeitos e condies que marcaram a composio dessa fora de trabalho e suas diferentes experincias. O Cear foi marcado por parte da historiografia como uma provncia que forneceu muitos escravos para o mercado interno de cativos, ao mesmo tempo em que nesse territrio essa mo de obra se manteve constantemente minoritria frente populao livre. Esta, por sua vez, inclua muitos libertos e livres de cor em sua composio, dado importante para entender que a presena negra na regio foi alm da escravido, estando envolvida com as opes ps-emancipao de muitos libertos. Alm deles, indgenas, africanos livres e uma populao pobre branca ou mestia tambm compam esse mundo do trabalho. Mundo esse marcado, de maneira muito significativa, por episdios de graves secas, como a da dcada de 1870, que produziu uma multido de flagelados ou retirantes, com a presena de diferentes grupos sociais entre eles. Nesses perodos, os atingidos pelas secas foram percebidos como mo de obra disponvel, cujo emprego respondeu a uma viso tanto prtica quanto disciplinar. De fato, em diferentes contextos, condies sociais e regimes de trabalho, as experincias e o convvio dessas populaes conformaram o mundo do trabalho na provncia, e a prpria ideia de trabalho e sua disciplinarizao ao longo da segunda metade do sculo. As vises sobre esses diferentes grupos, a disciplina e o controle dos mesmos, por sua vez, foi um tema recorrente nos jornais e debates polticos locais. Como um dos objetivos, vamos acompanhar como esses diferentes grupos tiveram sua importncia para a sociedade local reavaliada ao longo do tempo. A questo indgena, nesse aspecto, nos ajuda a entender melhor essa relao. Esse grupo ou do uso corrente de sua mo de obra como algo disponvel para o Estado, na primeira metade do sculo, para a negao de sua presena nas dcadas seguintes, com um claro impacto relacionado ao uso e disponibilidade de suas terras, assim como de seu trabalho. Portanto, alm de perceber os variados grupos que formaram a mo de obra local e sua dinmica no tempo, buscaremos tambm entender como eles foram percebidos e tratados pelos poderes constitudos. Para tanto, com o apoio da bibliografia, sero utilizadas variadas fontes, como: livros de notas de compra e venda de escravos, registros de aportes, relatrios de presidentes de provncia, alm de jornais (Pedro II, Gazeta do Norte, O Cearense e Libertador) que discutam essas presenas, as relaes de trabalho estabelecidas e a disciplinarizao desses grupos.
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Tatiana Silva de Lima (UPE)
Trabalho escravo e trabalho livre no Recife oitocentista: focalizando os forros agregados nos servios domsticos.
Resumo:Em uma amostra composta por 144 inventrios post m...
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Resumo:Em uma amostra composta por 144 inventrios post mortem, que podem ser encontrados no Instituto Arqueolgico Histrico Geogrfico Pernambucano (IAHGP), foi possvel observar um recrudescimento das alforrias privadas aps a extino do trfico transatlntico de africanos escravizados no Recife entre 1850 e 1870. A prtica de alforriar foi uma das polticas de controle e explorao do liberto agregado pelo proprietrio. At mais ou menos 1871 o proprietrio possua a prerrogativa de do-la, obrigando o liberto a uma dvida pessoal, fundamentada na tica do trabalho e na subalternidade. O patrono ainda possua a vantagem de estabelecer obrigaes que deveriam ser cumpridas pelo forro no caso das alforrias condicionais, como foi a maioria das manumisses na amostra da poca. Uma parte dos forros era engajada nos servios domsticos. No entanto, a maioria deles no possua ocupao discriminada, dificultando a certificao das suas habilidades laborais atravs de cartas de liberdade e outros documentos no mundo do trabalho livre. O objetivo dos proprietrios, em sua maioria feminina, era que os libertos continuassem servindo como agregados para as suas famlias, sem nada ou quase nada mudar da vida de escravos. Contudo, as manumisses particulares presentes na amostra diminuram depois da Lei do Ventre Livre em 1871. Certamente, a alforria como poltica de domnio senhorial perdeu um pouco a sua fora, tendo em vista que o Estado interferiu na prtica da alforria, descentrando o poder do senhor no processo de liberdade. Afinal, o dispositivo legal reconheceu o peclio dos cativos e o direito alforria por indenizao de preo, estabeleceu o tempo mximo de 7 anos para a prestao de servio do liberto, criou o fundo de emancipao que promoveu alforrias, e suprimiu a Ordenao Filipina onde ela revogava as alforrias por ingratido. Nesta conjuntura quando houve outras formas de obter a manumisso, possivelmente os proprietrios avaliaram que seria mais eficaz libertar gratuitamente, como expressou o maior percentual de alforrias gratuitas no perodo, ainda confiando-se nos laos de gratido dos ex-escravos. Paralelamente, embora certamente muitos libertos fossem engajados nos servios domsticos, a concentrao deles nas atividades no informadas aumentou. provvel que esse aspecto tenha convergido para assegurar a permanncia dos ex-escravos nas famlias como agregados, que continuaram a trabalhar sem respeito ao tempo mximo de 7 anos de prestao de servio estipulado pela referida Lei 2.040 de 1871, e sem compensaes monetrias, por troca de comida e teto subalternos como antes.
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ST - Sesso 4 - 19/07/2019 das 14:00 s 18:00 3p493x
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Aline Mendes Soares (UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)
Discursos, prticas e jogos de disputa na construo das leis de amparo infncia trabalhadora na Primeira Repblica (1889-1927)
Resumo:A presente pesquisa tem por objetivo mostrar os jo...
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Resumo:A presente pesquisa tem por objetivo mostrar os jogos de disputa que permearam a Primeira Repblica, mais especificamente no que se refere construo de uma codificao que amparasse a infncia trabalhadora. Trata-se de compreender os caminhos da sociedade e as formas de persistncia que esses sujeitos encontravam para resistir explorao desses pequenos trabalhadores. E justamente fruto do desdobramento das reivindicaes nesse cenrio, mais especificamente nas primeiras dcadas do sculo XX, que se iniciam os debates no campo jurdico em torno dessa questo. Pretendemos entender melhor o sentido da feitura das leis de amparo ao trabalhador menor.
A Repblica foi inicialmente marcada por transformaes sociais na esfera do trabalho. O controle jurdico por meio de instrumentos legislativos, tais como o Cdigo Penal de 1890 e a Carta de 1891, produziu interferncias visando manter a ordem social e os agentes governamentais utilizavam-nos como importantes mecanismos de disseminao de uma ideologia do trabalho e de organizao da mo de obra no ps-abolio, tendo em vista que no mais poderia acorrentar os trabalhadores ao local de trabalho.
No que se refere poltica econmica, com adoo do liberalismo, os dirigentes estatais pareciam estar preocupados apenas em difundir o mercado econmico e garantir o seu incremento, sem se importar em atender as demandas sociais, advindas das distores do mercado .
O cenrio comea a se alterar quando emergiu a necessidade de adequao das estratgias de ordenamento e controle social para uma sociedade de homens, mulheres e crianas livres, ao menos teoricamente. Como em toda economia que se modernizava os indivduos estavam disponveis com a libertao legal, o que no significou necessariamente que encontravam desimpedidos e recrutveis para qualquer tipo de trabalho. Tais indivduos estavam munidos apenas da certeza de que se deparavam meio a uma situao social dominada pelas mais diversas exploraes e pela precariedade com indigncias, doenas, invalidez, recorrentes acidentes de trabalho, abusos, orfandade e abandono.
Nos anos que seguem no ps-abolio, houve um considervel aumento nos pedidos de mo-de-obra infantil no Rio de Janeiro. Mas, o trabalho infantil no foi uma novidade nos anos que se seguiram Repblica. A infncia pobre sempre trabalhou. A novidade que na primeira dcada do sculo XX eclodem denncias de explorao dessa mo-de-obra, por parte principalmente de militantes do movimento operrio em jornais de suas categorias, seguidos da imprensa de grande circulao em menor escala, de alguns homens da poltica ou com certa notoriedade pblica e at mesmo por parte das crianas que recorriam polcia para registrar ocorrncias contra seus patres e/ou tutores.
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Breno Ampro
Sinfonia des(concertante): As condies de trabalho dos msicos de orquestra em So Paulo (1915- 1945)
Resumo:O artigo em questo pretende apontar possibilidade...
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Resumo:O artigo em questo pretende apontar possibilidades investigativas sobre as experincias de trabalho musical em geral, tomando como referncia particularizada a atuao de musicistas de orquestra em So Paulo nas primeiras dcadas do sculo XX. A observao de associaes musicais, Sociedade de Concertos Sinfnicos, Sociedade Sinfnica de So Paulo e o Centro musical So Paulo fornece e documental para rastrear questes relativas ao perfil do trabalho, contratao e a dimenso da insero dos profissionais da msica na dinmica do mundo do trabalho em pleno alvorecer do processo de industrializao paulista, solo histrico em que a profuso de novas modalidades de trabalho encarnam a intensificao das transformaes no sociometabolismo paulistano, marcados pelo processo de modernizao conservadora, conciliao e reposio do atraso das estruturas capitalistas, sempre pelo alto, mantendo o distanciamento estratgico das demandas populares.
O debate do trabalho em relao as demandas histricas das peculiaridades do processo de conscincia de classe dos msicos de orquestra em So Paulo se articula com o as dinmicas de institucionalizao da classe trabalhadora e representao sindical. Na experincia histrica do Centro Musical So Paulo possvel rastrear os tensionamentos promovidos pelo anseio de trabalhadores que buscavam o amparo legal e a institucionalizao da profisso, face as condies autnomas, muitas vezes livres de contrato, as quais estavam submetidos.
A experincia de Mrio de Andrade frente sua nomeao para Diretor do Departamento de Cultura da cidade de So Paulo e posteriormente a resolutiva promulgada pela comisso para avaliar o peticionamento protocolado junto ao gabinete da Presidncia da Repblica no Rio de Janeiro por Armando Belardi, ento diretor do sindicato Centro Musical So Paulo, forjaram documentos histricos que fornecem pistas para que se possam traar investigaes acerca das condies das quais os msicos de orquestra estavam inseridos. O debate que se urde das questes materiais de produo e reproduo da vida se intersecciona com os processos de institucionalizao das lutas sindicais na particularidade dos caminhos e descaminhos dos trabalhadores e trabalhadoras no mundo do trabalho.
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Luan Lima Batista (Universidade Federal da Bahia)
A greve de 1909 e a experincia dos trabalhadores e empregados das estradas de ferro baianas (1870-1909).
Resumo:O presente trabalho tem por objetivo analisar a ex...
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Resumo:O presente trabalho tem por objetivo analisar a experiencia dos trabalhadores e empregados das estradas de ferro na Bahia de 1870 a 1909. Nossa proposta compreender aes e os meandros do vitorioso movimento grevista em 1909 atravs da anlise das experincias forjadas nas dcadas anteriores. Logo, nos interessa analisar de perto os dilemas da construo/operao, as formas de organizao e o perfil social daqueles trabalhadores.
As ferrovias baianas estiveram sobre a tutela de capitalistas ingls durante toda a segunda metade do sculo XIX. Com amplos privilgios e favorecimentos estatais, os ingleses comandaram setores cruciais da economia baiana at o incio do sculo XX, no por acaso as trs primeiras ferrovias construdas em solo baiano foram geridas pelos ingleses at 1901. A partir de 1901 a Unio resolveu retirar dos estrangeiros os contratos de explorao para em seguida arrendar a ferrovias para terceiros. Logo, em janeiro 1909, temos a formao do primeiro grande monoplio ferrovirio em torno da Companhia Viao Geral da Bahia, englobando as principais ferrovias do Estado, a Estrada Ferro Bahia ao So Francisco, a Estrada de Ferro Central da Bahia e a Estrada de Ferro de Nazareth. Dez ms aps a consolidao da empresa, a CVGBa foi totalmente paralisada pela greve dos empregados.
Durante 3 meses de movimento, os grevistas reivindicaram melhores condies de servio, aumento salarial, flexibilizao dos regulamentos de trabalho, exigiam que os trabalhadores grevistas no fossem demitidos, bem como mobilizaram em seu favor uma ampla rede de solidariedade que envolvia desde advogados, comerciantes, populares e at mesmo religiosos. Com organizao e resistncia, os ferrovirios conseguiram chamar a ateno dos grandes figures da poltica baiana e nacional, forando as autoridades competentes a tomar medidas drsticas. Durante a greve os trabalhadores sofrem com as manobras dos diretores da CVGBa, com a truculncia da polcia e ameaa violenta de jagunos para alm do estresse dirio de mobilizao.
Nossa proposta, portanto, reside na compreenso das estratgias de luta e organizao empreendidas pelos grevistas em 1909, mas a partir da anlise da experiencia daqueles trabalhadores nas dcadas que antecederam a greve, com especial ateno para os movimentos da carestia e a influncia dos processos de racializao na formao de experiencias comuns. Logo, os preceitos da Histria Social Inglesa, sobretudos o conceito de experincia defendido do E.P. Thompson ser fundamental nessa empreitada. Quanto as fontes, utilizamos jornais, a documentao oficial da ferrovia, falas e relatrios da Assembleia Legislativa da Provncia da Bahia, processos crime, relatrios da Associao Comercial da Bahia e fotografias.
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Mrcio Romerito da silva Arcoverde (UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco)
A indstria txtil pernambucana e trabalhadores no ps abolio: uma anlise atravs da fbrica belga Societ Cotonier Belge Bresilienne no interior de Pernambuco.
Resumo:No final do sculo XIX e primeira metade do sculo...
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Resumo:No final do sculo XIX e primeira metade do sculo XX, Pernambuco ou por um amplo crescimento e estruturao se tornando ponto convergente de empreendimentos txteis. Seja na capital recife, nos seus entornos ou em reas mais afastadas em cidades do interior, esse estado viu, por exemplo, o setor txtil rivalizar com o poderoso setor da cana de acar. Diante desse quadro importante acentuar que a dinmica econmica, poltica e social de Pernambuco teve na indstria txtil um importante componente. Os cotonifcios fizeram surgir cidades inteiras, criaram bairros dentro da cidade de recife, alargaram as fronteiras entre uma cidade e outra. Cada espao desse contou com uma dinmica prpria de organizao, como tambm guardou algumas continuidades. Definitivamente o trabalho, de fins do XIX e meados do XX, foi marcado pela existncia do setor txtil. Ao analisar a Societ Cotonnire Belge- Brsilienne usei da mesma perspectiva para entender como a fbrica belga criou os aparelhos de disciplina. Pernambuco se mostrara um lugar promissor para a instalao da fbrica belga. Uma sociedade que vislumbrou na zona rural a implementao de um grande e ambicioso negcio para a poca. Os ltimos anos do sculo XIX e incio do XX, com construo de ferrovias, uma agenda antiescravista insurgente em alguns proprietrios de escravos da lavoura aucareira e a novidade do trabalho fabril ensejou um discurso pela libertao de escravos em alguns pontos da tradicional zona da mata canavieira. Dentro desse contexto, entendemos que as fbricas txteis- principalmente as que se desenvolveram a partir de uma vila operria com normas e especificidades de origem no poder local da fbrica- foram pontos de trabalho importante para entender a nova disciplina do trabalho livre assalariado em Pernambuco. O movimento de liberao gradual da escravido, uma normatizao do trabalho livre encontra nos cotonifcios espaos de uma nova lgica do trabalho assalariado. Assim discorremos sobre o caso da empresa belga que se instalou no interior de Pernambuco- cidade de moreno- em 1910 para fazer um levantamento de possveis libertos que ingressaram na fbrica de tecidos e aram a viver na sua vila operria.
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Maria Clara Spada de Castro (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)
Trabalho e revolta entre aproximaes e distanciamentos: Fora Pblica do Estado de So Paulo e Exrcito Brasileiro na primeira metade da dcada de 1920.
Resumo:Esta apresentao tem como proposta discutir o tra...
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Resumo:Esta apresentao tem como proposta discutir o trabalho realizado nos espaos militares por aqueles que foram processados por participarem da revolta de 1924 em So Paulo. Ocorrida em continuidade aos levantes do Forte de Copacabana e de outros espaos militares no Rio de Janeiro em 1922, e que deu origem a marcha da Coluna Miguel Costa - Prestes, tal revolta contou com o envolvimento de advindos do Exrcito Nacional, da Fora Pblica de So Paulo e civis das mais diversas origens sociais. Aqui abordaremos, comparativamente, trajetrias de indiciados na revolta oriundos do Exrcito e da Fora Pblica do estado de So Paulo.
Em fins do sculo XIX tivemos a imposio de hbitos ligados ao trabalho e a disciplina, a partir do decreto n 847, de 11 de outubro de 1890, captulo XIII Dos Vadios e Capoeiras, art. 399, que declarava deixar de exercitar profisso, ofcio, ou qualquer mister em que ganhe a vida, no possuindo meios de subsistncia e domiclio certo em que habite; prover a subsistncia por meio de ocupao proibida por lei, ou manifestamente ofensiva da moral e dos bons costumes: Pena - de priso celular por quinze a trinta dias. Ambas instituies, tanto a polcia quanto o exrcito, exerceram papel decisivo no controle da ordem republicana, seja por meio da represso ou pela incorporao em suas fileiras se mostrar como uma possibilidade de o ao trabalho.
Com base em estudos acerca de fins do Imprio sobre a Fora Pblica de So Paulo, notrio que o ingresso na instituio era visto por homens pobres brancos e negros como uma possibilidade de trabalho, de ascenso social e de o a cidadania. Tal ato se distanciava sobremaneira do ingresso no Exrcito, j que neste ltimo ocorria, at 1916, o recrutamento forado de vadios, rfos, praticantes de pequenos delitos e indesejveis no geral, aproximando-se de uma instituio protopenal, que se utilizava do servio militar semicoercivo e de castigos corporais.
De modo geral, o trabalho realizado pelos soldados no Exrcito se relacionava com a vida militar: rondas, limpeza, manuteno de armas e instalaes. Alguns eram escrives, arquivistas, contadores, motoristas, cozinheiros, cuidadores de doentes em enfermarias ou tratadores de cavalos. Soldados "artesos" tinham funes de pedreiros, encanadores, carpinteiros, fabricantes de armas, ferreiros, curtidores e alfaiates. Em fins do sculo XIX, ainda realizavam funes de polcia ou trabalhavam junto com escravos pblicos nos depsitos de plvora e fundies, bem como em obras pblicas de estrada de ferro e linhas telegrficas.
A proposta aqui tambm pensar como os ofcios desenvolvidos pelos processados da revolta se relacionam com as questes de raa e classe, e como isso ecoou no desenrolar dos acontecimentos de julho de 1924.
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Paula Ferreira Vermeersch (Unesp)
Os canteiros das igrejas paulistanas da Blle poque: 1870-1930
Resumo:A partir de documentos textuais e imagticos, pert...
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Resumo:A partir de documentos textuais e imagticos, pertencentes ao Arquivo da Cria Metropolitana de So Paulo, do Arquivo Municipal, do Arquivo do Estado, do Arquivo Edgar Leuenroth da Unicamp e de acervos particulares, possvel reconfigurar as etapas do processo construtivo de vrios canteiros da So Paulo do caf. A profunda transformao urbana, advinda do apogeu desta cultura agrcola e do surgimento da indstria e da ferrovia, e a coexistncia do trabalho escravo e livre, pode ser observada na srie quase infindvel de canteiros, locais onde a construo dessa nova "metrpole" foi imaginada e gestada. O destaque, nesta pesquisa, para as demolies, construes e reformas dos templos paulistanos, importantes lugares de memria e de disputa de narrativas culturais, sociais e polticas. Desde a primeira Igreja Luterana, uma das pioneiras do chamado estilo neogtico, e da reformulao da Igreja de Santo Antnio, do Largo do Patriarca, que nas dcadas de 1880 e 1890 ganhou nova fachada, de gosto neoclssico, ando pelas demolies da Igreja de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos, do Largo do Paissandu e da Igreja de Santa Ifignia, bem como da Antiga S e da Igreja de So Pedro dos Clrigos, ando pela total reformulao da Igreja e Mosteiro de So Bento, templos catlicos e protestantes de So Paulo so expresses desses processos histricos complexos e na maior parte, ainda pouco estudados na historiografia. Cronologicamente, muitos desses canteiros ocorreram em sincronia, ou em intervalos de tempo bastante curtos. As fotos permitem perceber as estratgias tcnicas e o entorno, que tantas e tantas vezes tambm estava em obras- o caso da Igreja de Santa Ifignia, em cuja frente se construir um dos trs grandes viadutos da reconfigurao do Vale do Anhagaba. A comunicao pretende estabelecer uma primeira cronologia desses tempos, identificar processos tcnicos convergentes e divergentes, e, principalmente, avanar na identificao dos trabalhadores que circularam de canteiro em canteiro, muitos dos quais com funes bastante especficas e especializadas. o caso dos trabalhadores da terceira S de So Paulo, iniciada em 1913, que muito provavelmente estiveram presentes, antes, na Santa Ifignia j citada.
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Rafael Lamera Giesta Cabral (Universidade Federal Rural do Semi-rido - UFERSA)
Represso e direito: um estudo de caso sobre a desnaturalizao da violncia contra a organizao do trabalho na CEFMSJ (1935-1945)
Resumo:A partir de 1935, os usos do direito do trabalho p...
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Resumo:A partir de 1935, os usos do direito do trabalho aram a ser mediados pelos rgos de controle, fiscalizao e regulamentao trabalhista da Era Vargas. O foco era o Conselho Nacional do Trabalho, que ao lado das Juntas de Conciliao e Julgamento, julgava os conflitos trabalhistas. Essa mediao acabou por afetar amplas organizaes trabalhistas, centradas diretamente na atuao de sindicatos considerados combativos. Em anlise ao contexto da dcada de 1930, o Museu Estadual do Carvo, localizado em Arroio dos Ratos (RS), abriga um fundo de arquivo da Companhia Estrada de Ferro e Minas de So Jernimo CEFMSJ. Entre os documentos do acervo registra-se uma pasta de arquivo com a indicao Cdigo de nomes prprios (alterado e completamente reformado), com data de arquivamento em 02 de agosto de 1939. Era um documento com 40 pginas, arrolando em ordem alfabtica as situaes, pessoas, bens e empresas em uma outra linguagem descaracterizada. Uma greve aria a ser renomeada como Abdias. J Adalberto ou Ananias fazia referncia ao delegado de polcia de So Jernimo. Almeidas era a referncia aos operrios. Dirceu, o Conselho Nacional do Trabalho. Getlio Vargas era conhecido como Caetano. Juvenal era utilizado para expressar um entendimento direto entre os operrios e o diretor da empresa para aumento de salrios. Greve geral era referenciada como Eloy. O jornal Dirio de Notcias era Herculano. Luiz Carlos Prestes, era o Rufino. O presidente do sindicato dos mineiros era identificado como Laerte ou Nicacio. O partido comunista, Leopoldo. A referncia ao sindicato dos mineiros alternava entre Jos ou Carlos. A censura era nomeada como Thiago. Os usos da linguagem para caracterizar momentos autoritrios j foram explorados em vrios contextos. Os registros do arquivo exploram o processo de desnaturalizao da represso poltica sobre os trabalhadores. O objetivo deste trabalho apresentar os resultados parciais de uma pesquisa em andamento sobre os usos da linguagem em tempos de represso trabalhista (1937-1945), a partir do acervo encontrado no Museu Estadual do Carvo (Arroio dos Ratos-RS). As estratgias para exteriorizar dilogos e aes em torno daquilo que no se registra oficialmente assumem, nesta pesquisa, um dado especial. Tratava-se de um aperfeioamento significativo dos sistemas de controle e vigilncia mantidos pela companhia no apenas contra as organizaes operrias e seus trabalhadores, mas contra qualquer pessoa ou grupo que representassem resistncia a seus interesses. O uso de cdigos lingusticos, ao desnaturalizar a represso, permite institucionalizar um novo tipo de violncia contra a organizao do trabalho, e explora-lo, a a ser significativo para novas interpretaes sobre o direito do trabalho no tempo.
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Tyrone Apollo Pontes Cndido (Universidade Estadual do Cear)
Dilogos compostos na subalternidade: protestos transnacionais de trabalhadores na Estrada de Ferro Madeira-Mamor
Resumo:Partindo de episdios de uma greve de operrios oc...
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Resumo:Partindo de episdios de uma greve de operrios ocupados em trabalhos de construo da Estrada de Ferro Madeira-Mamor (EFMM) em 1878, envolvendo uma composio plural de trabalhadores que inclua grupos de retirantes da seca provenientes do Cear, indgenas da Bolvia, negros contratados em Washington DC, alm de norte-americanos, ingleses, irlandeses e italianos vindos da Filadlfia, EUA, a pesquisa procura discutir a formao de aes de protesto compartilhadas atravs de fronteiras tnicas e nacionais. Situada na perspectiva de uma Histria Global do Trabalho e dos Trabalhadores, a investigao, alm de problematizar a relao entre o local e o global no Mundo do Trabalho tal como se apresentava em territrios ao norte do Brasil nas ltimas dcadas do sculo XIX, procura articular motivaes socioculturais e contextuais diversas (como as expectativas de ex-cativos diante das experincias de trabalho forado nos canteiros de obras na Amaznia, o contato de trabalhadores mveis nas estradas, povoados, zonas porturias e no interior de navios que circulavam por rios e oceanos, as condies dos sertanejos do semirido brasileiro durante os tempos de estiagem prolongada, dos indgenas empregados na extrao da borracha, dos negros em sua luta por direitos durante o ps-Guerra Civil norte-americana, de trabalhadores de vrias partes do mundo que vivenciavam os tempos de desemprego e regresso salarial durante a Grande Depresso nos EUA, e que culminou, em 1877, nos dramticos acontecimentos da grande greve ferroviria que se alastrou por diversos estados daquele pas). Com efeito, a pesquisa pretende avanar numa perspectiva historiogrfica que aborde as aes das pessoas comuns enquanto sujeitos condicionados pela subalternidade, como construtores de suas prprias histrias, compondo dilogos desde baixo e por cima de eventuais barreiras lingusticas e culturais. O principal foco da investigao conflui para a verificao da existncia de redes de comunicao estabelecidas entre os diferentes grupos de trabalhadores ao lidarem com as condies degradantes de trabalho, algumas dessas ao estilo dos "discursos ocultos" analisados por James C. Scott em seus estudos.
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Victor Doutel Pastore (USP - Universidade de So Paulo)
Na terra onde no h preconceitos de cor estrangeiros indesejveis sim, negros no: conflito e competio entre imigrantes e negros no mercado de trabalho em So Paulo (1915-1933)
Resumo:Nas dcadas seguintes abolio na cidade de So ...
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Resumo:Nas dcadas seguintes abolio na cidade de So Paulo, a chegada em massa de imigrantes europeus somada ao racismo dos empregadores e s polticas de branqueamento do Estado geraram dificuldades e acentuaram a marginalizao da populao negra e mestia. Se o principal motor da poltica de imigrao subsidiada foi a necessidade de criar um exrcito de reserva de mo de obra que rebaixasse os salrios, garantindo a alta lucratividade nas fazendas de caf e na indstria nascente, o racismo e as pretenses de modernizao europeizante dos paulistas culminaram na preferncia dos empregadores pelo trabalhador imigrante recm-chegado. Afrodescendentes em geral foram preteridos nos principais postos de trabalho da economia formal urbana a indstria incipiente e o comrcio.
Constitui um ponto pacfico na historiografia recente que, em So Paulo, a heterogeneidade da classe trabalhadora em formao imps desafios para a organizao e luta dos movimentos que surgiam. As diferenas entre os trabalhadores nacionais e estrangeiros, negros e brancos, organizados e no organizados, empregados e desempregados, constituram barreiras para uma atuao unificada e slida contra os proprietrios. Ainda que a maior parte dos conflitos tivesse como origem a disputa por espaos no mercado de trabalho, frequentemente eles foram expressos em termos e linguagens que reforavam identidades e diferenas tnico-raciais e/ou nacionais.
O objetivo deste trabalho analisar de que forma as principais lideranas militantes do meio negro, atravs dos escritos em seus jornais, perceberam a figura do trabalhador imigrante e de que maneira utilizaram esse grupo social em seus discursos, como estratgia de fortalecimento da identidade negra. A partir dos peridicos da imprensa negra foi possvel identificar uma representao dual dos estrangeiros: ao mesmo tempo em que eram um modelo de organizao e associativismo a ser seguido como exemplo, eram tambm considerados concorrentes privilegiados nos mundos do trabalho, responsveis diretos pelo afastamento da populao afrodescendente e nacional de postos de trabalho. Na presente ocasio meu enfoque limita-se a esse segundo polo da representao. Sero consideradas questes de anlise o ressentimento desses lderes negros com os imigrantes; a crtica s polticas de imigrao, aos empregadores e ao Estado, a partir da proposio de que o Brasil deveria privilegiar seu povo, ao invs das colnias estrangeiras; a denncia das atitudes racistas dos imigrantes, que intensificaram as rivalidades entre os grupos.
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