ST - Sesso 1 - 16/07/2019 das 14:00 s 18:00 187213
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Aguiomar Rodrigues Bruno (COOPERATIVA EDUCACIONAL CONTRUIR LTDA)
Por uma historia economica da morte: o circuito mercantil fnebre no interior fluminense, RJ (sc. XIX)
Resumo:As oraes, as missas pelas almas, o cortejo fneb...
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Resumo:As oraes, as missas pelas almas, o cortejo fnebre, o sepultamento: todos esses momentos convidavam a comunidade a tomarem parte em ritos pblicos ligados morte. No entanto, para a construo desses espaos heterotpicos a casa, a igreja e o cemitrio , nos quais os limites entre o sagrado e profano, o pblico e o privado se confundiam, era preciso conhecer os ritos de agem, bem como compor a materialidade desses espaos considerados essenciais para o bem morrer catlico. Isto , exerccios espirituais para uma boa agem ao mundo sobrenatural. Dessa forma, o bem morrer considera, dentre outras coisas, levar uma vida crist com o pensamento na salvao, incluindo os cumprimentos dos rituais catlicos de ltima hora determinados em testamento.
certo que nas chamadas sociedades tradicionais havia maior proximidade e familiaridade social com a morte, reforada por atividades simblicas diversas que favoreciam a repetio de formas ritualizadas. Isso no significava que era fcil morrer, mas sim que a morte no era banalizada ou negada, porque se achava inserida no cotidiano das pessoas. No entanto, o artigo no visa discutir diretamente as sensibilidades nem as prticas fnebres das sociedades ditas tradicionais, em especial as do sculo XVII e XVIII, j to fartamente discutidas pela atual historiografia da morte. Mas sim, pretendemos analisar atravs de uma abordagem econmica e social as prticas comerciais fnebres Oitocentistas.
Logo, a prestao de servios, a venda e incorporao especfica desses objetos fnebres compunha uma urea sacramental ao ambiente lutuoso, que lhes permitia ressignificar a morte, exercendo uma forte influncia sobre a comunidade. A concretizao desse comportamento compartilhado, onde o consumo de objetos pressupe uma cultura material da morte no interior e atravs da sociedade, possui implicaes econmicas para os consumidores e profissionais envolvidos num mercado funerrio. Da o objetivo da pesquisa em observar os negociantes, conhecidos como os armadores, que participavam desse circuito mercantil gerado pela morte e os objetos utilizados em parte dos rituais funerrios na vila de Pira, Vale do Paraba Fluminense Oitocentista.
Deve-se logo reconhecer que o estudo detalhado desta movimentao comercial revela uma gama de objetos funerrios que estavam presentes entre os padres de consumo desse mercado. Por outro, o circuito da morte revela-nos tambm a densa rede existente entre diversos agentes envolvidos na prestao de servios fnebres no interior do Imprio: comerciantes fornecedores de objetos aos armadores, que intermediavam a relao com sacerdotes, irmandades, coveiros, mdicos, carpinteiros, familiares do morto entre outros.
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Antonio Lindvaldo Sousa (Universidade Federal de Sergipe)
Cremao do Cadver, Higiene e Crena nas teses dos mdicos Antonio Maral (1885) e Gabriel Cardoso Franzeres (1910).
Resumo:Nesta presente comunicao apresentamos duas teses...
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Resumo:Nesta presente comunicao apresentamos duas teses de doutorado em medicina que fizeram apologia a cremao do cadver. A Cremao e a Inhumao, escrita por Antonio Maral, uma delas. A mesma foi defendida em 1885 para obter o grau de doutor em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia. Com esse mesmo ttulo, Gabriel Cardoso Franzeres apresentou, em 1910, sua tese na Escola Mdica Cirrgica do Porto, em Portugal. Ambos os autores justificaram que a cremao seria a nica medida higinica de combate a proliferao das epidemias. A defesa da cremao exigiu tambm que se apresentassem um questionamento s formas tradicionais de enterrar os corpos dos mortos, incluindo crticas sutis ao controle do corpo do defunto por parte dos sujeitos ligados s crenas religiosas. Proibir a proliferao de tmulos seria uma medida mais coerente defendida pelos dois autores. Ambas as teses revelam os sujeitos mdicos, mergulhados nos problemas do seu tempo, como as epidemias que assolavam a sociedade e, tambm, expem os mesmos como conhecedores do ado, do histrico das formas de sepultamento em vrias sociedades. Eles usaram a histria como um dos argumentos dos seus trabalhos. Mas a cincia mdica ocupa um lugar central das suas discusses. H referncias utilizadas por ambos quando propem a cremao do cadver. Buscaremos entender os argumentos cientficos construdos por ambos. Veremos que eles acreditam que a cincia mdica seria a nica a encontrar o melhor caminho do bem viver em sociedade. Todos dois fazem uma ligao entre cincia e mudana, apostando na premissa de que permanecer preso s tradies aprisiona o homem ao ado e mantem as costas para o futuro. Os dois agentes da medicina enxergam o corpo como um ser biolgico e no como um ente sagrado que liga a terra, ao p, ao retorno da origem do homem. Para apreender esses argumentos considerados cientficos, expressos nas teses, nos valeremos das lies de Walter Benjamim na direo de lermos os textos contrapelo, enxergando os ditos e no ditos nas mesmas. Ambas as teses sero examinadas como artefatos culturais mergulhados nas subjetividades dos autores. Franois Dosse nos auxiliar a percebermos ambos os textos com aes de sujeitos na cultura, no fazer social no e para o seu tempo. Michel Foucault nos ajudar a atentarmos para o saber mdico entrelaado em poderes. Por fim, Norbert Elias nos auxiliar a empurrarmos nossa anlise para o entendimento de que esses mdicos eram sujeitos de um processo civilizador, agentes diante das solues para a vida, evitando a morte.
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Carlos Alberto de Oliveira (Universidade Estadual de Santa Cruz)
QUANDO A MORTE RONDA O CAIS: Acidentes de trabalho e condies de risco entre os Estivadores do Rio Grande/RS
Resumo:Compreender a figura emblemtica do estivador requ...
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Resumo:Compreender a figura emblemtica do estivador requer uma leitura que abarque a natureza de suas relaes de trabalho no ambiente porturio, investigando as caractersticas marcantes de seu ofcio. O estigma de ser estivador no recente. Desde o comeo do sculo XX, surge a figura do trabalhador de prancha, em grande parcela, ex-escravos. Tal situao acabar por construir e fortalecer a idia do estivador como um sujeito bruto, que sobrevive da fora de seus msculos. Joo do Rio, escritor carioca do incio do Sculo XX, em seu artigo Os trabalhadores da estiva (1904), contribui com a construo de uma imagem preconceituosa dos estivadores. No cinema, tais imagens foram muito bem exploradas na obra de Elia Kazan, On the waterfront (1954). Esta Comunicao busca tematizar aspectos da figura do Estivador a partir de acidentes ocorridos no Porto do Rio Grande, na dcada de 1960. Em especial, focamos os acidentes fatais ocorridos na operao de descarga. Esta Comunicao busca tematizar aspectos da figura do Estivador a partir de alguns acidentes ocorridos no Porto do Rio Grande, na dcada de 1960. Em especial, focamos os acidentes fatais ocorridos na operao de descarga dos Navios African Sky (1965) e Romney (1966). Particularmente o acidente no Navio Rommey, ao vitimar o estivador rio de Souza, nos permitir observar a forte presena dos estivadores na comunidade da cidade porturia do Rio Grande. Neste particular, o acervo fotogrfico do Sindicato dos Estivadores do Rio Grande, contendo imagens do seu velrio, bastante emblemtico. No dilogo com a memria destes estivadores, alm de seus depoimentos, buscamos e na imprensa local e no arquivo do Sindicato dos Estivadores de Rio Grande (SERG), onde foram identificadas imagens do velrio de rio de Souza. Oportuno lembrar que a tenso permanente e continuada frente ao limite de vida e morte existente no universo porturio produz muito mais nos estivadores, do que em outros segmentos de trabalhadores, uma conscincia de risco, face s condies de trabalho lhes exigir alto grau de destreza e tenacidade em busca no s da proteo individual, mas principalmente coletiva. A falta de um maior apreo pelo risco no universo porturio se consolida, diariamente, por uma tradio de ser e pertencer famlia porturia. A forma idealizada sobre si mesmo, como guerreiros do cas, fez, ao longo dos anos, com que os estivadores enfrentassem as pssimas condies de trabalho como sendo normais.
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Carlos Barros Gonalves (UFGD)
Vises sobre a morte e ps-morte no protestantismo brasileiro: fins do sculo 19 e princpios do sculo 20.
Resumo:O objetivo dessa comunicao analisar, luz da ...
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Resumo:O objetivo dessa comunicao analisar, luz da Histria, as representaes sobre a morte e o morrer no protestantismo brasileiro, de fins do sculo 19 e primeiras dcadas do sculo 20. Para tanto, sero utilizados folhetos evangelsticos e textos publicados em jornais eclesisticos do perodo. Intento analisar como foram representados os cuidados com o enfermo/doente, com o corpo do falecido, com rituais morturios, familiares, parentes e comunidade de fiis. Pretende-se ainda verificar possveis diferenas, nas publicaes, ao se apresentarem crianas, jovens, mulheres, homens fiis ou lideranas. Tratar de morte abordar como um grupo social constri uma determinada forma de ordenar/dar sentido ao mundo, s coisas, dos vivos e dos mortos. Essa relao no se d/deu no vazio, mas num conjunto de significados/processos histricos mais amplos, no tempo, espao. Por isso, h diversas formas de entender, dar sentido morte e ao morrer, em diferentes culturas, religiosidades. Os protestantes, assim como os cristos de maneira geral, trazem em suas concepes/formas de lidar com a morte uma longa evoluo cultural, com traos de culturas/costumes anteriores. No caso aqui proposto, pretende-se apresentar como as formas de lidar com o morte e o ps-morte tambm atenderam demandas tpicas de uma crena minoritria em busca de seu lugar na vida religiosa do povo brasileiro, em especial, se opondo s crenas do catolicismo e suas maneiras de lidar com a mesma temtica/prtica. Uma das diferenciaes, ou oposies, foi a contraposio da ideia do purgatrio, uma vez que os protestantes no evocavam o papel da institucionalidade religiosa como fiadora para a salvao da alma dos fiis. Outra diferenciao foi a no celebrao, no Brasil, do Dia dos Mortos, uma vez que com a morte dos indivduos estava rompido seu ciclo no plano terreno. Nos folhetos e jornais, o momento da morte apresentado tambm como um elemento motivador, inspirador do fiel morto para com os que permaneceram em vida, uma vez que o destino de ambos morto e vivo um dia seria o encontro com Jesus Cristo na morada celestial. A morte, por vezes, foi representada no como um fim, ou o encerramento de uma vida, mas como a agem, ou melhor, princpio da vida eterna, o maior bem a ser conquistado pelo cristo peregrino da Terra. Para tanto, os impressos so fontes privilegiadas, em especial os jornais protestantes, que traziam desde suas primeiras edies a seo necrolgio, na qual foram preservados esses conjuntos de vises/prticas, maneiras de entender e lidar com a morte e o morrer.
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Daniel Carvalho Pereira (Prefeitura Municipal de Maca)
O que a morte ensina ao homem?
Resumo:A morte se coloca, talvez, como um dos maiores pro...
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Resumo:A morte se coloca, talvez, como um dos maiores problemas sociais de nosso tempo. Compreender e aceitar o fim se torna um desafio na medida em que a prpria finitude ameaa a prpria existncia, a aniquilao do eu. A morte do outro, assim, um meio pelo qual nos refazemos e nos repensamos, uma oportunidade de transformao no enfrentamento da prpria finitude.
O luto, entendido como este processo de transformao perante a morte, , segundo Elisabeth Kbler-Ross, uma estratgia de enfrentamento intensamente singular do indivduo, influenciado por recortes sociais contextualizados ao presente em que se vive. Questes e vieses de classe, raa, identidade de gnero, orientao sexual e tantos outros recortes influenciam diretamente a nossa maneira de ser no mundo. Portanto, possvel afirmar que, sendo o luto um processo transformador deste ser-no-mundo, esta transformao tambm direta e intensivamente influenciada por questes identitrias efervescentes no presente social em que se vive (e morre).
Este trabalho, propondo-se como o primeiro momento de uma pesquisa bem mais ampla, busca compreender as relaes possveis entre o luto, a morte e o morrer e as questes de gnero. A questo principal sobre a qual nos debruamos, em uma perspectiva de gnero como uma categoria de anlise, questionar o impacto e as transformaes que ocorrem em um homem quando este enfrenta um processo de luto. Assim, queremos investigar e discutir quais as consequncias sociais, histricas e psicolgicas que as masculinidades enfrentam quando se deparam com a morte e o morrer a sua frente. O luto, como um processo transformador do ser-no-mundo, potencialmente ressignifica tambm a maneira de ser-homem-no-mundo. Entretanto, entendemos que, pela escassez de trabalhos neste sentido, que se voltem para as questes das masculinidades, ainda mais voltando-se para o entrecruzamento com os estudos sobre a morte e o morrer, desenvolver o olhar multi-interdisciplinar sobre a questo pode contribuir para uma melhor compreenso sobre o tema. Destacam-se, para esta pesquisa, os trabalhos no campo da Psicologia de Kbler-Ross, Parkes e Doka; na Sociologia, de Scott e Elias; na Histria, Kellenhear e Aris.
Construmos nossa hiptese atravs de um trabalho que vem sendo atualmente desenvolvido na Elisabeth Kbler-Ross Foundation Brasil, localizada na cidade do Rio de Janeiro, atravs da criao e coordenao de um grupo teraputico de aconselhamento de homens enlutados, onde buscamos compreender e intervir nas interseces possveis entre estes dois campos conceituais aparentemente distintos, mas que acreditamos, atravs do olhar da Histria, da Sociologia e da Psicologia, serem potencialmente congruentes e transformadores da realidade social em que vivemos.
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Jefferson William Gohl (UNESPAR)
Rita Lee diante do espelho: e a bem humorada morte contempornea
Resumo:A trajetria da artista Rita Lee Jones nos permite...
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Resumo:A trajetria da artista Rita Lee Jones nos permite compreender como tanto o rock efetuado pelas primeiras bandas, quanto o que se disse sobre o gnero no Brasil contribuiu para a interpretao de sua reelaborao em termos de choque e assimilao. Em seu incio de carreira temas inusitados como o suicdio se ligam a vrios aspectos musicais e extramusicais como; incorporao de elementos do humor no contedo semntico e sonoro das canes. H ao longo desta carreira questionamentos dos padres de comportamento vigentes, assuntos tabu so abordados, bem como sua pertena de gnero entram em questo no caminho das primeiras experincias com o rock na juventude da artista, at a conquista do Mainstream fonogrfico em meados dos anos 80 quando a cano pop ganha espao, e uma alargada audincia para seus escritos cancionais. Graas a estes elementos a sua alavancagem no boom fonogrfico entre as dcadas de 1960 e 1980 a artista Rita Lee via-de-regra sempre foi identificada com a imagem da alegria e da juventude. Essencialmente da poca do Regime Militar em diante foi assimilada pela cultura de massa do Brasil como intrprete de rock and roll e cancionista. No entanto no seu exerccio criativo como escritora Rita Lee Jones, tem em vrios es diferentes eventualmente se experimentado para alm do espao de letrista de canes. A exemplo a plataforma twiter, na qual postou recorrentemente textos curtos durante o ano de 2013, posteriormente os livros publicados e lanados pela editora Globo revelando outros aspectos de seu trabalho. Um dos temas que comeam a se delinear nesta fase de sua carreira dizem respeito a mortalidade e muitas vezes uma reflexo sobre a prpria autoimagem. Assim os trabalhos adquirem tons diferentes explorando o mote da morte e ao mesmo tempo, procuram vnculos com o restante de sua trajetria. Tais abordagens ocorrem j em um de seus ltimos discos antes da aposentadoria dos palcos, o lbum Reza. Tambm em sua autobiografia em que elabora reflexes sobre seu tempo de vida. Ainda no livro Dropz em que seus contos apontam para imagens irnicas e controversas da mortalidade. EIS-ME AQUI VIVA, MERA MORTAL, FILOSOFANDO sobre a vida, sobre Deus, sobre a crise mundial. [...] S no posso viver com quem no consegue conviver comigo, nessas eu tive foi sorte. E se voc no salvou a minha vida pelo menos no arrune a minha morte. E por fim em seu recente lanamento no livro FavoRita, em que explora lugares pouco convencionais de temas como Deus, envelhecimento, imortalidade que no tiveram espao no meio cancional. O intuito desse trabalho, portanto , apresentar como a percepo criativa da artista Rita Lee deixou registrada em seus vrios trabalhos escritos uma determinada autoimagem e reflexes sobre a morte na contemporaneidade.
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Luiz Antonio Pinto Cruz (Universidade Federal da Bahia)
Identidade feminina e guerra. O esforo das sergipanas no tempo da Batalha do Atlntico na Costa do Brasil (1942-1945)
Resumo:Pensar o esforo de guerra sob a perspectiva das s...
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Resumo:Pensar o esforo de guerra sob a perspectiva das sergipanas significou descortinar um universo temtico ainda desconhecido na historiografia brasileira que se debrua a compreender a realidade da Segunda Guerra Mundial nas guas do Atlntico Sul. Conceder uma centralidade brasileira significou, ento, desbravar as experincias femininas ignoradas: Enilde Coelho, primeira aviadora do Aeroclube de Sergipe, que pilotou seu teco-teco pelos ares litorneos da sua regio nordestina; Salvelina Santos de Moraes, que acendeu o farol de Aracaju inmeras vezes, assumindo o papel de faroleira, algo rarssimo na histria da Marinha de Guerra do Brasil; Maria Joana da Conceio, que afirmou ter visto o submarino alemo adentrar imponente o esturio do Rio Vaza-Barris e dialogar com os ribeirinhos no municpio de So Cristvo; as mulheres nufragas que sobreviveram s rpidas investidas do U-507; as annimas do litoral que, por sua vez, recolheram os salvados de guerra, os cadveres e convocaram a presena da chefatura policia nas praias locais; as enfermeiras da FEB: Lenalda Alves Campos, Isabel Novais Feitosa e Jane Simes Arajo, sendo esta a mais radical em seu discurso imprensa escrita e radiofnica, quando retornou do front do Mediterrneo, ao fascismo s a bala, e isto ns fizemos na Itlia (Correio de Aracaju. Aracaju-SE, 27 de agosto de 1945). luz da acepo terica do historiador francs Luc Capdevila, a guerra um dos espaos da transformao da identidade de gnero e suas fronteiras so flexibilizadas. Das entrevistas arroladas na cidade de Aracaju, a memria das sergipanas apontou para as intensas mudanas impostas pelo Sistema de Defesa ivo logo aps os torpedeamentos dos navios mercantes, tambm pelo racionamento de alimentos e carestia. As mulheres atuaram em terra, cu e mar na costa de Sergipe. Contudo, as suas atuaes e memrias foram esquecidas, marginalizadas, silenciadas ou ignoradas. As sergipanas foram protagonistas em suas histrias mais dramticas e contriburam para o esforo de guerra do pas. Em outras palavras, a Batalha do Atlntico tem sim, o rosto das mulheres brasileiras. Ainda h muitos embates sem histria e vtimas sem nome. Enfim, ainda se tem muito a fazer para se compreender o abrasileiramento da Segunda Guerra Mundial.
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Michelle Ferreira Maia (UNINTA - Centro Universitrio Inta)
Memrias de um Crime: assassinato e devoo ao Dr. Olavo Cavalcante Cardoso em Crates, Ce.
Resumo:Esta pesquisa analisa as memrias sobre o crime e ...
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Resumo:Esta pesquisa analisa as memrias sobre o crime e devoo ao Dr. Olavo Cavalcante Cardoso em Crates, Cear. Estudamos os bastidores da construo da sua imagem de milagreiro. Pesquisa realizada atravs de jornais (digitalizados na Biblioteca Menezes Pimentel em Fortaleza), entrevistas (realizadas em Crates), fotografias que apresentam os elementos da devoo, a exemplo os ex-votos. Dr. Olavo Cavalcante Cardoso foi mdico e prefeito em Crates. Foi assassinado na sua Fazenda Xavier em 1969, a morte era resultado de uma luta corporal entre o mdico e os agricultores, devido a uma discusso por limites de terras. Segundo depoimentos, a morte teria sido premeditada pelos agricultores, que o aguardaram para consumar com machados, facas e ps o assassinato, como testemunha ocular do fato, apenas o caseiro da fazenda Xavier, que mesmo diante do ocorrido nada pode fazer para defender o seu compadre e patro. Dr. Olavo Cavalcante Cardoso, que veio a bito na carroceria de um carro a caminho do hospital, antes de perecer, teria dito as suas ltimas palavras: "salvei tantas vidas e ningum vai salvar a minha". A morte interpretada como trgica e atrelada as memrias da histria de vida do mdico que relatam que ele era humanitrio, denominao advinda porque realizada atendimentos aos mais pobres. Em Fortaleza, os jornais noticiaram a consternao da cidade de Crates: o sepultamento do morto, a priso dos acusados. Todos so fragmentos do processo de construo do milagreiro. necessrio afirmar que em toda a pesquisa de campo foi possvel observar atravs da anlise das fontes que houve um incansvel trabalho da famlia do mdico em alimentar a sua memria, tanto a de prefeito, de mdico caridoso, quanto de morto concessor de graas, o que consideramos como os incios da devoo e a propagao da sua imagem de milagreiro no Cemitrio So Miguel em Crates. Houve distribuio de retratos para a populao, segundo fontes orais, os retratos teriam sido distribudos pelos familiares e que teria sido um pedido do prprio moribundo, que em sonho solicitou que fosse realizada a cpia de sua fotografia e distribuda principalmente para as mulheres, mes, gestantes, idosas. Situao, que , lembrada pela memria daqueles que veem no ato do alm uma preocupao para com os necessitados. Outra forma de perceber a participao da famlia na formao da devoo, acompanhar que desde a sua morte nos jornais locais, rdios so recorrentes a propagao do seu assassinato a cada ano da data. O Seu tmulo o que mais recebe visitaes, e no apenas isso, toda a estrutura tumular apresenta os elementos de que o mdico concessor de milagres.
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Raylinn Barros da Silva (Seduc - Secretaria da Educao do Estado do Tocantins)
Mortes e traumas no interior da misso catlica orionita no antigo extremo norte goiano na dcada de 1950.
Resumo:O objetivo deste estudo refletir sobre as mortes...
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Resumo:O objetivo deste estudo refletir sobre as mortes e traumas ocorridos no interior da misso catlica orionita no antigo extremo norte goiano, atual norte tocantinense, na dcada de 1950. Cinco missionrios morreram em plena misso. Este estudo resultado de uma pesquisa bibliogrfica e a fonte utilizada foi o relato de memria de um dos principais missionrios orionitas: Quinto Tonini. A hiptese que as mortes provocaram traumas entre os missionrios, impactando o desenrolar da misso. A metodologia consistiu na historicizao dos acontecimentos luz de reflexes como trauma e representaes.
Como ser possvel perceber neste estudo, dentre os primeiros missionrios orionitas que foram destacados para a regio do antigo extremo norte goiano, na dcada de 1950, cinco morreram em plena misso. O missionrio Tonini representou as mortes em seus registros de memria como eventos que marcaram profundamente o cotidiano da misso. Todas as cinco mortes, segundo Tonini, provocaram consternao entre os missionrios.
Mas interessante observar, ao que parece, que mesmo com o desenrolar das mortes, a misso continuou. Para os missionrios, a morte valeu a vida, pois na crena catlica, os cinco foram agraciados com a vida eterna. Considera-se, portanto, que as mortes ocorridas com os missionrios se constituram em elemento de conforto espiritual e incentivo continuao do projeto que foi catolicizar o extremo norte de Gois. Mais do que uma estratgia retrica, o sentimento de consternao pareceu presente, consolando os missionrios que ficaram a continuar seus projetos catlicos para a regio.
Tonini registrou em suas memrias que a cada perda de um confrade, a consternao tomou conta dos que ficaram. As duas primeiras mortes, quando do naufrgio, teve dois impactos imediatos: provocou profunda incerteza entre os missionrios e a prpria congregao, pelo fato de que as mortes ocorreram com quem acabava de chegar regio, segundo, essas duas primeiras mortes terminaram por antecipar o envio de Tonini, padre e enfermeiro orionita, considerado o principal missionrio na primeira dcada dos orionitas em Gois, a dcada de 1950.
Enfim, como ser possvel perceber, os missionrios orionitas conviveram, sofreram e tiveram que enfrentar o que pode ser considerado como o maior de seus traumas: perderam cinco missionrios entre eles, trs sacerdotes e dois religiosos consagrados. Ao que parece, o custo da implantao do catolicismo na regio e contexto histrico, as mortes entre os missionrios orionitas foi, ento, parte do processo de institucionalizao do catolicismo que estava em curso na regio e contexto histrico.
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ST - Sesso 2 - 17/07/2019 das 14:00 s 18:00 1e5t6h
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Adriane Piovezan (FIES Faculdades Esprita)
Engajados at na morte: a comisso de repatriamento dos mortos brasileiros na Segunda Guerra Mundial (1952-1960)
Resumo:Nas guerras do ado a grande maioria dos mortos...
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Resumo:Nas guerras do ado a grande maioria dos mortos eram enterrados nos campos de batalha em valas coletivas. No final do sculo XIX e com maior predominncia aps a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) diversos cemitrios militares procuraram identificar e sepultar individualmente os corpos dos cados em combate. No final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o destino dos cadveres e a capacidade de identificao dos mesmos tiveram maior sucesso. Entretanto, com o nmero alto de perdas os repatriamentos foram raros. No caso brasileiro, a existncia de um cemitrio Militar brasileiro em Pistia garantiu a esses mortos um local de homenagens at 1960. A comisso para repatriamento dos restos mortais dos combatentes teve incio em 1952, no entanto, o translado realizado apenas em 1960. Nesse perodo, as tentativas de localizar os familiares e questionar os mesmos sobre o destino dos restos mortais dos ex-combatentes mortos geraram uma significativa documentao relativa Comisso de Repatriamento. Encontra-se nesses documentos telegramas que solicitavam s autoridades locais informaes sobre familiares, questionrios sobre o destino dos restos mortais, discusses sobre monumentos diversos e correspondncias das famlias com variadas demandas ao governo que estava empenhado no translado e homenagens dos soldados cados na Itlia. Nesses documentos possvel identificar as tenses e disputas pela posse do cadver. A famlia e a comunidade local, em muitos casos, reivindicavam os restos mortais por temerem que a memria do soldado fosse ignorada na capital, enquanto na sua terra natal a sua presena fsica enfatizaria a importncia de sua participao na guerra. Em outros casos, a perda de contato com os familiares foi total, e prefeituras e instituies militares regionais foram buscadas pela comisso de repatriamento para a localizao desses parentes. A consulta realizada entre os parentes dos soldados mortos acabou no sendo de fato utilizada pela Comisso de Repatriamento. O sepultamento compulsrio no Monumento aos Mortos do Brasil na Segunda Guerra Mundial reafirmou que o engajamento daqueles soldados no acabou nem com a morte. As disputas e conflitos aparecem nessas fontes e permitem entender alguns aspectos das atitudes diante da morte em guerra no perodo.
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Anne Elise Reis da Paixo (Centro Educacional Marilande)
S a lembrana nos faz ainda tremer: o terremoto de 1755 e as manifestaes devocionais no Rio de Janeiro
Resumo:Em 1 de novembro de 1755, Portugal foi acometido ...
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Resumo:Em 1 de novembro de 1755, Portugal foi acometido por um grande terremoto que arruinou a cidade de Lisboa. Segundo fontes coetneas, conta-se que, junto aos tremores de terra, ocorreram fortes ondas e incndios. O sismo ocasionou milhares de mortes, ficando os corpos expostos pelas ruas da cidade, cujo apodrecimento ameaava a sade dos sobreviventes. Nos dias que aram os cadveres foram sepultados, porm outros foram lanados ao mar.
As mortes decorrentes da tragdia se contrapunham ao ideal de bem morrer ditado pela Igreja Catlica. Para obter essa boa morte, era necessrio que, nos momentos derradeiros, o jacente j tivesse redigido seu testamento, estando diante de um padre para lhe ministrar os ltimos sacramentos (penitncia, eucaristia e extrema-uno). Depois de falecido, o funeral seguia com uma srie de prticas religiosas que visavam salvao da alma. Assim, o falecimento repentino, surpreendente a todos e sem os devidos rituais catlicos no era tido como uma boa morte. Em outras palavras, aqueles que pereceram devido catstrofe no tinham cumprido corretamente a agem conforme preconizava a f catlica.
O discurso eclesistico da poca entendeu o sismo como um castigo divino contra os pecados humanos. Por esse motivo, o clero portugus no tardou em convocar procisses e rezas para aplacar a justia divina. Nos dias que seguiram, foram realizadas, tanto em Lisboa como em outras partes do reino, vrias manifestaes e atividades devocionais em busca de penitncia e reparao dos pecados. Seguindo o comportamento reinol, tambm se realizou no Rio de Janeiro uma srie de rituais objetivando abrandar a ira divina, rogando por clemncia e por perdo das faltas humanas. Embora no seja possvel precisar a data em que a notcia sobre o sismo chegou at essa cidade, sabemos que no incio do ano de 1756 j ocorreram cerimnias relativas tragdia lisboeta.
Deste modo, a presente comunicao tem como objetivo analisar as manifestaes devocionais ocorridas no Rio de Janeiro em funo do terremoto. Para tal, sero analisados alguns editais ados por Dom Frei Antonio do Desterro, nas dcadas de 1750 e 1760, em que o bispo fluminense convocou a populao para a realizao de exerccios devocionais em solidariedade aos acontecimentos em Lisboa. Ser observado como tais aes tambm se configuraram em uma prtica preventiva aos possveis castigos que Deus poderia lanar aos sditos do Rio de Janeiro. Para atrair a presena dos fiis, grande parte dessas atividades concedia indulgncias aos participantes, o que seria de grande utilidade a eles no post mortem. Assim, buscar-se- mostrar como essas manifestaes devocionais atualizavam a crena na boa morte e na penitncia, fortalecendo tambm a prtica das indulgncias na cidade.
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Bruna Morrana dos Santos (Secretaria de Estado da Educao de Sergipe)
Os ritos fnebres da nova elite aracajuana na segunda metade do sculo XIX (1864-1876)
Resumo:A relao da humanidade com os mortos e o morrer f...
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Resumo:A relao da humanidade com os mortos e o morrer foi amplamente modificada a partir do surgimento das primeiras cidades. Com o ar do tempo, a vida urbana ressignificou valores, comportamentos e atitudes, tornando essa experincia prolongada, individualista e especializada, por causa da diversificao das profisses envolvidas diretamente com a morte. Sob a gide do discurso da modernidade e do progresso, aps o ato istrativo de 17 de maro de 1855, um pequeno reduto de pescadores tornou-se o novo centro istrativo da provncia de Sergipe. A recm-criada cidade de Aracaju deveria tornar-se, ao mesmo tempo, o eixo poltico e econmico que a provncia precisava. Dessa maneira, ao longo da segunda metade do sculo XIX, os presidentes de provncia que governaram depois de Incio Joaquim Barbosa, empreenderam vrias melhorias na infraestrutura do espao urbano de Aracaju, apesar das frequentes epidemias que grassavam a cidade. O prprio presidente da provncia, Incio Joaquim Barbosa, foi mais uma vtima das doenas que atacavam impiedosamente os habitantes da nova capital. Alteraes na relao entre vivos e mortos esto ligadas disseminao do Higienismo como ideologia, pois os enterros dentro das Igrejas, por exemplo, tornaram-se um problema de salubridade. De acordo com este pensamento da sade pblica da poca, uma das medidas oficiais tomadas pelo governo provincial foi a inaugurao, em 1862 nos arredores da cidade, do Cemitrio de Nossa Senhora da Conceio. Alm das transformaes urbanas vivenciadas pela nova capital durante os seus primeiros anos de existncia, da tessitura de estratgias sociais, econmicas e polticas, importante desvendar tambm, como naquele momento os agentes histricos que aram a viver em Aracaju, relacionavam-se com a morte neste mundo e com as vises a respeito do alm-tmulo. Portanto, o objetivo deste trabalho mostrar as atitudes dos membros da nova elite em relao ao seus mortos, atravs de prticas como sepultamentos, cortejos fnebres e principalmente, a preocupao com a boa morte. Utilizamos como fontes os inventrios e testamentos da Comarca de Aracaju, jornais que circularam na capital e os registros de bito da Freguesia de Nossa Senhora da Conceio do Aracaju referentes ao perodo que vai de 1864 a 1876.
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Ccero Joaquim dos Santos (Universidade Regional do Cariri (URCA))
Cemitrios de Anjinhos: Gnero, Religiosidade e Tradio Oral
Resumo:Este estudo objetiva compreender o cenrio contemp...
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Resumo:Este estudo objetiva compreender o cenrio contemporneo tocante os cemitrios de anjinhos a partir da interseccionalidade entre relaes de gnero, religiosidades e tradies orais. Problematizando os significados dos cemitrios de anjinhos nas representaes e prticas culturais do Cariri cearense, no Nordeste brasileiro do sculo XXI, o estudo vem sendo desenvolvido a partir da Histria Cultural, dialogando com as relaes entre memria oral e gnero. Fazendo uso da histria oral como metodologia de pesquisa, o estudo utiliza fontes orais e escritas sobre as crenas e prticas religiosas relacionadas aos enterramentos de crianas mortas em cemitrios no oficiais, especialmente natimortas. Conhecidos como cemitrios de anjinhos e/ou de pagos, tais espaos so resultantes de antigas tradies fnebres atreladas ao desejo de sepultamento do corpo morto nos tmulos dos mrtires, nas igrejas, nas capelas e nos cemitrios, enfim, nos espaos sagrados. As narrativas sobre tais lugares tambm desnudam interdies destinadas aos mortos no batizados na f crist. Outrossim, elas apontam para sensibilidades de gnero, demonstrando modos de ser e estar relacionados s masculinidades e, principalmente, feminilidades. Alm disso, as narrativas apontam para o amor materno e seus entrelaamentos com o universo fnebre e devocional. As crenas religiosas concernentes as invenes dos anjos e dos pagos tambm so postas em xeque na contemporaneidade. mister lembrar que, na atualidade, esses cemitrios esto situados nas periferias urbanas e, sobremaneiramente, nos espaos rurais mais distantes dos centros urbanos. Isso um indcio do cenrio tenso no qual esto imersos. H registros que, a partir dos anos 1970/80, esses lugares foram apontados como redutos de enterramentos de filhos de prostitutas e/ou resultantes de gravidez indesejada, portanto, de abortos intencionais. Nos ltimos anos, os discursos de higienizao tem somado foras, de forma quase silenciosa, na destruio deste espaos. De igual modo, a atuao de padres e outros lderes religiosos vem contribuindo para isso, bem como o crescimento das cidades e as novas construes urbanas. Tudo isso coloca em cena tenses que recobrem a continuidade do culto aos cemitrios de anjinhos na contemporaneidade.
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Francislei Lima da Silva (IFCH UNICAMP)
Os cabelos de Candoca: o cortejo fnebre de uma virgem e sua relquia em Campanha, Minas Gerais
Resumo:Um cortejo fnebre segue seu itinerrio rumo Mat...
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Resumo:Um cortejo fnebre segue seu itinerrio rumo Matriz de Santo Antnio de Pdua quando interrompido, sob sol a pino, a fim de que um fotgrafo volante possa registrar esse acontecimento em uma pequena cidade no interior do Estado de Minas Gerais. Na imagem registrada nos primeiros anos do sculo XX, chama-nos ateno o zelo nos signos da procisso, a sensibilidade em relao quela pessoa levada para as suas exquias, bem como os lugares e ao das pessoas enquadradas. Todas posadas deliberadamente para as lentes do fotgrafo, aguardando paradas a tentativa deste em enquadrar uma panormica daquele grupo to grande, vista do alto da igreja. Ao centro, um grupo de crianas enfileiradas conduzem a Cruz processional. Vestidas com roupas brancas apresentam o cortejo de moas que conduzem um caixo branco. Trata-se do enterro de uma jovem chamada Cndida, carinhosamente apresentada como Candoca em sua relquia morturia. Cndida o seu nome, alvas so suas vestes e igualmente as das virgens que a conduzem para o seu encontro amoroso com o cordeiro, conforme se cantava na liturgia do comum das virgens. Esse acontecimento nos diz muito mais do que sobre um enterro, colocando-nos em contato com uma outra temporalidade, ainda fortemente marcada pelas relaes simblicas do perodo colonial luso-brasileiro e pelo seu misticismo em vigor em plena repblica.
Nossa ateno na presente comunicao se voltar para a relquia em questo por evidenciar uma manifestao de resistncia ao efmero, um esforo da permanncia, ainda que intil, atravs da reteno do momento enquanto memento mori. Trata-se de um pequeno quadro em que o artfice bordou anjos entorno da fotografia da jovem deitada em seu leito de morte, que a conduzem at a presena do sagrado, com finos fios de cabelo colhidos de suas madeixas. Esse relicrio que abriga a imagem e pedaos do corpo de Candoca reforam a crescente valorizao dos sentimentos familiares. Mostra-se, ainda, como e para tal manifestao, e que a morte participa do mbito privado e particular das famlias da elite local, bem como devia ser mostrada aos olhos de todas/todos que com ela conviviam, deflagrando a agem dos viventes pelo tempo e sua relao com as novas formas de encenao da vida e morte.
Num esforo por entender o exerccio potico relacionado produo desse objeto memorvel, proporemos um dilogo com a produo artstica contempornea conectada por fios de cabelo no trabalho de Rosana Palazyan (1963) e Tunga (1952-2016). Dessa forma, esperamos discutir acerca da sobrevivncia de prticas de uma religiosidade relacionada ao imaginrio da boa morte em objetos artsticos feitos para serem venerados em uma espcie de culto domstico, partindo de um olhar especfico da histria da arte.
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Jlia Freire Perini (Universidade Federal do Esprito Santo)
Cuidar mais na sade dos vivos do que no descanso dos mortos: o apelo dos mdicos pela higienizao do morrer durante os anos 1880 na cidade de Vitria-ES
Resumo:O objetivo desta pesquisa demonstrar as dificuld...
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Resumo:O objetivo desta pesquisa demonstrar as dificuldades e as resistncias enfrentadas pelos mdicos para tentar atualizar os rituais funerrios segundo os ditames modernos dos saberes cientficos durante as dcadas finais do Oitocentos na cidade de Vitria (ES). Os debates a respeito do tema se desenrolaram ao longo de toda segunda metade do sculo XIX, entretanto, nos focaremos na dcada de 1880, quando surgiu a Inspetoria de Higiene Pblica, rgo que tinha entre suas atribuies a responsabilidade de zelar pela salubridade das urbes brasileiras. Para isso, apresentaremos os argumentos expostos pelos mdicos que estiveram frente do referido rgo e dos demais profissionais da sade que participavam da istrao pblica da capital em favor da defesa do deslocamento do cemitrio pblico para uma rea mais afastada em relao regio central da urbe. Ao longo de todo o debate, percebemos que os mdicos tentavam convencer a populao e, at mesmo, alguns membros das camadas dirigentes locais de que as necrpoles no deveriam mais permanecer no permetro urbano. Para isso, esses profissionais recorriam aos modernos saberes cientficos que no eram to caros populao quanto os tradicionais parmetros religiosos do bem-morrer. Na tentativa de delinear essa querela, pretendemos esmiuar nessa comunicao algumas estratgias apresentadas pelos profissionais da sade para implementar aquilo que eles acreditavam ser a modernizao dos ritos fnebres em Vitria. A fim de compreendermos tal situao, nos baseamos em relatrios produzidos pelos inspetores de higiene, nas publicaes feitas em jornais da poca, assim como nos relatrios dos presidentes da provncia do Esprito Santo. Acreditamos que, ao examinarmos as representaes sobre a morte veis de serem apreendidas nesse corpus documental, possvel perceber a manifestao de mltiplas temporalidades - seja o tempo dos cientistas e dos mdicos, seja as formas de viver do povo em geral - que coexistiram na realidade capixaba do final do sculo XIX. A resistncia mudana dos costumes funerrios apresentada por alguns setores da sociedade nos leva a sustentar que tanto as irmandades quanto alguns setores mais elitizados da igreja catlica se posicionaram, em diversos momentos, como elementos dissonantes em relao s representaes modernas do morrer sustentados pela classe mdica local naquele perodo. Dito isto, buscamos, por fim, compreender quais argumentos e representaes os agentes da modernidade lanaram a fim de cooptar esses agrupamentos dissonantes, buscando um melhor entendimento a respeito dos horizontes de expectativa definidos por esses representantes dos modelos modernos e civilizados de entendimento dos ritos funerrios durante os decnios finais do Oitocentos capixaba.
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Kelly Cristina Benjamim Viana (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARAN - CAMPUS FAFIUV)
Mo de defunto, ossos humanos e caveiras: os usos de restos mortais na feitiaria e na medicina Luso Brasileira
Resumo:O presente trabalho pretende analisar a utilizao...
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Resumo:O presente trabalho pretende analisar a utilizao de restos mortais, ou mesmo elementos ligados ao corpo morto, tanto em rituais de magia quanto em algumas prticas mdicas realizadas na Amrica Portuguesa durante o perodo colonial. Para tanto sero analisados documentos referentes a atuao do Santo Ofcio no Brasil. Nesta documentao possvel encontrar um grande nmero de denncias contra feiticeiros(as) que utilizariam em seus patus ou malefcios diferentes tipos de restos mortais e objetos funerrios subtrados de sepulturas ou cemitrios. Exemplar nesse sentido foi a denncia feita em 1775 contra a parda, Feliciana de Oliveira, moradora na cidade de Mariana, Feliciana foi acusada realizar feitios amorosos e em todas as sextas-feiras ter o costume de atar sua escrava crioula Maria com uma fita verde, desenhando uma cruz no cho da varanda, introduzindo dois ossos de defunto na boca da escrava, mandando-a pr o p por sobre a cruz enquanto recitava as seguintes palavras para atrair o amado: Joaquim, Joaquim, largue sua mulher e filhos por mim(...). Algumas feiticeiras utilizavam-se de cadveres de crianas recm-nascidas para fabricao de feitios, em Minas Gerais, Florncia do Bonsucesso tratava desonestamente com alguns homens e para atra-los usava ps de uma criana mirrada que tinha em casa, da qual tirava a carne e faz dela p para usar em seus feitios de cunho sexual. Alm da documentao inquisitorial, sero tambm sero analisados tratados mdicos e receitas de mdicos e cirurgies que percorreram a colnia, visando identificar nestes documentos a utilizao de restos mortais para compor remdios e unguentos. As receitas indicadas pelo cirurgio portugus Lus Gomes Ferreira, em seu tratado mdico Errio Mineral, so esclarecedoras desses usos, Ferreira era um conhecedor de remdios que utilizavam defuntos ou parte deles, por exemplo, para curar quaisquer marcas na pele o cirurgio indicava colocar sobre o local afetado a mo de um defunto e deixa-la no local at que estivesse fria, ando um curto intervalo a pessoa ficaria s. Ainda outra receita para tirar cicatrizes de bexiga era usar, leo feito de unto de homem, se for do rim ser melhor e h de morrer esquartejado(...), tambm o para este fim, o jesuta Affonso da Costa recomendava usar uma caveira de gente das que estiverem enterradas, se ainda tiver alguns cabelos melhor (...) e se far ps sutis, que se daro de uma vez a beber ao enfermo(...). A anlise de tais evidncias documentais nos esclarecem sobre a utilizao de restos mortais em diferentes sortes de feitiarias ou mesmo em usos cientficos, nos possibilitando problematizar e compreender outros papis atribudos ao corpo morto e a morte no Brasil colonial.
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Mrcia Oliveira Gama (Universidade Federal de Sergipe)
A MORTE E O POVO SANCRISTOVENSE: Uma breve anlise dos rituais fnebres realizados na cidade de So Cristvo/SE na segunda metade do sculo XIX.
Resumo:O presente trabalho tem como finalidade abordar os...
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Resumo:O presente trabalho tem como finalidade abordar os resultados alcanados durante a pesquisa de mestrado intitulada Em nome da Santssima Trindade encomendo a minha alma: a morte na cidade de So Cristvo na segunda metade do sculo XIX (ttulo provisrio) realizada no mestrado do Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade Federal de Sergipe. A Cidade de So Cristvo localiza-se no estado de Sergipe, o qual foi capital at 17 de maro de 1855, quando o presidente da provncia de Sergipe, Incio Barbosa elevou o povoado Santo Antnio do Aracaju a posio de cidade de Aracaju e realizou a mudana da capital da provncia, a quarta cidade mais antiga do Brasil , fundada por Cristvo de Barros no ano de 1590. Os sancristovenses tinham uma relao de familiaridade com os seus mortos, comeavam a comemorar o dia de finados exatamente 00:00, quando as pessoas se acordavam para rezar pelas almas dos que j se foram; as ruas que a procisso do vitico ava (para ministrar os ltimos sacramentos ao moribundo) eram enfeitadas com folhas e flores, toalhas e colchas eram colocadas nas janelas para enfeitar a agem da irmandade; as pessoas mais abastadas participavam de diversas irmandades para garantir um bom funeral; a procisso que levava o defunto a sua ltima morada parava em algumas esquinas, colocando o caixo em cima de caladas para que o sacerdote e os msicos entoassem lamentaes. Logo, podemos perceber que os rituais fnebres eram bastante presentes na vida do povo de So Cristvo, durante a pesquisa foram analisados os rituais fnebres realizados em vida como a elaborao do testamento, os sacramentos; os rituais fnebres realizados em morte como a encomendao da alma, o uso das mortalhas, a procisso fnebre os lugares de sepultamento, como igrejas e cemitrios, enfatizando o primeiro cemitrio pblico de So Cristvo, o Cemitrio da Misericrdia, considerado pelos presidentes da provncia um cemitrio que deveria servir de modelo para os outros cemitrios da Provncia de Segipe Del Rey. Para a realizao deste trabalho foram utilizados testamentos, inventrios, o livro de assentamos de bito nmero 1 (1864-1886) da Parquia Nossa Senhora da Vitria (Igreja Matriz), os Relatrios dos Presidentes da Provncia de Sergipe Del Rey sobre Cemitrios, Hospitais e Sade Pblica.
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Thase Colletti Pavani
A morte em tratados de confisso: caminhos para atitudes no sculo XV
Resumo:Vemos florescer, durante o sculo XV, a valoriza...
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Resumo:Vemos florescer, durante o sculo XV, a valorizao da conscincia crist e dos sacramentos religiosos - ser um bom fiel significava, em grande medida, contribuir para a manuteno da ordem em um mundo pautado pela religio. nesse contexto que os chamados tratados de confisso se inserem no conjunto da literatura devocional, direcionando a f crist e assumindo um papel na forma como mulheres e homens vivenciavam atitudes e expresses cotidianas.
Para a Igreja, questes relacionadas famlia, casamento e morte demandavam cuidados sagrados j exemplificados pela doutrina catlica. Os tratados eram, por assim dizer, uma compilao desses preceitos relacionados aos sacramentos e a f crist e tambm um norte para clrigos e leigos que desejassem se libertar dos pecados em busca da salvao. A documentao selecionada segue uma estrutura textual especfica, salvo aqueles de autoria annima, como o caso de um dos tratados aqui estudados, fortalecendo seu propsito moralizante. Nossa reflexo geral parte, principalmente, da nfase dada salvao da alma fundamentada na prtica da penitncia e confisso. O que enxergamos, na realidade, uma Primeira Modernidade marcada pela preocupao com a morte e o bem morrer, seja no aspecto ritual ou na prpria reflexo sobre a finitude humana.
Sacramental (1423) e Tratado de Confisso (1489) so exemplos dessa dinmica e nos possibilitam uma aproximao s construes religiosas da sociedade ibrica. Nesse sentido, nos interessa compreender como tais escritos se articulam em uma retrica da morte sinalizada pelo ideal de cura das almas e pela presena do Purgatrio. Refletir o espao que a morte ocupa nessa documentao, para alm daquele destinado cura dos enfermos, sinaliza uma ateno aos aspectos simblicos do imaginrio sobre a morte na Modernidade e a mobilizao cultural desse discurso. Longe de nos distanciarmos dos aspectos polticos dessas questes, compreendemos a cultura da morte e do morrer como constituinte da dimenso social, o que possibilita, inclusive, a manuteno das relaes sociais existentes entre a instituio Igreja, seus sacerdotes e fiis.
A seguinte comunicao procura, ento, delinear quais a relaes que o texto, seus autores e leitores estabelecem com a morte e, acima de tudo, como pensar o morrer no sculo XV pera questes culturais mais complexas. Por fim, esperamos contribuir para uma histria da morte sensvel s problemticas cotidianas e que colabore para a divulgao de uma nova forma de enxergar a crena no alm-tmulo.
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ST - Sesso 3 - 19/07/2019 das 08:00 s 12:00 4c3kw
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Ana Cludia Vasconcellos Magalhes (IPHAN)
DESENHANDO OS ESPAOS DA MORTE: leituras arquitetnicas e iconogrficas dos conventos franciscanos do nordeste do Brasil
Resumo:Desde os seus primrdios a Ordem Franciscana inovo...
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Resumo:Desde os seus primrdios a Ordem Franciscana inovou no campo religioso. Alm da completa recusa dos bens materiais, adotou como irmos no apenas os que compunham a sua fraternidade, mas, tambm, partcipes da natureza como o sol, a terra o fogo e at a morte. Sculos depois, junto com os portugueses que vieram ao Brasil, frades logo iniciaram sua misso de evangelizar os nativos e em breve estariam construindo casas que se destacariam no contexto urbano de vilas e cidades que timidamente comeavam a ser fundadas, se sobressaindo at hoje nos centros histricos das cidades que os acolheram no ado.
No mbito do cenrio acadmico brasileiro, a arquitetura conventual franciscana tem sido investigada sob diversos aspectos, notadamente no que se refere s questes estticas e histricas e, mais recentemente, sua influncia na construo do territrio urbano. Entretanto, pouco enfatizada a sua funo como espao de sepultamento e de abrigo de uma funo essencial para a manuteno das dinmicas urbanas: a oferta de um lugar para os mortos. Nesse sentido, este artigo apresentar uma abordagem do espao arquitetnico dos quinze conventos que compem o conjunto histrico destas casas no Nordeste do Brasil, indagando-se acerca de uma dimenso quase silenciosa nestes monumentos religiosos: o seu cotidiano ligado ritualstica da morte, expresso na materialidade da arquitetura. Planta baixa, disposio de cmodos, relao de reas vazias com edificadas, marcas no piso, elementos iconogrficos, configuram uma outra forma de ler o monumento. Estes conventos se destacaram na paisagem urbana, inicialmente pela sua massa edificada, em anttese com relao ao casario singelo, mas tambm pelos servios oferecidos, como aulas de gramtica e latim, no socorro s doenas, tambm pela funo cartorial e de apoio istrao pblica. Mas, conforme se destacar, seu protagonismo tambm se afirma ao oferecer a estrutura necessria preparao e acolhimento da Morte, tanto para os frades, quanto para os leigos, fato que contribui para sua afirmao junto sociedade, no perodo examinado, que vai do sculo XVI ao XIX.
O estudo se respalda na consulta na literatura da Ordem e em visitas aos conventos, tendo ficado demonstrado que a arquitetura conventual, desenhada para abrigar a vida dos frades, tambm acolhia as memrias da morte. Como uma narrativa edificada em pedra e cal, ali se ditava a lio da efemeridade da vida e das obrigaes a serem cumpridas at o dia do encontro com a Irm Morte. Alm do estudo da cultura da morte no Brasil Colnia, esse estudo oferecer um espelhamento para repensar os conventos hoje, quando, cada vez mais, seus traos so enfraquecidos e sua fora relativizada em um contexto contemporneo de laicizao e desritualizao.
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Carlos Rogerio Lima Junior (MAC USP)
A Repblica chora seus mortos. As imagens fnebres de homens pblicos no Brasil em fins do sculo XIX e incios do XX
Resumo:Em 15 de novembro de 1889, o Imprio no Brasil che...
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Resumo:Em 15 de novembro de 1889, o Imprio no Brasil chegava ao fim. De modo apressado, o governo provisrio republicano era organizado sob a chefia do Marechal Deodoro da Fonseca, acompanhado de um Ministrio que mesclava oficiais das foras armadas e homens civis. Curioso notar que, se por um lado, no perodo monrquico foram poucos os rituais fnebres ligados realeza que os sditos puderam acompanhar na Corte do Rio de Janeiro, - exceo seja feita para as exquias da Imperatriz Leopoldina, morta em 1826, e de alguns prncipes falecidos, como os filhos de D. Pedro II e da Princesa Isabel , por outro, os pais fundadores da Repblica brasileira morreriam poucos anos subsequentes implantao do novo regime, ainda na dcada de 1890. Deodoro faleceria em 1892, um ano depois da morte precoce de Benjamin Constant, e em 1895, seria a vez de Floriano Peixoto.
Se no Brasil, o governo republicano vestia-se de luto diante do desaparecimento abrupto de seus polticos, no outro lado do Atlntico, assistia-se igualmente a rituais fnebres cheios de pompas, uma vez que o ex-monarca D. Pedro II, exilado junto da Famlia Imperial em Paris, morreria em 1891, e sua esposa, Teresa Cristina, havia falecido em Lisboa em dezembro de 1889, praticamente um ms depois do banimento pelos republicanos. A dcada de 1890, neste sentido, assistiria a agem de muitas personalidades ligadas poltica (monrquica ou republicana) brasileira, cuja preservao (ou no) de suas memrias post mortem foi objeto de disputa por grupos polticos distintos. Esses rituais fnebres eram encenados em praa pblica diante dos olhos dos cidados. A morte do homem ligado ao Estado era revestida de todo um aparato solene que pudesse inscrever, por parte do regime poltico, uma narrativa sobre a vida daquele indivduo, a partir de sua morte.
A comunicao tem por objetivo discutir as fotografias, pinturas e demais es visuais, como gravuras e ilustraes, produzidas entre 1891 e 1912, que buscavam resguardar em seu interior a ltima imagem dos homens ligados vida pblica brasileira repousando em seus leitos de morte. Tais obras, antes de apenas remeterem aos vivos a lembrana desses sujeitos mortos, ensejavam, por sua vez, discursos visuais, na medida em que certos elementos eram acrescidos, e tantos outros tantos silenciados dentro da composio; escolhas simblicas deliberadas, cujas decises entre o que lembrar e o que esquecer estavam diretamente afinadas s problemticas em torno da vida pblica daqueles homens. Assim, tais imagens, produzidas sobre esse ltimo rito que demarcava o limiar da existncia - de sua presena -, no estavam isentas de ambivalncias quanto memria que se desejava preservar daquele indivduo e, sobretudo, de seu legado para a posteridade.
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Deuzair Jos da Silva (Universidade Estadual de Gois/Pontifcia Universidade Catlica de Gois)
SO MIGUEL E NOSSA SENHORA DE SANTANA: o cemitrio em Gois entre dois tempos
Resumo:A criao dos cemitrios tem uma clara ligao com...
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Resumo:A criao dos cemitrios tem uma clara ligao com as preocupaes sobre o sanitarismo em voga no oitocentos e que pera/prosseguem pela centria seguinte. A criao de espaos fora do mbito urbano destinado aos sepultamentos dos corpos era uma das prioridades das aes mdicas, enxergavam na criao dos cemitrios uma medida eficaz no combate de vrias enfermidades. O enterramento dentro das igrejas era uma prtica que remonta Idade Mdia e foi trazida para a colnia pelo colonizador branco. O mdico deveria curar os males e debelar as doenas mais enraizadas, intervindo diretamente no coletivo. As propostas de edificao do cemitrio So Miguel na cidade de Gois e, posteriormente, o Nossa Senhora de SantAna em Campinas coadunam-se com os enunciados de sade e sanitrios em voga. Meu objetivo compreender as atitudes postas em torno do assunto e o surgimento dos cemitrios, tomando como objetos especficos os referidos cemitrios. O estudo abarca a primeira e a atual capital de Gois. O fato de se concentrar nas duas principais cidades de seus tempos no invalida o estudo e, podem com cuidado na investigao e no exame das fontes oportunizar uma compreenso da histria de Gois. Tomo como ponto de partida na pesquisa a ltima metade do sculo XIX, momento em que finalmente inaugurado o cemitrio So Miguel em Gois, mais precisamente no ano de 1859. O SantAna surge no incio do seguinte na cidade de Campinas. Posteriormente em suas imediaes na dcada de trinta foi erguida Goinia, que depois acabou incorporando aquela que acabou por virar um bairro da capital contempornea. Observadas estas alteraes proponho neste interregno o fim do trabalho. Oportuniza-se aqui questionamentos que envolvem dois tempos. Como se comportava a populao num momento e noutro que compreende a segunda metade do sculo XIX e incio do seguinte frente s questes de sade e higiene. Circunscrito o tempo e o espao do estudo, a metodologia fundamentar-se- numa hermenutica dos projetos, justificativas, leis e decretos-leis, textos, buscando a sistematizao dos temas, debates, ideias e suas relaes com o devir da poca. Formando assim, atravs de um jogo interdiscursivo/intertextual os elementos de edificao dos debates em torno dos cemitrios e das novas posturas de sade e higiene. A partir dos anos 1950 a historiografia brasileira vem ando por mudanas, mas no transcorrer da dcada de 70, que essas alteraes so mais perceptveis. Observa-se a inaugurao de novas posturas terico-metodolgicas, fruto de transformaes internas e de um profcuo contato com correntes europeias. Ante a essas colocaes, espero que, ao final do estudo poder ampliar as bases de conhecimento da sociedade brasileira e goiana, em especial sobre esta ltima.
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Filipe Digo Cintra Machado (Colgio e Curso Bandeira)
Arqueologia Funerria no Cemitrio de Santo Amaro Jazigos e Signos da Elite Recifense na Segunda Metade do Sculo XIX
Resumo:INTRODUO
Pretendeu-se entender como os cemitri...
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Resumo:INTRODUO
Pretendeu-se entender como os cemitrios, enquanto espaos sociais, podem ser estudados para a compreenso de uma representao do ado e compreenso para com o presente. um local onde possvel retirar o embasamento espacial que reflete a sociedade que o envolve (Castro, 2008), possibilitando impresses e reflexos da sociedade em seus variados aspectos.
Tais questes so abordadas atravs dos aspectos representativos percebidos da anlise dos objetos materiais, os jazigos de Santo Amaro, compreendidos como uma representao deixada por aquela sociedade e que possibilita uma releitura de suas condies e um entendimento atualizado de como se comportavam.
Esta pesquisa teve como objetivo principal, compreender que grupos socioeconmicos esto representados no cemitrio de Santo Amaro na metade final do sculo XIX.
CONSIDERAES FINAIS
Das inovaes que se busca destacar, a mais significativa a interpretao da elite atravs de sua representao da morte. Essa anlise transcorreu sob a perspectiva do entendimento do artefato material dos jazigos e de sua localizao. Se buscou observar como esse aparelho urbano e social modificou a maneira de representar aquela sociedade recifense em suas representaes para com a morte.
A nova prtica social da venerao aos mortos, agora saa do interior das igrejas para os cemitrios extramuros, o que significou uma alterao tambm nos padres dos prprios sepultamentos e na forma na qual, a partir dele, as particularidades de cada indivduo ou de cada uma das famlias ganhou um significado aparente e diverso.
Os jazigos representam na sua maioria, grupos da elite agrrias e burguesa recifense daquele sculo. Contudo, outros grupos tambm eram sepultados em Santo Amaro, nos espaos a eles disponibilizados tanto nas covas rasas, quanto nos jazigos das irmandades.
Desta forma, o objetivo principal, compreender quais grupos socioeconmicos esto representados nos jazigos de Santo Amaro na metade final do sculo XIX, foi alcanado. Percebeu-se que a elite, ao transferir os sepultamentos das igrejas para o cemitrio, no se rebelou como ocorreu em Salvador, mas sim, acabou por se fazer representar nos jazigos de forma mais exuberante
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Luana Barros de Azevedo (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
O lugar dos mortos na cidade dos vivos: o cemitrio pblico e sua relao com a cidade de Jardim do Serid na segunda metade do sculo XX
Resumo:O presente trabalho prope pensar o cemitrio pbl...
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Resumo:O presente trabalho prope pensar o cemitrio pblico de Jardim do Serid a partir de sua construo (1858), e como se deram as mudanas nos ritos fnebres e na estrutura da cidade, tendo em vista que os discursos higienistas do sculo XIX relacionavam o lugar de enterramento como um sinal de perigo sade pblica, pois os interiores das igrejas, onde era feitos os enterramentos, tambm eram lugares de encontros religiosos e polticos, onde as pessoas costumavam se reunir. Foi a partir do sculo XIX que os cemitrios aram a ser extramuros, construdos distante dos centros urbanos, para que no houvesse o contato com a populao. Essa mudana do espao de enterramento gerou diversas discusses e, posteriormente, estudos a respeito das mudanas culturais da morte e morrer. A cidade utilizada no presente estudo foi Jardim do Serid, localizada no interior do Rio Grande do Norte que, desde 1858, permanece com um nico cemitrio, tendo este ado por duas ampliaes em sua extenso, sendo elas nos anos de 1958 a 1963, e a ultima em 1990. Atravs desse espao, buscou-se observar o contexto histrico da cidade, tendo em vista os ritos fnebres, a cultura material e a estrutura urbana. Assim, a partir das reflexes sobre os conceitos de experincia, espao e lugar, do gegrafo Yi-Fu Tuan, ligados s construes humanas atravs do tempo, buscou-se analisar a experincia como responsvel por sensaes distintas, ligadas memria e a cultura das pessoas. O interior do cemitrio foi entendido como um ncleo de valor sentimental, o lugar determinado; o espao, aquilo que circunscreve o cemitrio, ser discutido de forma mais abrangente. Por meio da experincia, as pessoas imprimem no lugar da morte os seus sentimentos, percepes, valores, memrias, tomando-o de modo ntimo. Trata-se de uma caracterstica prpria. Tomando como recurso utilizado por Michel de Certeau (1996; 1998), o espao foi entendido como forma que as pessoas individualizam a cultura, levando em considerao o conceito de experincia de Tuan (2013), foi possvel entender como se formam as particularidades culturais de uma regio, de um bairro, de uma famlia, tendo em vista seus valores, de acordo com as necessidades de seus agentes. Por esse motivo, as questes levantadas buscaram pensar o espao em que se encontra o cemitrio, sendo, a princpio, localizado margem do centro urbano, e como foi sendo inserido cidade, quando ele deixou de ficar distante, quando foi formado seu bairro, qual a particularidade das pessoas que moram e se essas questes estavam ligadas s polticas de urbanizao.
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Marcelina das Graas de Almeida (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS)
Itinerrios da memria: o cemitrio como espao simblico da paisagem da cidade -o Cemitrio do Bonfim e a capital mineira
Resumo:Belo Horizonte uma cidade moderna, nascida na vi...
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Resumo:Belo Horizonte uma cidade moderna, nascida na virada do sculo XIX, revelou-se, naquela ocasio como uma proposta nova em relao ao Arraial do Belo Horizonte, antigo ncleo colonial, local escolhido entre tantos outros e sobre o qual foi erguida a nova capital do Estado de Minas Gerais. Esta proposta perava desde a composio esttica - arquitetnica dos logradouros e prdios, bem como o perfil de seus moradores que, alm de serem novos e modernos, como a cidade, deveriam possuir novos hbitos e comportamentos naquilo que se relacionava ao convvio social. E neste convvio inclui - se a morte. E foi nesse contexto que o Cemitrio do Bonfim nasceu. Era parte do projeto. Nele podemos enxergar a mentalidade burguesa que norteou os princpios fundadores da capital. Atravs da avaliao de sua arquitetura, dos artistas - artesos que nele trabalharam e especialmente da arte tumular que nos possibilita enxergar signos e smbolos que revelam a contradio de uma sociedade que nascida sob a promessa dos princpios republicanos, acena para a promessa de igualar os mortos, convidando - os a ocupar o mesmo espao, mas promove a desigualdade a partir do instante que estimula a propriedade privada, via sepulturas de famlia, bem como a ostentao e demonstrao de fora e poder que se expressam na arte e arquitetura tumular. O Cemitrio do Bonfim foi, durante mais de quarenta anos, o nico espao de sepultamento da capital mineira e, nesse sentido, guarda a memria da cidade e de seus habitantes. Trata-se de um espao no qual diversas possibilidades de compreenso e debate acerca da memria se entrecruzam, perando pela memria individual, coletiva, social, celebrativa e cvica. Estas questes vm sendo exploradas atravs de um projeto de visitas guiadas ao espao, desde o ano de 2012, que possui como objetivo bsico propor uma discusso sobre a qualidade do acervo contido no espao cemiterial e suas potencialidades como lugar de educao patrimonial e cultural. Nesse sentido, associando a pesquisa e a atividade extensionista, so construdos roteiros e trajetos de memria, atravs dos quais possam ser compreendidos os diversos sentidos que cidade dos mortos estabelece com as cidades dos vivos, atravs da memria construda no lugar, seja pelos seus eternos habitantes, seja pela prpria memria coletiva que se projeta naquele lugar. Portanto, o propsito desta comunicao debater acerca dessas aes e, especialmente, debater acerca dos roteiros e trajetos que o espao nos permite construir e que iro compor um guia a ser disponibilizado para a comunidade em sua generalidade. O projeto conta com o apoio financeiro da Universidade do Estado de Minas Gerais e do Centro Universitrio Estcio de Belo Horizonte e parceria com o IEPHA e FPMZB.
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MARCELO JOS PEREIRA CARVALHO (Universidade Federal do Par)
Trazida pelas guas: representaes da morte no feminino em pintura de Antonio Parreiras.
Resumo:Ao adentrar na pinacoteca, em exposio permanente...
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Resumo:Ao adentrar na pinacoteca, em exposio permanente, do Museu do Estado do Par, em Belm, edifcio que outrora fora a Sede do Governo estadual, o espectador depara-se com monumental obra do pintor fluminense Antonio Parreiras (1860-1937), em cuja composio vislumbra-se o corpo de uma mulher, sobriamente trajado, deitado sobre as areias da praia, em ambiente que evoca extrema solido. Ao se aproximar do quadro, a impresso imediata se torna constatao: sim, ela est morta! Trata-se de A Morte de Virgnia, representao, em leo sobre tela, do final trgico da personagem do popular romance francs publicado ao final do XVIII, Paul et Virginie. Inspirando-se no naufrgio real ocorrido em frente ilha Maurcio, na costa oriental africana, Bernardin de Saint-Pierre (1737-1814), legou sua herona a imortalidade literria, e os pintores, a artstica em sucessivas verses pictricas ao longo do Oitocentos. Parreiras, entre a rebeldia artstica inicial das pinturas de paisagem ao ar-livre, e as encomendas estatais posteriores de pinturas com temas histricos gnero apreciado pelo Academicismo , reproduziu um olhar prprio sobre tal agem emblemtica daquele romance pastoral. Assim, herdara no somente essa tradio especfica, como a das representaes plsticas de outras mortes ou exquias igualmente romnticas, como a de Atala, de Chateaubriand (1768-1848), presente, inclusive, em produes acadmicas brasileiras. A tela em questo acabou sendo adquirida pelo Estado do Par para ornamentao do gabinete de despacho do governador, em 1905, aquando da agem do pintor pela capital paraense em perodo de efervescncia no crculo local das belas-artes, com outras exposies de artistas nacionais, como a de Baptista da Costa (1865-1926). Esse fato denota o interesse e a estratgia estatais em constituir acervos de obras de arte, como parte do programa civilizador em terras equatoriais. Por fim, propomos o dilogo entre A Morte de Virgnia e a tela de Manet (1832-1883), O Toureiro Morto (de 1865), como soluo de dinamismo composio da cena pintada, tambm problematizando o quanto Parreiras subverte e refora, ao mesmo tempo, as representaes sobre a morte no feminino, em especial pelas opes cromticas de que se valeu, e a insero do ambiente praiano, nesse contexto, como locus privilegiado de contemplao.
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Olindina Ticiane Sousa de Arajo
Receba Esta ltima Lembrana: Fotografias Morturias em Nova Palmeira-PB (1940-1950)
Resumo:Resumo
Pautando-se na necessidade de refletir s...
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Resumo:Resumo
Pautando-se na necessidade de refletir sobre a morte e o corpo morto, em Nova Palmeira-PB (1940-1950), este texto tem por finalidade, mediante a anlise de fotografias fnebres, pensar o ato de fotografar defuntos como uma prtica sociocultural cujo objetivo seria a perpetuao da memria do morto, denunciando, a partir de uma realidade possvel, a existncia da morte do outro para aqueles que possuem retratos morturios dos sujeitos conhecidos e familiares em lbuns de fotografias, caixas de sapatos, envelopes e demais lugares destinados a guardarem recordaes.
Introduo
Em algumas culturas a ausncia do ente querido a a ser representada por objetos pessoais e memrias iconogrficas. Afinal, diante da morte, como reter o corpo que desaparece diante dos olhos?
Pensar a morte e os lugares que a historiografia reserva para esta, torna-se um exerccio de investigao capaz de despertar necessrios entendimentos acerca dos espaos, conceitos, representaes, ritos e imaginrios agregados ao conjunto de prticas e atitudes diante da morte e do corpo morto.
Este trabalho resultado de um olhar inquietante a respeito de tantas imagens de defuntos entre os retratos de famlia, guardados como recordaes e, em outras circunstncias, doados aos esquecimentos ocultados pela saudade de seus guardadores.
Em termos metodolgicos, utilizou-se algumas fotografias, selecionando-as pelas caractersticas comuns e os tipos de elementos presentes nas cenas, correspondentes aos anos de 1940 a 1950, em dilogo com os referenciais tericos de Boris Kossy, Philippe Aris, Joo Jos Reis, e outros.
Discusses e Resultados
Durante a pesquisa, percebeu-se que no seria possvel delimitar as fotografias de mortos insolados ou de mortos e vivos sobre uma mesma circunstncia regio de Nova Palmeira, pois havia muitos retratos morturios que chegaram aos seus guardadores como objetos iconogrficos recheados por laos de afetividades e lembranas, s vezes, com dedicatrias de saudades e outras de um ltimo adeus.
Sendo assim, mesmo com estes detalhes anunciados, a inteno no foi realizar um trabalho sobre a antropologia da morte, mas estabelecer olhares mltiplos sobre os trajetos incorporados pela morte e o morrer, em Nova Palmeira, no sculo XX.
Consideraes Finais
Desta forma, pensou-se em historicizar estas prticas de registrar, receber e guardar retratos morturios em Nova Palmeira e a sua relao com os acontecimentos da cidade, alm de compreender esta atitude para com a morte e o morto como uma inveno cultural para perpetuar a memria dos que j se foram...Ou seja, os que romperam fisicamente a convivncia com seus pares e as maneiras de negar a morte.
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Priscilla Freitas de Farias (UFC)
A morte, to ansiosamente desejada, procurou-a Florbela Espanca por suas prprias mos: o suicdio, a modernidade e o saber mdico em Portugal no incio do sculo XX.
Resumo:Portugal, terra de saudade e melancolia, de alma d...
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Resumo:Portugal, terra de saudade e melancolia, de alma dolorosa e sonhadora, de esperana vaga e etrea, de pessimismo e sentimentalismo mrbido, caractersticas essas que atravessaram a gerao do final do sculo XIX e incio do sculo XX, cujo o contexto histrico foi marcado pela desiluso dos sonhos revolucionrios da Gerao de 70 e pela derrocada da Monarquia, o que resultou no crescente pessimismo de toda uma nao at a consumao final do agressivo suicdio coletivo de vrios intelectuais e artistas como um verdadeiro pice da tragdia portuguesa.
Dessa cultura ressentida que ps em evidncia os traumatismos sociais, nasceu a poeta portuguesa Florbela Espanca (1894-1930), quem vamos dedicar esse estudo, que viu toda uma gerao se entregar morte e, assim como uma boa romntica, tambm deixou-se morrer de desgosto, de dor e de amor. Florbela foi contempornea de um perodo marcado pela crise civilizacional e subjetiva de Portugal, cuja obra um testemunho real e autntico do desespero humano que reflete o mal-estar de sua poca. Florbela incorporou a misria do seu drama ntimo: amava a vida, mas desejava a morte, suicidando-se no dia 08 de dezembro de 1930, data que supostamente seria a celebrao do seu trigsimo sexto ano de vida.
O suicdio ainda tem sido um tema que gera muita resistncia, certamente pelo medo que a prpria morte gera em confronto com o ato de suicdio, o fato que at hoje a morte voluntria um discurso pblico parcial e, muitas vezes, considerado imoral. Dessa forma, partindo do pressuposto que o ato de suicdio e o sujeito que o pratica so historicamente e socialmente construdos, esse trabalho prope analisar a imagem do suicdio na vida e na obra de Florbela Espanca. Dessa forma, tomaremos como base os discursos mdicos sobre o suicdio desse perodo, em especial o trabalho de Manuel Larajeira, mdico e escritor portugus, interrogando como a medicina conformou aqueles que se suicidavam em sujeitos doentes, loucos e anormais, salientando o papel atribudo ao mdico, sua insero poltica e social, sujeito dotado de saber e, portanto, de poderes, produtor de discurso, de conhecimento e de sentidos acerca do suicdio.
Nesse trabalho, portanto, no pretendemos responder s problemticas dos estudos do mundo crtico florbeliano, mas fazer reflexes sobre o posicionamento do sujeito em relao ao mundo moderno. Nesse sentido, propomos no s entender como a medicina moderna e a sociedade portuguesa tratavam os suicidas; mas, sobretudo, analisar pensamentos, smbolos, metforas e/ou insinuaes acerca da morte que antecederam o suicdio de Florbela, indagando a relao estabelecida entre a modernidade e o suicdio, melancolia e morte diante da digresso das relaes sociais no incio de sculo XX em Portugal.
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Tiago Augusto Xavier de Souza (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
A casa, lugar de nascimento, educao e morte: as fotografias como representao de vida nas famlias oitocentistas
Resumo:O estudo trata da histria da fotografia no Brasil...
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Resumo:O estudo trata da histria da fotografia no Brasil do sculo XIX e atravs dessas imagens e da bibliografia possvel perceber a centralidade da casa como o lugar que abriga diferentes ritos, o de nascimento, o de educao e, por muitas vezes, o de morte. O artigo se debrua sob uma tcnica que surge na Inglaterra Vitoriana, prometendo eternizar a vida do ente querido, mesmo depois que ele j no habitasse naquele corpo. Busca evidenciar, ainda, dados importantes para compreendermos o contexto em que a fotografia ganha um significado de eternizao da vida na Corte Imperial, a cidade do Rio de Janeiro, a mortalidade infantil era muito alta e o recenciamento relativo ao ano de 1872, demonstra que, aproximadamente, 37,23% das crianas morriam antes dos sete anos. Em um plano mais especfico analisa-se um perodo no qual a mortalidade infantil atingia ndices elevados, sendo pautado por uma morte domesticada e o apego ao corpo, sem vida, o que levaram vrias famlias a recorrerem a essa tcnica, a fim de se recordarem daquele ser com vida, mesmo sendo registrada a sua imagem aps a morte. Nesse cenrio, com a relativa popularizao da fotografia, algumas famlias copiavam o hbito em moda na Inglaterra vitoriana de, aps a morte das crianas, prepararem-nas, como se vivas estivessem, para um retrato, a fim de eternizar aquela imagem, como prometiam os anncios dos fotgrafos que realizavam esse trabalho post mortem. Nessa perspectiva, a pesquisa se caracteriza como um estudo histrico-documental, que tem como procedimentos metodolgicos a investigao em diferentes fontes, especialmente imagens fotogrficas e iconogrficas do perodo, representativas de trs momentos significativos retratados da infncia oitocentista: nascimento, educao feminina e morte. Com fontes da iconografia recolhidas em acervos de casas de guarda e patrimnio, estabeleceu-se um dilogo com os referenciais tericos de autores como Reis (1991), Rodrigues (1997), Lavelle (2003), Vailati (2006), Schmitt (2010), Borges (2011), Paiva (2015). Partindo da premissa que durante a primeira infncia, as crianas avam a maior parte de suas vidas, exclusivamente, no ambiente das prprias casas, a fotografia uma inveno recm-difundida no pas , foi usada como forma de eternizar a imagem, notadamente, daquelas que no sobreviviam. Alm disso, a iconografia revela que a boa educao feminina era pautada pela busca dos padres europeus de comportamento, entre eles falar francs, tocar instrumentos musicais, e obter o mnimo de aprendizagens permitidas e consideradas adequadas mulher oitocentista. Portanto, a moda europeia de fotografar as crianas e adultos aps a morte, vai encontrar no Brasil, a mesma acolhida como modelo para as classes mais abastadas da populao.
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